O Rui tem bom coração
Sou tentado a dar razão às pessoas que acham que o Porto não andou muito para a frente com Rui Rio na Câmara. Conheço muita gente que diz que a cidade até andou para trás, mas acredito que essa análise mais severa pode ter a ver com um erro de que todos já fomos vítimas.
Quando estamos sentados numa carruagem parada na estação e o comboio estacionado ao lado inicia a sua marcha, dá a ideia que o nosso está em marcha atrás, mas tudo isso não passa de uma ilusão de óptica.
A velocidade com que Gaia se modernizou e prosperou com Luís Filipe Menezes é a responsável pela impressão que muitos portuenses têm de que a cidade progride às arrecuas como os caranguejos ou o nosso PIB.
O Porto tem estado um bocado parado mas talvez seja exagerado dizer que andou para trás e ignorar as qualidades do presidente da Câmara. Rui Rio não é um Fontes Pereira de Melo, um Duarte Pacheco ou um Fernando Gomes. Não é o líder de que o Norte precisa, mas é seguramente um político honesto e com bom coração, tantas vezes incompreendido pelos media.
Há coisa de dez dias, por exemplo, o JN responsabilizou a Câmara pelo despejo de um menina de nove anos do Bairro do Regado, quando, na verdade que foi reposta, o delicado assunto foi tratado pela DomusSocial, a empresa municipal criada pela Câmara para gerir a habitação social - pode parecer que não, mas se calhar faz toda a diferença!
O bom coração do Rui manifestou-se quando recebeu os motoristas da STCP e declarou-lhes a sua solidariedade - ou quando juntou os trabalhadores camarários no Rivoli e lhes confidenciou que o que mais o preocupa nestes dias cinzentos é saber que eles, como os outros funcionários públicos, "estão a ser tratados de forma injusta e desigual em relação a outros sectores da sociedade".
Há gente de mente tortuosa que diz que estas palavras não lhe saem do coração e as interpreta como uma mera manobra política de colagem a Cavaco e distanciamento de Passos para se posicionar numa eventual corrida à sua sucessão.
Da maledicência à calúnia é só um pequeno passo, e há também quem veja a mão de Rui por detrás do frenesim que se apodera da Polícia Municipal que multa sem piedade todos os carros mal estacionados nas imediações do edifício JN nos dias seguintes à publicação de notícias menos favoráveis à Câmara.
Sei que o Rui tem bom coração e seria incapaz de ordenar uma vingança tão mesquinha. Era capaz de jurar que se as vítimas do excesso de zelo localizado da Polícia Municipal se associarem e lhe pedirem uma audiência, ele vai recebê-las, mostrar-se solidário e accionar um inquérito interno ao estranho facto da tolerância zero em Gonçalo Cristóvão coincidir com a publicação no JN de notícias que não lhe agradam.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias