2 conselhos de Homer e 3 aflições minhas
Num episódio dos Simpsons, Homer dá ao seu filho Bart dois conselhos que ajudarão a navegar com sucesso na vida.
O primeiro é repetir a frase “Boa ideia, chefe”. Belíssimo conselho! Nunca ouvi ninguém a queixar-se de que abusar da graxa lhe prejudicou a carreira - e é mais provável conhecer um marciano verde do que um chefe insensível à bajulação.
O segundo consiste em responder, num tom educado mas firme, “Quando cá cheguei já era assim”, sempre que questionado por um superior sobre determinado procedimento. Outro conselho magnífico, que bebe a sabedoria no dizer popular “a culpa morreu solteira”.
A falta de fruta no hotel de Moscovo onde esteve hospedada a Selecção Nacional, na véspera de um jogo de apuramento para o Euro 84, foi a explicação dada pelo mítico (e falecido) guarda redes Bento para a derrota copiosa de 5-0 que nos foi infligida pela URSS.
Não estamos culturalmente treinados a assumir as responsabilidades pelos nossos erros. Pelo contrário, somos muito bons a inventar desculpas e a sacudir para costas mais largas a culpa dos nossos fracassos.
Da última vez que o PSD ganhou as legislativas, a primeira coisa que Durão Barroso fez foi cunhar o famoso soundbyte “O país está de tanga”, uma tentativa mais ou menos bem sucedida de atirar para cima do guterrismo a responsabilidade pela decisão de elevar a carga fiscal – depois de ter passado a campanha eleitoral a jurar que não aumentaria os impostos.
Este péssimo hábito de sacudir a água do capote anda normalmente de mão dada com um outro não menos nojento: a mais completa ausência de frontalidade. Apesar de não ser fã de reuniões, esforço-me sempre por nunca faltar a nenhuma, pois estou careca de saber que estar ausente é um convite a dizerem mal de nós.
(Ora aqui está matéria prima para mais conselhos de Homer a Bart: Nunca faltes a uma reunião e antes de dizeres mal de alguém certifica-te primeiro se ele não está presente).
Servem estes desabafos para explicar que neste período pré-eleitoral o que mais me aflige é ninguém estar a pensar o que é preciso fazer - mas sim em quem culpar pela situação em que estamos atolados.
Aflige-me também saber que, em média, a despesa cresce o dobro em ano de eleições – a fonte é um livro do insuspeito Nogueira Leite, que aponta 1991 (Cavaco) e 2009 (Sócrates), como os anos de maior despautério.
Afligem-me também as conclusões do estudo de Pedro S. Martins (Queen Mary University), que abrange o período 1980-2008 e demonstra que as contratações do Estado aumentam significativamente antes e imediatamente depois das eleições - não se registando neste particular qualquer diferença entre o comportamento do PSD e do PS.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias