Ainda a mexer um pouco mais na dita... "Corrupção". O que eu espero de um filme é que as personagens tenham conteúdo. Neste "filme" só a Sofia e o Luís (o inspector da PJ) é que têm nome pr´prio. Os outros não - é uma opção possível do realizador.O problema é que a Sofia não tem passado nem futuro, o Presidente idem, o secretário também, a procuradora aspas, aspas e o mesmo do inspector. Existem mas não têm vida, não têm nenhuma modulação, não têm conteúdo, não se desenvolvem - são uma linha plana e única. A Sofia/Carolina sai relativamente bem, se é que alguém sai bem daquilo, porque até parece que tem corpo (e não tem). Basicamente não há trama, o enredo é paupérrimo - ao nível do que já se sabia. O futebol não existe, não aparece um jogador - o que se tomaria por uma opção para que a "coisa" fosse sobre o país. Mas acaba por não ser nada. A única coisa que pode ligar o espectador ao filme é ligar a personagem ao seu referente real, mas isso implica que o filme seja apenas de militância e não tenha nada a ver com arte. Não é possível dizer-se que se passou uma hora e meia bem passada a ver aquilo. É capaz de vir a ser um êxito de bilheteira, como o livro foi de vendas, porque o sistema mediático o permite. E porque, como no caso do livro, o conhecido Barbas é capaz de fazer uma promoção - quem for ao restaurante leva um bilhete de borla. Mas quem lá for vai chorar o dinheiro, digo-vos eu, que já chorei o meu.
Pois esta tarde - confesso aqui o meu pecado - fui ver o chamado 'filme' ao Arrábida. Sala meio cheia (ou meio vazia) e só posso dizer que o filme é... uma bosta. Como diria um cinéfilo conhecido, "é pior que um filme português". Para quem quer dizer que o filme é só baseado no livro, é evidente que esse é mais um caso de corrupção - só lendo o livro se percebem várias cenas do filme, ou mesmo todo o filme. Ou seja, só mesmo o livro é que não é corrompido nesta história toda. Tirando as maminhas da Margarida, que lá aparecem no meio, creio que sem silicone, outros pontos de interesse cinéfilo são... zero. Francamente, o João Botelho é capaz de fazer muito melhor. Mas o próprio produtor/autor e o JB dizem que foi uma encomenda, que teve que ser feito à pressa - mas mesmo à pressa, podia sair algo de razoável. As personagens não têm conteúdo nem dimensão, a ligação entre as cenas é nenhuma, o ritmo é zero. Senti-me verdadeiramente corrompido nos 5 euros e tal que gastei para o ver. Não me digam que ali há arte, que não há - eu pelo menos, humildemente, não a descortinei. É mesmo pior do que eu imaginava. Aparecem até o João Malheiro (a sua maviosa voz) e também o Príncipe dos Queijos (vulgo Nelson Veiga, ex-jornalista e também ele bom adepto de um conhecido clube do Sul que não tem nada a ver com o filme nem com a estratégia que levou a que o livro e o filme existissem). Ah!, e aparece várias vezes também o Correio da Manhã, que também não tem nada a ver com nada. Muito perto de corrupção pura....
Ontem à noite estive um debate na RTP N com o João Botelho, ex-futuro (parece...) realizador do "Corrupção", e o Eduardo Paz Barroso sobre o famoso filme. Foi uma hora interessante, em que até deu para o JB fumar um cigarro em pleno estúdio. Defendia este que a sua "estética" não se podia rever no filme que está nos cinemas, que a montagem é tudo num filme (citando não sei quem...) e que tinha filmado uma mulher. O EPB falou da Carolina como Madame Bovary e do interessante que é o seu cinema ser sempre ficção. Eu retorqui que JB tinha feito um filme sobre um homem e que, sem ver o filme, o que se pode dizer dele é que nasceu de uma estratégia benfiquista que tinha a ver com futebol, não tinha nenhuma relação com arte, pelo menos nos motivos. Até porque quem conhece o JB e a sua amantíssima esposa Leonor, sabe que se levantam a pensar no Pinto da Costa e se deitam a pensar no mesmo e o filme é uma forma de sublimar estes seus desvios. E que ninguém iria ver nenhuma Madame Bovary na Margarida Vila-Nova a fazer de Carolina. Senti-me muito perto da corrupçao, sobretudo por causa da cara de 'artista' afivelada pelo JB.