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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

O conto de fadas da Função Pública

 

O mais próximo que estive da Função Pública foi na tropa. Mas essa minha relação com o Estado foi muito atípica.

 

Primeiro, porque fui incorporado à força na lista de pagamentos do Estado. Se pudesse, eu passava, mas à época não estava disponível a opção de recusar o convite.

 

Segundo, porque havia uma grande capacidade para nos impor a mobilidade.  Eu vivia no Porto, mas o Estado resolveu alojar-me no Convento de Mafra, onde, durante quatro meses, me alimentou, vestiu, cuidou da minha forma física e forneceu formação nas artes do tiro curvo (morteiro 80) e do tiro tenso (canhão sem recuo 90).

 

Promovido a aspirante, com a atraente especialidade de Anti-Carro e  Morteiro Médio (trata-se de um dos pontos altos do meu curriculum!), fui despachado para o Funchal, onde me demorei um ano, antes de passar à peluda.

 

Desde a memorável passagem de ano de 1981 para 1982, vivida na baía do Funchal, a minha relação com o Estado nunca mais foi a mesma.

 

É com alguma saudade que recordo esses 16 meses em que estive à carga do Estado.  Há um quarto de século que estou na bem menos confortável situação de contribuinte líquido. Dito por outras palavras, há 25 anos que sou chulado pelo Estado.

 

Como presumo acontece com a generalidade dos portugueses que fazem a vida na iniciativa privada, não tenho em grande conta essa vaga e gorda entidade que dá pelo nome de Função Pública. s números que a descrevem metem medo ao mais pintado, mesmo a um homem como eu, com o Serviço Militar Cumprido!

 

Os funcionários públicos são muitos (750 mil), não param de crescer (em 1990 eram 509 mil), ganham em média mais 50% do que os trabalhadores das empresas privadas, reformam-se cedo (59 anos), representam 15% da população activa mas absorvem 34% das pensões de reforma pagas pelo Estado e 45% dos dinheiro dos impostos.

 

A massa salarial da Função Pública vale cerca de 14% do PIB (em Espanha está nos 10%) e o que nós recebemos em troca é muito pouco. Um estudo promovido pela administração central (que como é óbvio, num país centralista, ocupa 77% do efectivo) revela que 51% da actividade dos funcionários públicos é consumida em burocracia interna e 9% é supérflua. Ou seja, 60% de desperdício!

 

Eu sei que há excelentes funcionários públicos e que é um erro tremendo tratá-los todos da mesma maneira. Mas não é preciso ter um MBA para perceber que esta situação que vivemos é insuportável, que precisamos de tomar medidas extremas (Belmiro sugeriu reduzir em dispensar 250 mil funcionários públicos) para impedir que o peso da Função Pública conduza o país a naufragar.

 

Na sexta feira (é uma data muito bem escolhida, por causa da ponte), os sindicatos vão tentar demonstrar ao país que a Função Pública é irreformável.

 

Os sindicatos estão enganados e condenados ao fracasso, porque teimam em lutar contra os ventos da História.

 

Os sindicatos são os únicos que ainda acreditam na ficção do emprego seguro e para a vida, garantido pelo Estado. Ora isso já passou a ser um conto de fadas.

 

Jorge Fiel

 

 

PS1. Este texto foi publicado hoje no diário económico Oje (www.oje.pt)

 

PS2. Parto amanhã de férias para Budapeste. Ainda não decidi se levo o computador. Se não o levar estarei ausente da Bússola até meados da próxima semana.   

 

 

 

 

A involuntária responsabilidade de dona Cecy e seu Benjamim

Estão a ver este simpático casal da foto? São dona Cecy e seu Benjamim, brasileiros de Passo Fundo, uma pequena localidade que dista 287 quilómetros de Porto Alegre, a capital de Rio Grande do Sul.

 

A vida tem destas coisas. Um casal tão amoroso que, sem querer, acabou por trazer ao Mundo uma personagem tão irritante e abrasivo como Luiz Felipe Scolari.

 

Tivessem dona Cecy e seu Benjamim um televisor em casa e com os serões gaúchos animados pelas divertidas telenovelas da Globo muito provavelmente não teriam filhos e nós seríamos poupados à enorme maçada de aturar Scolari.

 

Mas o que está feito, está feito. Como dizem os nossos irmãos brasileiros, não vale a pena chorar sobre leite derramado. Temos de olhar em frente.

 

E olhar em frente significa neste particular preocuparmo-nos com o que é que o seleccionador nacional de futebol de onze vai fazer depois do Euro 2008 (dando de barato que se aguenta ao balanço até lá).

 

Numa prova inequívoca de que não guardo rancor ao filho de dona Cecy e seu Benjamim, passo a equacionar as cinco mais prováveis e melhores saídas profissionais que ele terá ao seu dispor, apondo-lhe uma notação pessoal (quantos mais sinais de +, maior o entusiasmo com que encaro cada opção).

 

 

1.     Treinar a Inglaterra  + + +

 

Good. Seria a nossa vingança por um cortejo de humilhações iniciado com o Ultimatum que frustrou o nosso sonho do Mapa Cor de Rosa, continuou com o despedimento de Mourinho e se mantém com as bocas foleiras que os tablóides teimam em dizer da PJ a propósito do desaparecimento da Maddie.

 

Exportar o Big Phil teria a vantagem de alargar à velha e loira Albion o culto da Nossa Senhora do Caravaggio e permitiria à selecção portuguesa prescindir dos serviços de Ricardo.

 

Com Felipão no comando, a Inglaterra falharia com toda a certeza o apuramento para o Mundial 2010 e assim nós poderíamos dispensar um guarda redes que a única coisa que sabe fazer de jeito é defender penaltis dos bifes;

 

 

2.     Treinar o Benfica  + + + + +

 

É a minha saída preferida. De longe. Para o próprio apresenta a não negligenciável vantagem de não precisar de continuar a disfarçar o ódio visceral que nutre pelo FC Porto. Para nós, portistas, teria a enorme vantagem de acelerar e tornar irreversível o processo de belenensização do Benfica.

 

Reconheço que poderia ser mau para o culto, em Portugal, da Nossa Senhora do Caravaggio, e para o orçamento do Ministério da Saúde, pois obrigaria os seis milhões de benfiquistas a despesas suplementares na farmácia, para aviar as receitas de Prozac.

 

 

3.     Treinar a selecção nacional de futsal  + +

 

Esta opção encerra inúmeras vantagens e apenas um ou dois inconvenientes, facilmente ultrapassáveis.

 

O FCP não tem equipa de futsal, o que obrigaria Scolari a eleger outra «bête noir» para estigmatizar – o Freixieiro, por exemplo.

 

Quanto ao salário, estou em crer que a Caixa Geral de Depósitos não se importará de se chegar a frente, para garantir os 250 mil euros/mês que o filho da dona Cecy e seu Benjamim está habituado a receber.

 

Estou certo que o Ricardinho e companhia estão doidões para colocarem no balneário uma imagem da Nossa Senhora do Caravaggio. Como agravante, a fraseologia de Scolari já é familiar aos craques de futsal, uma vez que o lema de Orlando Duarte, o actual seleccionador, é: «Não podemos ser burros».

 

 

4.     Substituir Mário Lino no MOP + + + +

 

Magnifica solução, apesar de obrigar Sócrates a adiar por um par de meses uma remodelação que estava agendada para a Primavera.

 

Scolari no Ministério das Obras Públicas era remédio santo. A confusão seria tal que nem sequer a Nossa Senhora do Caravaggio seria capaz de salvar o projecto do novo aeroporto internacional de Lisboa. Nem Ota, nem Alcochete. Nada. Niente. Nicles. Raspas!

 

 

5.     Dirigir uma fábrica chinesa de Arroiolos falsos + +

 

Como é excelente a motivar pessoas com reduzida escolaridade e baixo nível cultural, Scolari podia estender à República Popular da China o culto à Nossa Senhora do Caravaggio (que, não sei se sabem, tem como epicentro Farroupilha, localidade que fica da 200 km de Passo Fundo) ao mesmo tempo que convencia as tapeceiras a manterem a cara alegre, em troca de duas tijelas diárias de arroz, enquanto tricotam os 40 mil pontos que são necessários para conseguir um metro quadrado de tapete com a textura típica dos de Arraiolos.

 

 

Claro que as enormes capacidades do filho de dona Cecy e seu Benjamim fazem dele um alvo apreciado por qualquer empresa de «head hunting» como, por exemplo a Heidrick & Struggles.

 

O seleccionador nacional seria de certeza um trunfo valioso se aceitasse ajudar a Associação de Vendedores Ambulantes de Gelados e Castanhas na campanha higiénica que tem em curso e que visa impor aos seus sócios o uso de carrinhos feitos em aço inoxidável e cartuchos próprios para as castanhas (uma dúzia, dois euros, quentes e boas!) em vez dos confeccionados com papel de jornal ou de listas telefónicas.

 

Estou também certo que com a sua voz de ovelha, Felipão brilharia a grande altura como pastor da IURD ou se abrisse um blogue aqui no Sapo  – ou, ainda, se resolvesse tornar-se empresário e fizesse, em sociedade com o reputado criminologista Barra da Costa, uma agência de detectives privados que, com a ajuda da Nossa Senhora do Caravaggio, resolveria o mistério do desaparecimento da Maddie em menos tempo que o Diabo demora a esfregar um olho.

 

Jorge Fiel

 

 

 

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