Para muitos a novela do BCP conheceu o seu epílogo esta semana com a eleição por larga maioria dos seus novos corpos gerentes encabeçados pelo ex presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Lamento informar que a estória está muito longe de acabar.
O BCP começou no Norte e foi com o dinheiro dos industriais e gente de dinheiro e coragem desta região que o BCP nasceu , contra ventos e marés e contra a banca nacionalizada de então que dava pouca segurança aos investidores nacionais e estrangeiros.
Como sempre acontece em Portugal e a nossa História está repleta de exemplos destes, quando é preciso tocar a rebate e reunir gente ou recursos para salvar a Pátria, é à porta do Norte que vêm bater.
O que se passou nos últimos dias no bcp é a negação de tudo o que foi acordado entre pessoas de bem. A maior instituição bancária privada nacional foi nacionalizada sob um pretexto ridículo de irregularidades que já se percebeu que radicam em práticas seguidas pelos grandes bancos europeus.
Mas mesmo que assim não fosse , uma coisa é obrigar os gestores a assumirem as suas responsabilidades e outra bem diferente é usar esse pretexto para montar uma estratégia ofensiva sem precedentes, para colocar sob a alçada do Estado e dos seus amigos da capital , o banco que com todos os seus defeitos ousou pôr em risco a liderança da CGD.
Não sou desde há muitos anos cliente do bcp ou seu accionista. Entendi que o banco se desvirtuou com a voragem do crescimento orgânico e deixou de me servir.Mas nem por isso deixo de me incomodar quando o vejo a ser assaltado desta maneira ignóbil.
A fuga dos grandes capitais para a capital é um filme da série B que ainda está para contar pq os nossos cineastas andam mais preocupados com as meninas do alterne do que com a alternância do dinheiro no período que se seguiu ao 25 Abril até aos nossos dias.
Perdida a guerra do bcp , a minha sugestão para os nortenhos é que cerrem fileiras no bpi para ver se adiamos por uns anos a repetição do processo de compra hostil ou negociada
que já deve fazer parte das congeminações desta cambada que quer que todo o poder tenha sede em Lisboa.
Eu, como milhões de portugueses, sinto vergonha quando ouço as notícias e leio os jornais....viva para já a imprensa livre!pelo menos nos privados.
É uma vergonha saber o que se passou no maior banco privado português, a ingerência partidária da tutela na eleição do seu novo presidente.
Como é possível o antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos, principal concorrente do BCP ser agora seu presidente e levar consigo o amigo de Sócrates, Armando Vara?
Tenho vergonha de ler nas revistas os vencimentos de alguns gestores que são verdadeiros atentados à nossa moral, sabendo o que se passa com os vencimentos da maioria da nossa sociedade,sem falar dos milhões que estão no limiar da pobreza!
Tenho vergonha que uma empresa pública, Estradas de Portugal, para 1800 funcionários tenha um parque de viaturas de cerca de 800 ,alguns deles parados para os grandes eventos e de topo de gama, aliado com despesas de alguns funcionários em combustíveis verdadeiramente incrivéis
Foi preciso alguém de fora para começar a meter tudo na ordem, força Almerindo Marques sem medo, justifique o seu excelente vencimento em prol do País.
Tenho vergonha do que se passou em relação ao novo Aeroporto de Lisboa,como foi possível a iniciativa privada num curto espaço de tempo arranjar uma solução mais bem sucedida que os vários governos mantinham, fruto de milhões de euros em estudos e estudos, depois do senhor "Jamais" ter dito que a sul do Tejo era um deserto e a opção OTA era a definitiva.
Tenho vergonha que casos como a Casa Pia ,se arrastem por tanto tempo.Que se mobilizem os nossos melhores quadros para o Apito Dourado ( para saberem quem recebeu um relógio,quem comeu fruta,que o arbitro foi tomar café a casa não sei de quem,que a Carolina disse..) em vez de se debruçarem em casos bem mais importantes como a operação Furacão,a gestão da CML,etc.,etc..
Fico por aqui,poderia acrescentar tanta coisa que nos envergonha......para já é o País que temos.......mas vamos mudar!
Para dar conta daquele que foi o acontecimento do ano de 2007. Não foi fácil a escolha. Num ano recheado de acontecimentos, escândalos e muita emoção, os números não deixam margem para dúvidas.
Aquela manhã cinzenta de de 22 de Outubro marcou definitivamente o ano. E o futuro está garantido.
Nasceu a Bússola .
É certo que o Primeiro Ministro não apareceu.
Também é verdade que eram mais os bussolistas que os convidados.
Não menos verdade é que os accionistas do BCP também não apareceram. Alegaram que ficava muito dispendiosa uma deslocação ao Bolhão. É certo que não sei se dois dos nossos bussolistas (Manuel Serrão e António Sousa Cardoso) não são companheiros de boina de Joe Berardo, pois desconheço, para já, até onde chegam as capacidades empresariais de ambos.
De gente importante apenas a Maria João, mui digna representante da PT, empresa que teve a coragem de nos convidar a ter um blogue no universo SAPO.
De resto, nós e o povo, o genuíno , as vendedoras do mercado do Bolhão, inconfundíveis e verdadeiras. Quando dizem que vão, aparecem mesmo.
Mas foi o acontecimento do ano. Nem o facto do FC Porto ter conseguido essa proeza inimitável de ser duas vezes campeão nacional no mesmo ano (em Maio de 2007, um título e em Dezembro do mesmo ano, outro título da época que ainda decorre) conseguiu desfazer tal unanimidade sustentada em números reveladores.
Ora vejamos:
- 56 dias depois, o Bússola regista 48. 313 visitas (registo às 17 horas do dia 16 de Janeiro de 2008) que, o que dá uma média de 457 visitas por dia.
- Cada post conseguiu em média 66 comentários, número muito acima da média que os blogues do SAPO registam que é de 2,5 comentários por post . É só fazer contas: 112 posts geraram 7460 comentários.
- Mas há mais:
- as 48.313 visitas provocaram um número astronómico de 147.755 páginas vistas. Em média cada visitante viu 2,7 páginas o que quer dizer que aquele número estrondoso equivale a cerca de quase três vezes mais se cada página correspondesse a uma visita.
- No blogosfera cada pessoa gasta em média 2 minutos por visita. O Bússola consegue mais do dobro. 5 minutos e cinco segundos é o tempo médio gasto por cada um dos nossos visitantes.
Há nomes incontornáveis que pela genialidade, capacidade de sofrimento e disponibilidade devem ser mencionados como grandes responsáveis por este sucesso:
JORGE FIEL, MANUEL SERRÃO, ANTÓNIO SOUSA CARDOSO, MANUEL QUEIROZ, FERNANDO ROCHA, ROGÉRIO GOMES E MÁRIO RUI.
Da minha parte e tendo em conta o meu nulo contributo resta-me a tarefa de homenagear estes verdadeiros profissionais do Blogue Bússola.
E claro, fazer referência a todos os nossos visitantes, que das mais diversas formas, anónimos ou com nomes verdadeiros, ás vezes de de maneira pouco amigável e até muito contundente, estiveram e estão sempre presentes.
Perante tudo isto o desafio que se coloca para 2008 é tão somente a INTERNACIONALIZAÇÃO do BÚSSOLA.
Os contactos já começaram. Jorge Fiel, Manuel Serrão e Manuel Queiroz são vistos assiduamente em aeroportos, de mala na mão, rumo ao Mundo.
A última vez que foram vislumbrados, foi a semana passada. Na quinta feira estava na porta de embarque do aeroporto da OTA, na sexta feira, já estavam na sala VIP do aeroporto de Alcochete.
Não restam dúvidas, por isso, que este ano o Bússola será global.
Aos heróis do Bússola aqui ficam as imagens e os vídeos exclusivos do dia 22 de Outubro de 2007, um dia que fica para a história.
Penso que é a primeira vez que acontece: há um portuense à frente da TSF, segundo a Lusa. Ainda por cima não só é portuense como é do Amial, como este escriba que assina em baixo, o que é francamente ainda mais importante.
Falo do Paulo Baldaia, até agora chefe de Redacção da delegação em Lisboa do Jornal de Notícias, que vai ocupar a vaga deixada pelo José Fragoso, novo director de programas da RTP.
Fico contente por ti, Paulo, e fico contente pela TSF, que não deve ser nada fácil de dirigir mas é um bom desafio para um profissional dos melhores que andam por aí.
O Paulo anda emigrado em Lisboa há uns anos, mas não se esqueceu do Porto, nem do Amial, nem do FC Porto. Um abraço e boa sorte.
(Peço desculpa pela foto, mas foi a única que encontrei no Google e além do mais é magnífica)
Não tenho a mínima dúvida. Manuel Pinho e a sua campanha publicitária Retratos da Costa Oeste da Europa são sérios candidatos a conquistar para o nosso país o primeiro dos célebres prémios IgNobel, que todos os anos, pelo Outono, são entregues em Harvard, por iniciativa da revista de humor cientifico Annals of Improbable Research.
Nunca como agora, com esta campanha a todos os títulos bizarra, tivemos tamanha oportunidade de entrar numa prestigiada lista onde figuram, entre outros, o químico japonês Mayu Yamamoto, distinguido por lograr extrair fragância da baunilha do esterco de vaca, e o trio de linguistas Juan Manuel Toro, Josep B. Trobalon e Nuria Sebastian-Galles, por terem descoberto que os ratos não podem distinguir entre gravações em japonês e holandês quando elas são tocadas de trás para frente.
No próximo Outono, quando for do anúncio dos prémios IgNobel 2008, todos nós estaremos a um tempo confiantes e com a respiração suspensa. Pinho tem muito mais hipóteses de arrebatar um IgNobel do que o patriarca de Lisboa já alguma vez teve de se sentar na cadeira de S. Pedro.
A campanha Retratos da Costa Oeste da Europa, da co-autoria Pinho/BBDO, é demolidoramente bela na estupidez que evidencia, seja qual for o lado por que é observada.
Não estaria ao alcance da cabeça de uma pessoa normal e meridianamente inteligente fazer uma campanha de «outdoors» e de imprensa em Portugal com o objectivo de promover no estrangeiro uma nova imagem do nosso país. Só um génio como Pinho poderia conceber esta ideia.
Não lembraria nem ao careca pagar 160 mil euros de «cachet» a um anónimo John Smith britânico, que por acaso se chama Nick Knight (1), para tirar os tristes e sombrios retratos desta campanha. Só um inteligente cabeludo como Pinho poderia assinar este cheque.
Não consigo recordar-me de alguém com dois dedos de testa que fosse capaz de aprovar um cartaz em que o nome do fotógrafo estrangeiro aparece com o dobro do tamanho das vedetas do país que se pretende promover, Só um visionário destravado com Pinho aceitaria isso.
Não estaria ao alcance do mais pintado dos descarados mandar fazer um «outdoor» onde nos vangloriamos de ter a maior central de energia solar do Mundo, quando só no estado do Arizona há duas maiores que a nossa. Só uma luminária como Pinho teria lata para isto – e desconfio que para muito mais.
Um país em que o Ministro da Economia abençoa uma campanha tão catastrófica como esta, não pertence à Costa Oeste da Europa, no início do século XXI, mas sim à balbúrdia do faroeste americano, nos primórdios do século XIX.
Mas não vale a pena ficarmos tristes. Ainda há uma coisa que nos pode salvar.
Os três milhões de euros desta desastrada campanha não serão dinheiro deitados pela janela fora se, em Outubro, comoespero e anseio, Pinho por distinguido com um IgNobel.
Uma campanha de imagem de um país cujas proporções catastróficas assumem proporções bíblicas tem o direito de permitir ao nosso Ministério da Economia um prémio igual que no passado recente distinguiu o Wright Laboratory, da Força Aérea dos Estados Unidos, por sugerir a pesquisa e o desenvolvimento de uma «bomba gay» que poderia fazer com que os soldados inimigos se ficassem sexualmente atraídas uns pelos outros e desatassem a amar-se e a fazer sexo uns aos outros.
(1)Será que este Nick que o Pinho desencantou é alguma coisa ao Michael Knight, papel desempenhado por David Hasselhoff na série televisiva «O Justiceiro», que usava no seu combate ao crime um carro amestrado, um Pontiac Firebird Trans-Am computadorizado e com uma liga molecular que o tornava indestrutível, a prova de fogo e balas, além de dotado do computador K.I.T.T.(Knight Industries Two Thousand)que comandava todas as funções do carro e ainda por cima falava?
Vivi em Lisboa no ano quente de 1975, sob o pretexto de estudar Psicologia no ISPA, que ficava na rua da Emenda, paredes meias com a sede do PS.
Dormia na Flamenga (Santo António dos Cavaleiros) num T1 alugado, em que a renda mensal de 2100 escudos era dividida pelos três residentes – eu e os meus camaradas Francisco Sardo e Francisco Vasconcelos, que tratávamos por Toupeira em virtude de usar óculos com lentes ainda mais grossas que os fundos das garrafas.
O apartamento era acanhado. Como tinha sido ele a alugar a casa, o Toupeira atribui a si próprio o quarto. Eu instalei-me na sala, com um colchão e uma estante de tijolos. O Sardo, que à época cumpria o serviço militar na EPAM, ficou com o hall de entrada.
Como os três andávamos muito entretidos a fazer a revolução na rua, é natural que negligenciássemos a manutenção da casa.
A lâmpada da entrada – o aposento do Sardo – fundiu sem que ninguém (nem ele próprio) se tenha dado ao trabalho de a substituir, apesar dessa infeliz ocorrência nos obrigar a usar uma lanterna ou fósforos sempre que entravamos em casa, para evitar tropeçar numa fotocopiadora de proporções bíblicas, «expropriada» no assalto à sede do CDS no Largo do Caldas que se seguiu ao 11 de Março, que nunca mais na sua vida cumpriu a sua função de duplicar documentos.
Mais tarde, e penso que em simultâneo, a casa de banho ficou severamente incapacitada: a lâmpada fundiu e a sanita entupiu.
Como é óbvio, nenhum de nós tinha agenda ou disponibilidade de espírito para sequer comprar uma lâmpada. A urgente e nobre tarefa de construirmos um Mundo melhor absorvia-nos de tal maneira que seria absurdo pensar que disporíamos de tempo para contratar um canalizador que desentupisse a sanita.
Prudentemente, abstive-me de usar a sanita e passei a satisfazer fora de casa as minhas necessidades fisiológicas de carácter líquido e sólido. Atitude que, estou convencido, também foi adoptada pelos meus colegas de apartamento.
A catástrofe deu-se um par de meses depois. Apesar de todos os três sermos ateus encartados, alguém (cuja identidade desconheço) acreditou, que por algum estranho e suave milagre, a sanita se tivesse desentupido pelos seus próprios meios - e cometeu o terrível erro de puxar pelo autoclismo. Não é preciso ter os dotes da Maya para adivinhar o que aconteceu.
O transbordo do esgoto foi a gota de água que fez transbordar o copo da minha paciência. Fiz as malas, abandonei o curso de Psicologia e regressei ao Porto.
Vem a recordação deste triste episódio, a propósito de um outro, ainda mais mal cheiroso: o do BCP.
Tenho muita pena que o Governo, preocupado com o entupimento do maior banco privado português, se tenha precipitado e cedido à tentação fácil de puxar logo pelo autoclismo, ao optar pela solução Santos Ferreira/Vara.
Teria sido muito mais assisado e prudente aconselhar os accionistas a arranjarem um canalizador bom e profissional (como por exemplo o Cadilhe) para desentupir primeiro a sanita.
(Declaração prévia de interesses: tenho algumas acções da Brisa, compradas numa OPV de há uns anos)
Já perdi a conta às vezes que atravessei a A 1, nos dois sentidos, no todo ou em parte. Centenas, milhares de vezes, já percorri aqueles 300 quilómetros.
Mas confesso que nunca como nos últimos meses com tantas obras ao mesmo tempo. Ontem, entre Porto e Coimbra, pelo menos dois troços estavam em obras. Fui procurar ao site da Brisa (a quem desde já agradeço a foto que encima este poste, retirada do seu site) e lá está: a empresa informa-me de cinco locais (Estarreja-Feira, Leiria-Fátima, nós de Aveiras e Santarém e nós de Vila Franca) que até ao fim do mês vão estar, em vários dias, a sofrer obras.
A conservação de uma AE é, obviamente, essencial. E numa auto-estrada como a A1 não há dias mortos, porque o tráfego é sempre intensíssimo, seja de Inverno, de Verão, na Primavera ou no Outono.
Agora, quando há obras para aí em 10 por cento do trajecto, aquilo que me é cobrado devia ser menos do que a tabela para a AE completa e sem obras. Ninguém vende um fato com defeito ao mesmo preço de um fato de corte impecável.
O poder da Brisa, uma das empresas mais lucrativas deste país (daí as minhas acçõezinhas...) é muito grande e, por isso, nunca ninguém conseguiu obrigá-la a ser mais generosa com o cliente. É por isso que acho que não vendo as acçõezinhas porque os meus filhos, daqui a dez anos, ainda vão ganhar mais dinheiro com elas. É um negócio sem risco - ou, aliás, o único risco é ganhar mais dinheiro. A Brisa é sempre mais forte que o cliente e do que o Governo e a Oposição juntos. Só ganha o accionista.
Os partidos do virtuoso Bloco Central preparam-se para chumbar hoje o Referendo ao Tratado Europeu substituindo-o por uma ardilosa e garantida votação parlamentar.
Este equívoco da legitimidade tem alastrado pela vivência e prática democrática, desqualificando aquilo que é verdadeiramente essencial á Democracia – a liberdade individual e o direito de opinião e opção.
Tenho sinceramente pavor, repugnância até, pelos ventos que sopram nesta asséptica renovação democrática do terceiro milénio.
Avançamos, por um lado, numa intolerável intromissão do Estado democrático nos nossos direitos e liberdades individuais. Em nome de elevados e standardizados valores sociais e culturais, o Estado democrático impõe de forma persecutória um padrão rígido de comportamentos e opções individuais (o tabaco e a cruzada da ASAE são apenas exemplos).
Recuamos, por outro lado, naquilo que é essencial à Democracia que é o fomento da participação dos cidadãos em matérias tão essenciais como as da identidade e independência nacionais, provavelmente diminuídas neste Tratado Europeu que os partidos por nós decidirão.
Da forma democraticamente mais perversa, diga-se, porque a verdade é que foram eleitos prometendo, nesta especifica matéria, exactamente o oposto do que vão fazer.
O sistema político começa perigosamente a desconsiderar os cidadãos ditando de forma paternalista e arrogante os seus comportamentos individuais e negando arbitrária e enganosamente um direito de opção previamente comprometido, por alegada complexidade da matéria (?).
Hoje publicou-se também um estudo que coloca Portugal nos 15 Países do Mundo mais globalizados. Neste afã moralizador e inquisitório do Estado para as nossas coisas que contrasta tanto com a atitude provinciana do mesmo Estado para as coisas dos outros, tenho justo receio que o MacBurger arrase de vez com a patanisca, o IKEA acabe com a Picaria e as Festas Populares venham a ser proclamadas (como já vi no Alto Minho) em Espanhol.
Enfim, tenho justo receio das irreparáveis percas de liberdade e de identidade da decaída Democracia recentemente engendrada por este “Diácono Remédios” em forma de Estado.
A mesma liberdade e identidade que fundamentam esta Bússola, tão firmemente virada a Norte.
A Portela pode deitar foguetes e fazer a festa porque vai estar a uso bem mais tempo do que previsto
Tive uma fase na vida, presumo todos passamos por ela, em que instalei três prateleiras metálicas (também as há em plástico) em cima da secretária.
A imensa papelada que diariamente desaguava na minha mesa de trabalho era meticulosamente dividida pelas três gavetas. A de cima arquivava os papéis para despachar com urgência, a do meio guardava os assuntos pendentes, enquanto à prateleira de baixo iam parar os casos já resolvidos.
Cedo verifiquei que a prateleira do meio era uma espécie de cemitério onde eu deixava ficar a morrer os assuntos - na esmagadora maioria dos casos «curriculuns» de candidatos a estagiários, convites para participar almoços colectivos, ou assistir a seminários ou conferências, e propostas de trabalho que não se revelaram sedutoras ao primeiro olhar.
A prateleira dos Assuntos Pendentes, conclui eu mais tarde, era uma maneira de me enganar a mim próprio, de cobardemente deixar o tempo decidir por mim.
Quando forçado pela falta de espaço (a prateleira do meio era a quase sempre a primeira a encher), passava em revista os Assuntos Pendentes, a maior parte dos papéis tinham ultrapassado o prazo de validade e iam parar ao cesto do lixo.
Finalmente assumi uma política de verdade. Ofereci as prateleiras metálicas a um colega, decidi eliminar da minha vida os Assuntos Pendentes e perseguir o objectivo de chegar ao fim do dia com a secretária limpa de papéis (como é óbvio falhei, mas isso não é chamado ao caso).
Antes do Verão e da presidência da UE, com a opção Ota encostada à parede por um ofensiva crítica e sem precedentes da opinião pública e publicada, o governo pediu uma contagem de protecção.
O precioso tempo comprado foi pago com a promessa de que aceitaria a opinião técnica sobre a melhor localização para o novo aeroporto de Lisboa. Através desta sábia atitude, Sócrates evitou que a batalha perdida da Ota se transformasse na sua Alcácer Quibir.
Agora que o LNEC vai que Alcochete é mais atraente que a Ota porque comporta espaço para ampliações futuras, o Governo terá de arrumar na prateleira dos Assuntos Pendentes a questão do novo aeroporto.
Este parecer técnico obriga a Governo a encomendar os estudos e projectos para Alcochete - que já estavam feitos para a Ota – o que significa o óbito do sonho inicial de fazer da Ota e do TGV as alavancas para um vigoroso relançamento do nosso crescimento económico.
As obras de construção do novo aeroporto, que Sócrates queria começar nesta legislatura, só com muito optimismo poderão estar no terreno, no deserto márioliniano da Margem Sul, na próxima legislatura.
A boa notícia é que o arquivar nos Assuntos Pendentes desta questão deverá equivaler na prática à opção por aquela que me parece a melhor solução: Portela + 1.
Jorge Fiel
(www.lavandaria.blogs.sapo.pt)
PS. O Governo revelaria um notável sentido político se aproveitasse a oportunidade aberta pelo parecer do LNEC para embrulhar o revés Alcochete numa decisão corajosa, justificada pelas novas condições: a de resgatar o ruinoso contrato feito pelo Governo laranja com a Lusoponte.
PS2: Esta crónica foi hoje publicada no diário económico Oje (www.oje.pt)