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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Tenho medo de ir ao médico

Tenho muito medo de ir ao médico. Não que tenha razão de queixa dos médicos. Antes pelo contrário. Sempre que vesícula, coração ou amígdalas me obrigaram, não hesitei em pôr-me nas mãos deles e as coisas correram bem, como está afinal demonstrado pelo simples facto de vos estar a maçar com estas linhas.

Tenho medo de ir ao médico porque, diz-me a experiência, corro o sério risco de me descobrirem doenças que eu preferia continuar a ignorar, se bem que esteja careca de saber que esta atitude é igual à da avestruz que mete a cabeça na areia ou à da criança que fecha os olhos na vã tentativa de se tornar invisível.

Enquanto cliente, não tenho a mínima razão de queixa dos cuidados prestados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os hospitais não são um sítio  gradável de se visitar e sempre me aterrorizou a perspectiva de ter de ficar a pernoitar . Logo para começar detesto o cheiro. Mas esta fobia pelos hospitais nada tem a ver com os profissionais que lá trabalham, desde os auxiliares aos médicos, passando pelo pessoal de enfermagem e administrativo. De todas as vezes que as circunstâncias me forçaram a recorrer a eles, só tenho a dizer bem.

Se enquanto cliente não tenho razão de queixa, já enquanto contribuinte sinto-me horrorizado pelo terrível desperdício gerado pela desorganização e neficiência do SNS.

Horroriza-me saber que no hospital da Guarda há médicos a ganharem 20 mil euros por mês, devido às horas extraordinárias que fazem nas Urgências, porque os médicos mais novos acham insuficiente o prémio de 750 euros/mês que lhes oferecem para ir para o Interior.

Horroriza-me a inexplicável variação do custo médio padrão do doente nos hospitais públicos, que oscila entre os 4022 euros no Norte e os 6458 euros no Alentejo, passando pelos 4358 no Centro, 4464 no Algarve e 5306 em Lisboa.

Aflige-me não perceber por que é que, em média, cada cirurgião faz menos de duas cirurgias por semana.

Aflige-me não compreender por que é que o passivo consolidado do sector público empresarial da saúde cresceu 26,7%, entre 2009 e 2010, fixando-se nuns astronómicos 4,5 mil milhões de euros, que davam para construir o TGV Porto-Lisboa.

Horroriza-me saber que os hospitais públicos precisam de arranjar 1,6 mil milhões de euros até ao fim do mês para fazerem face aos compromissos.

Aflige-me saber que a gestão ruinosa do SNS está a arrastar para a falência centenas de boas empresas e a lançar no desemprego milhares de bons trabalhadores.

A saúde está muito doente e não a coisa não vai lá com analgésicos. Não é preciso ser médico para diagnosticar que tem de ser internada nos Cuidados Intensivos. Não é preciso ter um Nobel da Economia para perceber que está na hora do Estado deixar de ser prestador de cuidados de saúde e se remeter ao papel de atento e competente regulador. O sistema privado é sempre mais eficiente a gerir o financiamento e a gerar o lucro.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

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