Eduardo Cevasco
Nascido em Puerto Deseado, na Argentina. Jogou rugby e fez-se engenheiro. Começou por construir casas e silos de armazenagem, antes de se iniciar nas artes do Marketing com a Black & Decker, que o trouxe para a Europa e onde esteve até que os dinamarqueses da Dyrup em acharam por bem aproveitar o seu talento para gerir pessoas
O gestor da Patagónia que gosta
de trabalhar com pessoas felizes
Idade: 51 anos
O que faz: presidente Dyrup Ibérica
Formação: Licenciado em Engenharia Civil (1985), pela Universidade de Buenos Aires, fez um MBA na Deusto University (1994), e tem pós graduações em Marketing Management (ESADE, Barcelona, 1999) e Gestão (Insead, 2004)
Família: Casado com uma bióloga (Ursula). Têm um cão, golden retriever, chamado Toffee
Casa: Moradia em Sant Cugat del Vallès, Barcelona
Carro: Subaru Outback, “é um carro fantástico”
Telemóvel: iPhone
Portátil: Dell
Hóbis: Como nunca deixou de ser um amante do rugby, não falha na televisão um jogo do Torneio das Seis Nações. Quando lhe perguntamos qual é a melhor equipa de rugby do Mundo ele responde, sem pestanejar: “Os Pumas” (selecção argentina), mas acrescenta que “os All Black também fazem um bom trabalho…”. No Inverno gosta de esquiar (“Tenho boas pistas a hora e meia de casa”). Também adora fazer BTT aos fins de semana
Férias: Tem como rotina ir em Outubro à Argentina (onde é sócio do irmão num colégio), visitar família e os amigos – que brincam com ele, dizendo-lhe que “fala como um galego”. Em Agosto gosta de alugar um barco e navegar entre ilhas
Regra de ouro: “Respeitar as pessoas. E não só no aspecto formal, como por exemplo não gritar com elas. Temos de respeitar os desejos, as ambições e as capacidades das pessoas com que trabalhamos e convivemos. Isso torna a vida mais fácil para todos”
Um pouco por todo o mundo - mas fundamentalmente na Argentina, Dinamarca (onde bate o coração da Dyrup), Espanha e Portugal – há uma data de gente que dá graças a Deus pela presença de espírito revelada pela mãe de Eduardo, quando o filho, então com 22 anos, lhe apareceu pela frente, a rebentar de fervor patriótico, e anunciou a intenção de se alistar nas forças armadas para combater na guerra das Malvinas. “Ou te matam os ingleses ou te mato eu”, declarou a mãe, educadora de infância, cortando-lhe cerce os propósitos guerreiros.
A ideia de Eduardo não era tão desajustada como pode parecer. Ao fim e ao cabo, ele nasceu e cresceu em Puerto Deseado, a pequena localidade de nove mil habitantes, em plena Patagónia e em frente às Malvinas, que o pai médico escolheu para viver (em alternativa a Los Angeles), quando acabou Medicina em Buenos Aires, a sua cidade natal.
“Num raio de 300 km, não há nada à volta. E Buenos Aires fica a oito/nove horas de avião”, recorda Eduardo, que aos onze anos foi estudar para a capital, onde se apaixonou pelo rugby, que jogou até aos 35 anos, como 2º linha, posição onde se exige força para estar sempre a lutar pela posse de bola – “Essa é a história da minha vida”, desabafa Eduardo, que emana uma sensação de força tranquila.
No auge da sua carreira, chegou a receber convites para jogar rugby como profissional em Itália, que recusou pois fazer bem o curso de Engenharia era a primeira das suas prioridades. “O meu pai teria gostado que eu fosse médico, mas impressionava-me ver sangue, gostava muito de Física e era bom a Matemática”, explica Eduardo, que sempre gostou de futebol, mas tem a mania de ser do contra. Na Argentina, como o River Plate é o clube das elites, ele torce pelo popular Boca Juniores. Em Espanha, como vive em Barcelona, é adepto do Real Madrid.
Durante o curso, feito em plena época de hiperinflação na Argentina, ganhava os seus dinheiros dando explicações de Matemática e topando a todos os biscates, incluindo pintar casas, o que até se pode interpretar como premonitório da sua actual ocupação.
Acabada a licenciatura, dedicou-se à construção de escolas e de silos de armazenagem de cereais e líquidos, antes de ir para a Black & Decker, onde era director de Marketing e estava há pouco mais de um ano quando aceitou ocupar idênticas funções na subsidiária espanhola daquela multinacional norte-americana.
Foi em 1996 que atravessou o Atlântico e fixou o centro de gravidade da sua actividade na Europa. Após quatro anos na Black & Decker, agarrou com ambas as mãos a oportunidade que lhe ofereceram de ser o director geral da Dyrup Espanha. Até aí, o essencial da carreira tinha sido comercial. Queria testar a sua capacidade para gerir uma fábrica.
O teste resultou tão positivo, que em 2005 os dinamarqueses entregaram-lhe a direcção da filial portuguesa, que pesa o dobro da espanhola – dos 45 milhões de euros de facturação da Dyrup Ibérica, Portugal contribui com 30 milhões.
“O que tem mais valor é a capacidade de gerir pessoas. Não sei se é o que eu faço melhor, mas o que mais gosto de fazer é relacionar-me com a pessoa para obter o melhor de cada um”, explica Eduardo, um argentino da Patagónia, que acredita que pessoas felizes trabalham melhor e rendem mais e um adepto do bom senso – só lamenta que “senso comum não seja tão comum como isso…”
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias