'bora aí fazer-lhes a desfeita?
Para mim foi um alívio ter entrado em desuso aquela moda de enviar SMS a desejar Bom Natal e Feliz Ano Novo para toda a gente da lista telefónica do telemóvel. O claro declínio desta epidemia é um dos efeitos secundários benéficos da crise.
Eu nunca tive essa mania. Por uma questão de educação, respondo a todas as mensagens que contenham um elemento de personalização (o meu nome, por exemplo). Mais nada.
Há três anos, quando alimentar diariamente o blogue Lavandaria ocupava um lugar cimeiro na minha lista de prioridades, utilizei as SMS recebidas por ocasião das festas como matéria--prima para um post.
Hoje a escassez de mensagens não me permitiria esse exercício, mas apesar de achar essa mania uma maçada, sinto que devo partilhar com quem me prenda com o seu tempo e atenção a melhor SMS de Ano Novo que recebi: 'bora aí fazer-lhes a desfeita e ter um grande 2012, enviado pelo Rui Zink.
Não desfazendo na sábia homília de Ano Novo do bispo do Porto, que muito apreciei, agrada-me muito o espírito subversivo e inconformista que o Zink conseguiu sintetizar numa pequena frase de 52 caracteres (espaços incluídos).
Há muito do manguito do Zé Povinho na mensagem de Ano Novo do Rui Zink às portuguesas e portugueses (e seguramente gente de outras nacionalidades) da sua lista telefónica. Uma das coisas que nos faz agarrar à vida é a profunda satisfação de desiludir os poderosos e contrariar um triste fado prematuramente escrito.
E é nessa rebeldia que nos caracteriza que eu encontro um suplemento de esperança no futuro, de que não vamos ter saudades de 2011 e acabaremos este ano de 2012 a rirmo-nos todos, a bandeiras despregadas, da piada que define o economista como um perito que saberá amanhã explicar por que motivo aquilo que previu ontem não aconteceu hoje.
Sei que esta teoria tem o defeito de não ter dados que a confirmem, mas a verdade é que as coisas mudam. Há um par de anos, quando a Nokia - que agora balouça à beira do abismo - era uma Meca a seguir, de acordo com os nossos governantes, se alguém me viesse desafiar a investir no lançamento de uma nova cadeia de hambúrgueres eu chamava-lhe maluco, mas a h3 prospera não só em Portugal, mas também em Espanha, Brasil e Polónia.
"Estamos em tempo de crise, mas sobretudo de sair dela", avisou-nos D. Manuel Clemente, a partir do altar da Sé do Porto. E para sairmos da crise, o que mais desejo é que neste 2012 sejamos todos famintos de coisas novas, cientes da nossa ignorância, ávidos por aprender e com sede de descobrir. Para transformar este cabo das Tormentas no cabo da Boa Esperança temos de nos inspirar nos nossos antepassados que deram novos mundos a conhecer ao Mundo. É preciso ousar, correr riscos, amar, expor-se, empenhar-nos de corpo e a alma no que fazemos. 'bora aí fazer-lhes a desfeita e ter um grande 2012'!
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias