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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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O estranho caso da Loja Mozart

Ficamos a saber, pelo "Expresso", que os serviços públicos de espionagem, pagos por todos nós, andam a fazer concorrência desleal aos pobres dos detectives privados

Fanático por livros policiais, sempre tive uma enorme admiração pelos detectives privados. Por todo o tipo de detectives privados, desde o pioneiro Sherlock Holmes até aos clássicos Hercule Poirot e Philip Marlowe, passando pelo menos convencional Pepe Carvalho e a imbatível dupla Nero Wolfe/Archie Goodwin. Todos estes, mais uma data deles, ocupam um lugar de destaque no meu panteão privado de heróis.

Tenho para mim que ao contrário do que acontece nos outros géneros literários, em que a imensa imaginação e enorme talento dos autores raramente conseguem superar a surpreendente riqueza da vida quotidiana, no caso da literatura policial a ficção costuma ser muito mais sexy que a realidade.

Na minha geração, as miúdas sonhavam ser hospedeiras da TAP ou veterinárias e os miúdos queriam ser astronautas ou futebolistas. Apesar de lermos de um só fôlego todos os livrinhos da colecção Vampiro (com maravilhosas capas de Lima de Freitas) que nos apareciam pela frente, não me lembro de ter tropeçado em alguém que aspirasse ser detective privado.

Nunca chegaram para encher sequer 1/4 de coluna de jornal os anúncios de detectives privados a oferecerem os préstimos a uma clientela estreita, que presumo se resumia a maridos ciumentos e a mulheres convencidas de que as provas de infidelidade recolhidas renderiam, em termos de pensão de divórcio, o suficiente para darem o dinheiro como bem gasto.

A vida real dos detectives privados nunca foi fácil. Com o abuso das SMS e vídeos para o YouTube, e as inconfidências feitas no Facebook e no Twitter, a privacidade foi sacrificada no altar do progresso tecnológico - e os detectives privados passaram a ser tão procurados como as dactilógrafas.

Como se isso não bastasse, ficamos ontem a saber, pelo "Expresso", que os serviços públicos de espionagem, pagos por todos nós, andam a fazer concorrência desleal aos pobres dos detectives privados.

Por razões não explicadas (mas que não custam a adivinhar), o camarada Paulo Santos, gestor da Ongoing África, precisava de obter umas informaçõezinhas sobre o passado e os negócios do ex-marido da sua mulher. Pôs os pés ao caminho, navegando furiosamente na Internet? Não! Contratou um detective privado? Não.

Em vez disso, pediu ajuda ao irmão da Loja Mozart (que, ao contrário do que possa pensar-se, é uma estrutura da Maçonaria e não uma loja de bombons ou instrumentos musicais) que até há bem pouco tempo foi chefe da Secreta.

Como os amigos são para as ocasiões, Jorge Silva Carvalho accionou a carteira de contactos nos serviços de informação para satisfazer a curiosidade do colega, irmão e amigo.

Todas as histórias têm uma moral. É só encontrá-la. Nesta história, não é preciso ser o comissário Maigret para a descobrir.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

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