O tzaziki requer paciência
Há dois pratos típicos gregos, muito saudáveis, que acho deliciosos e aprendi a confeccionar. Não estou a falar da moussaka (apesar de nada me mover contra as beringelas, antes pelo contrário) nem do souvlaki, mas sim da salada grega e do tzatziki - não confundir por favor com os iogurtes gregos do Continente, que são porreiros mas se distinguem apenas dos iogurtes normais por usarem leite gordo como matéria-prima.
A salada grega é bastante simples e rápida de fazer. A base é constituída por tomate (não muito maduro, de preferência), pepino e queijo feta (que está a aparecer no Lidl a preços bem em conta) cortados em cubos, temperados com sal e coentros qb, regados a gosto por um azeite transmontano e generosamente adicionados por azeitonas (recomendo vivamente as kalamata, disponíveis no El Corte Inglés).
Um caso bem mais complicado é o do tzatziki, bem mais exigente em mão-de-obra e tempo que a salada grega, que se põe pronta em cinco minutos.
No tzatziki, antes de ser picado, o pepino tem de ser completamente descascado e limpo das sementes. O dente de alho tem de ser ralado. E quer os iogurtes naturais quer o pepino picado devem ser deixados a escorrer durante umas três ou quatro horas, em filtro de papel ou de pano, para se libertarem do respectivos soros (ambos bebíveis, garanto-vos). Depois é só misturar as pastas de pepino e iogurte, mexer, enquanto se junta o alho, um fio de azeite e umas gotas de limão.
É preciso ter paciência para preparar iogurte grego. Também é preciso ter muita paciência para aturar os gregos e eu sei do que falo porque naquela tarde infeliz de 4 de Julho de 2004, ao minuto 57 da final do Euro, apanhei um banho de Carlsberg morna sem álcool, proveniente de um copo atirado para o ar por um grego que estava sentado alguma filas acima de mim na bancada do Estádio da Luz (nunca perdoarei esse momento ao Scolari e ao Ricardo).
Angela Merkel, Jean Claude Trichet, Christine Lagarde são alguns dos nomes que me vêm à cabeça de pessoas que sabem ainda melhor do que eu que é preciso ter uma enorme dose de paciência em armazém para aturar as idiossincrasias dos gregos, que cultivaram, durante anos a fio, a arte de esconder de toda a gente o catastrófico desequilíbrio das contas públicas - ao pé deles, Sócrates e Alberto João fazem figura de tenrinhos apendizes.
Mário Soares pode não perceber muito de números mas está cobertinho de razão quando nos avisou de que se a Grécia cair a Europa vai ao charco. Por isso, Merkel, Trichet e Lagarde & C.ia têm de ter com os gregos mais paciência do que Job. A Europa não pode deixar cair a Grécia. O que não quer dizer que não se deva ser dura com os gregos. Ao fim e ao cabo aquela ideia de os obrigar a vender umas ilhas não é nada disparatada. Quem sabe se um dia não teremos vantagem em fazer o mesmo...
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias