Andreia Jotta
O que está a dar no franchising é, em primeiro lugar, o negócio de compra e venda de ouro. O que faz todo o sentido. O ouro é o valor em que historicamente todo o mundo se refugia em tempos de crise e de incerteza como aqueles em que vivemos. Quem tem ouro e precisa de dinheiro vai vendê-lo. Quem tem dinheiro para aplicar compra ouro. Este movimento levou a cotação do ouro a ultrapassar os 1500 dólares a onça e há analistas a prever que atinja os 2000 dólares.
Só em 2010, a rede Valores, um conceito português nascido há três anos em Braga, foi acrescentada por 60 novas lojas, abertas em regime de franchising, que fazem surf em cima da acelerada mudança de mãos do ouro das famílias.
Logo a seguir ao ouro, os cuidados estéticos são o sector mais procurado pelos portugueses que recorrem ao franchising para abrir um negócio. O que volta a fazer todo o sentido. Todos os economistas sabem que as vendas de baton disparam nos momentos de crise, porque as mulheres sentem que devem caprichar ainda mais no seu aspecto - e fica muito mais barato chamar a atenção para uns lábios atraentes do que comprar um vestido novo.
O negócio do franchising é dos que melhor tira partido da crise e por isso ostenta invejáveis indicadores de crescimento. No ano passado, o volume de negócios do sector (12.044 unidades, de 570 marcas) cresceu 450 milhões de euros, passando a valer 3,1% do PIB, e criou 3.600 novos empregos.
“Há cada vez mais pessoas a usarem o franchising para criarem o seu próprio emprego”, explica Andreia Jotta, 35 anos, directora do Instituto de Informação em Franchising (IIF), uma organização privada que além de recensear o sector e editar a revista Negócios e Franchising, também promove, anualmente, duas feiras e encontros, para atribuição de prémios e troca de experiências.
Licenciada em Relações Internacionais pela Autónoma de Lisboa, Andreia passou pela Unesco, a Comissão Euro do Ministério das Finanças, e a formação e organização de conferências antes de aterrar no grupo francês IFE, que, entre outras coisas, edita a Teleculinária e há três anos comprou o Instituto de Informação em Franchising (IIF).
Andreia apareceu sem adornos de ouro (e usando um baton discreto) no Green Pepper o restaurante da José Malhoa que escolheu por duas razões: fica próximo da sede do IIF e é ovo-lacto-vegetariano.
“Não sou exactamente vegetariana. Como frango e, muito de vez em quando, vaca. Porco é que nunca”, explicou a directora do IIF, que acompanhou o buffet de quentes e frios com sumo de laranja e beterraba – e não tomou café.
O almoço serviu para perceber porque é que até o aumento de desemprego é benéfico para o desenvolvimento do franchising. Só no ano passado, cinco mil portugueses aproveitaram os incentivos ao auto-emprego, recebendo à cabeça todo o subsídio de desemprego a que tinham direito para abrirem um negócio.
“Nunca houve tanto interesse pelo franchising. Muitas pessoas recorrem a ele para minimizarem o risco, já que arrancam com um modelo de negócio já testado e beneficiam logo à partida de formação e apoio”, explica Andreia.
Além de ser mais rápido abrir um negócio obtendo um franchise, as estatísticas garantem que também está a aumentar as probabilidades de a coisa dar certo. De acordo com Andreia, a taxa de sucesso de um novo negócio em franchising varia entre os 80% e os 90%, percentagem que, nos novos negócios independentes, cai para o intervalo 20% a 40%.
Como o financiamento é muitas vezes o único entrave à abertura de um negócio, a tendência é para os donos das marcas (franchisadores) subirem o standard de exigência para conceder uma licença mas baixarem o nível do investimento inicial.
Para aspirar a abrir um McDonald’s é preciso ter 450 mil euros em carteira, mas com três mil euros já se pode tornar um Mr Electric (dono de uma área geográfica exclusiva para usar a marca e proceder a trabalhos de electricista e reparações de electrodomésticos e) e se tiver 3500 euros já pode ter uma loja Optimus Negócio.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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Green Pepper
Avenida José Malhoa 148, Lisboa
2 Buffets de quentes e frios …13,90
4 Sumos de laranja e beterraba … 7,40
1 café expresso …0,75
Total … 29,45
Curiosidades
Se fosse abrir agora um negócio, Andreia escolheria um franchise tipo Comfort Keepers, por apostar num aumento da procura da prestação ao domicílio de cuidados de enfermagem, higiene pessoal e de alimentação a idosos
A maior rede de franchising em Portugal é a Optivisão, seguida da ReMax e Multiópticas. O panorama varia de país para pais. Em Espanha, quem lidera são as redes de distribuição e restauração. Em França, cadeias de artigos de decoração para cozinha, como a Genevieve Lethu, têm um enorme impacto. E em Itália a liderança é dividida pelas lojas de iogurtes gelados e as de estética
A Melom, um conceito formatado por Manuel Alvarez (que, com Beatriz Rubio, detém o master franchise para Portugal da ReMax), é um bom exemplo de um dos segmentos que está a conhecer uma procura mais explosiva – o de reparações e obras domésticas, de remodelação ou manutenção