Os cinco estarolas no clube dos totós
Até simpatizo com o Sporting, provavelmente por causa do equipamento, que fica lindamente em relvados bem tratados (não é o caso do de Alvalade…), em particular nos jogos nocturnos. No género vintage, também acho graça à camisola Stromp, mas esgotam-se aqui os factores de atractividade de um clube que teima em mimetizar o que Portugal tem de pior.
Há coisa de cinco anos, quando conheci José Eduardo Bettencourt, num curso no INSEAD, fiquei com a ideia de que era um óptimo comercial, opinião favorável reforçada quando Horta Osório, o Mourinho da banca, o promoveu a administrador do Santander Totta.
Pena que tenha arruinado a reputação em ano e meio com presidente do Sporting. Perdeu quota de mercado (medida em sócios pagantes e média de assistências em Alvalade) e apesar de, em 18 meses, ter investido 27 milhões de euros em 18 jogadores, não conseguiu um único titulo e aprofundou a estratégia suicida de contratar ex-craques caros e vender, ao desbarato e antes do tempo, as jovens promessas formadas na Academia.
Os cinco directores desportivos (Pedro Barbosa, Sá Pinto, Salema Garção, Costinha e Couceiro) e quatro treinadores (Paulo Bento, Carvalhal, Paulo Sérgio e Couceiro) que desfilaram no seu curto consulado são a prova dos nove de uma gestão errante, cuja incoerência ficou demonstrada no episódio da transformação de João Moutinho de “maçã podre” (Julho) em “profissional fantástico” (Novembro).
Bettencourt é bom nos soundbytes mas carregará para sempre a cruz de ter conferido à eternidade a dimensão do efémero (meio ano depois do “Paulo Bento forever”, o treinador foi despedido) e de sair de cena sem revelar quem é o Herri Batasuna do Sporting.
Neste Outono da dinastia Roquette (inaugurada há 16 anos por Santana Lopes), também não ficam bem na fotografia os sócios e os cinco estarolas que se candidataram a gerir o clube dos cinco violinos.
Seis meses após ter sido eleito com 90% dos votos, Bettencourt já estava a ser fisicamente ameaçado por adeptos, que nitidamente subavaliou ao classificá-los como “uma minoria de cretinos”.
Abrantes Mendes pode pecar por excesso quando afirma que o Sporting é “um clube de totós”, mas arrepia ouvir o provável futuro presidente do clube (etiquetado de “Vale Azevedo de 3ª” por Godinho Lopes) dizer que ex-Pides chegaram a ministros após o 25 de Abril.
Convinha ao país olhar-se ao espelho do Sporting e ver que há três meses, quando da convocação das eleições antecipadas, o clube lutava pela Taça da Liga e Liga Europa, e tinha 28 pontos. No entretanto, ficou fora de todas as competições, só somou mais dez pontos - e está a 30 do meu clube. Vale a pena pensar nisto.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias