Não mexas, que é pior!
Basílio Horta, presidente do AICEP, quando tinha 11 anos e era aluno do Colégio Militar., onde por pouco não fez explodir a aula de Química. Na altura era conhecido como Bazuca e andava sempre com as fraldas de foraO episódio passa-se com um grupo de teatro amador de uma pequena cidade do interior. Como os actores à sua disposição eram todos jovens, o encenador teve de improvisar, pois a peça exigia um avô.
Peruca e barba, falsas e brancas, foram a solução expedita para transformar um rapaz de vinte e poucos anos no ancião avô da actriz principal, uma moçoila bem apessoada e da idade dele.
O problema é que durante quase todo o segundo acto, o avô tinha a netinha sentada no seu colo – e um homem não é de ferro.
Quando neta saiu do seu colo, o avô teve de se levantar e estava consciente de que a medida do entusiasmo que a colega actriz lhe tinha causado estava à vista do público.
Atrapalhado, refugiou-se num canto do palco e tentou em vão, com o auxílio da mão, disfarçar a protuberância, acomodando de outra maneira no interior das calças o seu aparelho reprodutor.
Pensava o actor estar a coberto do olhar curioso do público. Não estava. Vendo-o naquele preparo, um conterrâneo interpretou erradamente o gesto e achou por bem berrar-lhe um conselho: «Não mexas, que é pior!».
Esta anedota foi-me contada por um empresário, para sintetizar as dúvidas que sentia a propósito de um projecto que tinha em cima da mesa e que contemplava uma profunda reestruturação de um dos seus produtos.
Vem esta a história a propósito da malograda fusão a frio entre a API e o ICEP que está em cartaz há ano e meio, ou seja dura há mais tempo que os intermináveis folhetins das OPA da Sonae sobre a PT e do BCP sobre o BPI – apesar de não ter de recolher o parecer favorável da Autoridade da Concorrência e de não ter de cumprir as obrigações que abrangem sociedades cotadas.
O Estado é o accionista único e comum das duas entidades, mas nem assim conseguiu ser rápido e eficaz numa fusão que paralisou o ICEP e causou danos na promoção externa do nosso país.
Não é preciso ser um Einstein para se perceber que o pecado original residiu na escolha das instituições envolvidas. A fusão entre o IAPMEI e o ICEP era o matrimónio certo para obter ganhos de eficácia e poupar despesas à administração pública, já que ambos os institutos trabalham para o mesmo cliente: as PME.
O problema é que a fusão IAPMEI/ICEP era o projecto de Carlos Tavares e do Governo anterior e raramente o ministro novo consegue resistir à tentação de atirar para o caixote do lixo os planos e ideias do seu antecessor, fazendo ouvidos moucos ao conselho «Não mexas, que é pior».
As criticas à falta de senso da fusão API/ICEP e à trapalhada que ela originou não são um exclusivo de irredutíveis nortenhos, como Miguel Cadilhe, Ludgero Marques ou os patrões da têxtil e calçado.
Numa entrevista ao diário económico Oje, o presidente da Câmara do Comércio Luso Francesa afina por este diapasão crítico. Bernard Chantrelle declara-se um fã da antiga API e defende que «a junção do ICEP e da API não vai trazer nada de novo».
Quando é que os nossos governantes deixarão de ser míopes e terão a grandeza de perceber que para melhor está bem, mas para pior já basta assim?
Jorge Fiel