Joana Queiroz Ribeiro
Filha de juíz, passou a infância e adolescência a saltar de cidade em cidade. Esta vida de saltimbanco habituou-a a adaptar-se à mudança e a ter facilidade em estabelecer novas relações, características que viriam a revelar-se utilíssimas na vida profissional desta engenheira alimentar que não consegue estar parada – até parece que tem bichinhos carpinteiros
Uma engenheira e cervejeira
que tem bichinhos carpinteiros
Idade: 44 anos
O que faz: Directora de Pessoas e Comunicação da Unicer
Formação: Licenciada em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia da Católica (1989) e pós graduação em Ciência Cervejeira, feito em Louvaine, na Bélgica
Família: Casada, tem uma filha de 15 anos, a Francisca, que quer ser arquitecta
Casa: Andar nas Antas, Porto
Carro: Carrinha Mercedes C 220
Telemóvel: Nokia E 52
Portátil: HP
Hóbis: Ler, passear, viajar, poder ter tempo para não fazer nada
Redes sociais: Facebook e Linkedin
Férias: Todos os Verões, fazem15 dias de férias na casa que têm em Caminha, onde também vão passado alguns fins-de-semana ao longo do ano. Ao Algarve é raro irem. As férias internas são sempre complementadas com uma viagem pelo estrangeiro. O ano passado andaram pela Toscana, Há dois anos pelos Castelos do Loire. Este ano o projecto é irem a Goa
Regras de ouro: O comboio não passa duas vezes
Quando vivemos o momento mais decisivo das nossas vidas raramente nos damos conta disso. No Verão de 1983, Joana estava de férias na Quarteira, sem saber o que fazer à vida, pois a sua média no 12º revelara-se curta para ir para Medicina.
“Olha, se fosse a ti olhava para este curso que está aqui anunciado”, disse-lhe um daqueles amigos de família que nos habituamos a tratar por tios, enquanto lhe passava o Expresso para a mão. Sentiu-se logo atraída pela licenciatura em Engenharia Alimentar que a Católica iria iniciar no Porto.
“Fiquei convencida. Combinava novidade, desafio e risco”, explica Joana, 44 anos, a mais velha dos três filhos de um juiz desembargador. Começara por sonhar ser médica, provavelmente por influência das bonitas histórias que ouvira do seu avô paterno, um médico de Valença de coração generoso (não cobrava aos doentes pobres).
O curso, que estreou com mais 23 colegas, não a desiludiu. Tinha muitos professores estrangeiros. O ambiente era bom. As matérias entusiasmavam-na. Ainda estudava quando começou a aplicar os conhecimentos durante um estágio na conserveira Amorim, da Póvoa de Varzim, onde ganhou dinheiro para comprar o primeiro carro: um Fiat Uno preto.
Era uma copinho de leite, que só tocava em cerveja durante a Queima, quando agarrou com ambas as mãos a oportunidade de fazer uma pós-graduação na Bélgica em Ciências Cervejeiras, patrocinada pela Unicer, uma das fundadores da Escola Superior de Biotecnologia.
Não ficou atrapalhada por viver sozinha para Louvaina, onde não conhecia ninguém, e estudar numa língua (o francês) que não sabia falar. Desde pequena que estava habituada a mudar de cidade, adaptar-se a novas escolas e a fazer novas amizades, pois passou a infância e adolescência a saltar sempre de um lado para o outro, acompanhando os destacamentos do pai. Nasceu no Porto, mas viveu em Lisboa e Loulé, antes de começar em Castelo de Vide a primária que concluiu em Felgueiras, onde iniciou o secundário, que continuaria em Cascais e acabou no Porto.
Esta vida de saltimbanco habituou-a a adaptar-se à mudança e a ter facilidade em estabelecer novas relações, características que lhe ficaram tatuadas no carácter e se viriam a revelar-se utilíssimas.
Regressada da Bélgica, foi logo trabalhar para o Departamento de Qualidade Industrial da Unicer, onde ficou responsável pelo projecto de certificação de qualidade da empresa.
Este processo desenvolveu-lhe a capacidade de comunicação e permitiu-lhe ficar a conhecer por dentro e por fora as pessoas e processos da cervejeira. No final, com a Unicer certificada, passou a acumular a responsabilidade do sistema de garantia de qualidade com a comunicação interna e externa.
A chegada de Ferreira de Oliveira à liderança foi sinónimo de maior exigência mediática, pelo que Joana passou a concentrar-se na comunicação. Com António Pires de Lima, teve de mais uma vez se adaptar. A Unicer emagreceu para sobreviver e prosperar nos novos e difíceis tempos, o que a obrigou a um esforço suplementar de comunicar, externa e internamente, “de forma transparente e autêntica” ,“um processo muito duro” de dispensa de cerca de 700 pessoas.
Concluído o downsizing, passou a acumular Comunicação e Recursos Humanos numa direcção que rebaptizou de Pessoas e Comunicação, instalando-se simbolicamente com gabinete com paredes de vidros. “Transparência é um ponto. Ser verdadeiro é um ponto”, explica.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias