Cristóvão Cunha
Uma maravilhosa máquina de calcular Casio, em que tropeçou quando passeava em Oxford Street, mudou por completo a vida de um jovem adolescente que sonhava ser engenheiro químico. Trocou as experiências num laboratório doméstico pela iniciação, em regime auto-didacta, nos segredos da programação Basic. Nascia um empreendedor na área das novas tecnologias, que nem Jardim Gonçalves conseguiu desencaminhar
O miúdo que se apaixonou por
uma máquina de calcular Casio
Idade: 46 anos
O que faz: Director geral Voxtron Ibérica
Formação: Licenciado em Engenharia de Sistemas Decisionais, pela Cocite, em 1987, formação de base a que acrescentou cursos nas áreas da Gestão e Marketing Relacional
Família: Casado, tem três filhos (15, 13 e 12 anos), sendo que a mais velha quer ser médica como o bisavô
Casa: Andar em Sete Rios, Lisboa
Carros: Audi Q 7 e um Mercedes SLK descapotável
Telemóvel: iPhone
Portátil: Mac Book Pro (é um fã da Apple)
Hóbis: Joga ténis pelo menos três vezes por semana, entre o CIF e o Clube 7 (onde faz ginástica regularmente, em especial aulas de alongamento). Está a preparar-se para voltar ao golfe. E gosta muito de viajar
Férias: Miami (Palm Beach) e Algarve (o Sheraton Pine Cliffs, “vou para lá há 16 anos, é como se fosse uma segunda casa”) são os seus dois sítios preferidos para fazer praia. Dos seus planos de curto prazo, fazem parte um safari no Kruger, com os filhos, e uma viagem romântica às Maldivas com a mulher
Regra de ouro: “Corpo são, mente sã. Se por causa da chuva diminuo a carga de exercício físico noto logo que o meu raciocínio fica mais lento, menos musculado”
O clique deu-se algures em Agosto de 1980, quando parou na montra de uma loja de Oxford Street, com o olhar preso numa calculadora Casio. Foi coup de foudre. “Apaixonei-me logo por aquela máquina cheia de botões”, conta Cristóvão.
Passou fome nos últimos dias da viagem a Londres dos finalistas do Liceu Camões, pois torrou na compra da máquina de calcular quase todo o dinheiro que tinha. E não descansou enquanto não descobriu as funções de cada um das teclas. A informática estava num ponto de viragem. Estava a acabar a era dos cartões perfurados. E na sua espantosa Casio, em regime de absoluto auto-didactismo, iniciava-se no maravilhoso mundo da programação Basic.
“Fiquei fascinado”, confessa. Mudou logo a agulha do percurso académico. AC (antes da Casio) queria ser engenheiro químico e divertia-se em casa a fazer experiências num laboratório. DC matriculou-se em Engenharia de Sistemas Decisionais.
Mais velho dos três filhos do casamento de um quadro da Nestlé com uma húngara que conhecera em S. Paulo (onde família se refugiara após a tomada de poder pelos comunistas), Cristóvão nasceu no Porto, mas cresceu nas avenidas novas, em Lisboa, atravessando a adolescência a frequentar o Apolo 70 e o Imaviz, entre sessões de cinema no Monumental.
Revelou-se bastante venturosa a mudança da Química para a Informática, operada pela Casio, que lhe proporcionou notas altíssimas a todas as cadeiras de Estatística e Matemáticas Aplicadas até que, no 3º ano, colegas invejosos fizeram queixa dele aos professores, que desconheciam ser possível ter as fórmulas todas alojadas na memória da máquina…
Rapidamente começou a converter os conhecimentos em dinheiro. Ainda universitário, já orientava formação, prestava serviços de consultadoria e dava os primeiros passos como empreendedor, fazendo jogos para o ZX Sprectrum, que depois vendia nas lojas.
O negócio das cassetes de jogos (com capas bonitas, ilustradas fotografias de naves espaciais e outras coisas do género, pois ele já tinha a noção da importância do marketing) prosperou ao ponto de ter de por o irmão (engenheiro mecânico e professor no Técnico) a trabalhar para ele – e permitiu-lhe comprar, quando andava no 4º ano, o seu primeiro carro, um Fiat Uno 55 S, branco, com jantes especiais e vidros fumados.
Acabado o curso em 1987, foi muito requisitado para orientar a avalanche de acções de formação financiadas pelo Fundo Social Europeu e tinha já uma boa carteira de clientes quando um dia, a jogar golfe em Belas, foi desafiado pelo parceiro (um engenheiro chamado Jorge Jardim Gonçalves) a embarcar na aventura da fundação do BCP.
Terrível dilema, que o torturou até se decidir a ficar com os clientes e continuar empresário desenvolvendo vários negócios nas áreas da tecnologia e informática, o mais recente dos quais é a comercialização na Península Ibérica dos sistemas inteligentes de contact center fabricados na Bélgica pela Voxtron, um software aberto que corre em equipamentos de diferentes marcas e dá inteligência às centrais telefónicas.
“Quando uma ATM fica sem papel, notifica logo o nosso sistema, que automaticamente liga ao responsável por aquela máquina informando-o do que está a acontecer”, exemplifica Cristóvão, acrescentando que o grande valor acrescentando do sistema Voxtron consiste em dispensar a telefonista e fazer com que o telefone passe a ser parte integrante da gestão da empresa.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias