Facilitem-me a ida às compras
Sou uma minoria no género masculino. Gosto de ir às compras. Mas não a todas as compras. Não me convidem para experimentar roupa nos apertados gabinetes de prova das lojas. O que eu faço com muito prazer são as compras para abastecer a dispensa e o frigorífico.
Não compro tudo no mesmo sítio. As compras para o mês - do tipo arroz, esparguete, leite, manteiga, azeite, cereais, mel, etc - faço-as no Continente. O marketing da Sonae fidelizou-me com o cartão de descontos.
Depois retoco o abastecimento entre o Pingo Doce (o papel higiénico e o sumo de cenoura/laranja são muito bons), o Lidl (a relação qualidade/preço do mozarella fresco é imbatível) e o Supercor, onde a fruta é regra geral melhor (se bem que mais cara) e me perco com alguns pequenos mimos, como a azeitona kalamata ou os pimentos recheados com queijo.
Não foi preciso a Lehman Brothers abrir falência e mergulhar o mundo nas ondas de incerteza em que vamos sobrevivendo, esforçando-nos por manter a cabeça fora de água, para eu me converter à compra de marcas brancas, onde a oferta das grandes cadeias de distribuição já é muito excelente, não só em quantidade mas também em qualidade.
Agora acabo de tomar a decisão de me tornar um comprador ainda mais inteligente. Além do preço e da qualidade, a origem dos produtos vai passar a pesar muito mais no momento de escolher o que transfiro da prateleira para o carrinho.
A decisão tem efeitos imediatos. Da próxima vez, não vou poupar dois ou três cêntimos por litro se isso significar correr o risco de estar a comprar leite de vacas polacas. Vou comprar o leite da Lactogal que estiver em promoção.
Continuarei a usar a manteiga do Continente, porque, além de magnífica, é dos Açores - quem sabe se até feita com leite daquelas vacas da Graciosa que Cavaco surpreendeu, satisfeitíssimas e gulosas, a olharem para os pastos verdejantes.
Sei que vou deparar com algumas dificuldades nesta minha opção por comprar o que é nosso. O prefixo 560 não é garantia de que o produto é mesmo fabricado em Portugal (pode apenas ter sido embalado e registado cá). Há produtos - como a fruta, vegetais, o azeite, o mel - em que é obrigatória a identificação da sua origem, mas na maioria dos casos ela pode ser escondida. E há batotices, como as detectadas pela ASAE que apreendeu figos turcos, uvas italianas e amêndoas californianas disfarçadas de portuguesas.
Por isso aproveito este desabafo para pedir ao ministro Álvaro que prepare legislação no sentido de tornar obrigatória a denominação de origem nacional nos produtos de marca branca. Não só é patriótico, amigo do ambiente e facilita as minhas idas às compras (será que o iogurte grego do Continente é feito em Portugal?) como, ainda por cima, deve ajudar o grupo Jerónimo Martins a abandonar o lugar destacado que ocupa no top ten dos maiores importadores portugueses.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias