Tenho várias dúvidas sobre a acção do dr. Rui Rio à frente da Câmara do Porto, mas não tantas como alguns que se comprazem a dizer que tudo o que faz é ma feito.
O discurso de ontem, comemorativo dos seis anos que leva na presidência da autarquia, tee algumas mensagens importanters. Uma delas foi o sublinhar dos 13.4 milhões de euros que o Governo tinha preparados para comprar os terrenos para o futuro Hospital de Todos os Santos na capital. É a única "largesse" financeira conhecida no Ministério da Saúde nos últimos tempos e passou despercebida a todos os comentadores.
Acrescento a essa nota, outra: os 45 milhões que, segundo Rio, estão previstos no Orçamento de Estado para a reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa. Um tema, este da zona rineirinha, que, recorde-se, deu rande polémica na campanha eleitoral da capital. Até António Costa confessou que não sabia quais eram os planos que havia.
Por mim, escrevi em tempos não suspeitos que Costa só aceitou ir para a Câmara comum envelope seguro garantido pelo amigo Sócrates. Não me enganei, embora reconheça que não era preciso ser o Sherlock Holmes para ter essa intuição.
Mesmo com todos os erros que Rui Rio cometeu, nomeadamente em relação ao FC Porto em que foi infelicíssimo, apesar de tudo acho que no país não há muitos Rui Rios. Não tem medo de dizer as coisas, nem tem medo de ir para a frente com as suas ideias. Mesmo quando elas não são boas, claro.
Alguns comentadores dos textos bussolísticos acusam esta tertúlia de ser intolerante com muitas coisas do Sul, entre as quais o Benfica. Bastava termos cá no nosso painel o António de Souza-Cardoso para se saber que não somos todos republicanos e portistas, mas é tempo de dar o valor a quem o tem.
No caso, trata-se do ilustre benfiquista António-Pedro Vasconcelos que tem mais um êxito cinematográfico nas salas do país. Fui ver o "Call girl" na sexta-feira, ao Arrábida, e gostei. Um filme com actores que compõem realmente personagens, como Nicolau Breyner e, devo dizê-lo, Soraia Chaves. Para lá do "talento" natural que se conhecia de outros filmes, tem o talento artístico, é bem dirigida e cria uma personagem com dimensão.
É m filme português que inclui actores, para além daqueles, como Joaquim Almeida, um excelente Ivo Canelas no papel de inspector, Virgílio Castelo, Ana Padrão e até o realizador Joaquim Leitão lá tem um papel. Boa história e história actual, bons diálogos, ritmo e sequência que prendem o espectador durante duas horas e tal.
Como se sabe, não basta ser bom benfiquista para se ser um bom realizador de cinema. APV junta essas qualidades, ao contrário de outros. Parabéns, meu caro António!
Todos os anos, por esta altura, fico inquieto. Aparecem nas televisões, jornais e essencialmente em revistas cor-de-rosa, umas personagens que adivinham o nosso futuro.
São mestres, professores, cartomantes, astrólogos, videntes, etc , etc .
Velhos tempos os do Zandinga . Ninguém o levava a sério. Agora estas "personalidades" desfilam como sendo portadoras de grandes mensagens e conhecimentos profundos.
O pior de tudo é que há quem os leve a sério.
Este ano, no dia 1 de Janeiro, deparei-me com uma figura - o Mestre Alves - que fazia as suas "sábias" previsões para 2008.
Estava lá tudo! Sobre a política, sobre as catástrofes , sobre o futebol cá do burgo e internacional. De tudo.
Fico sempre perplexo . Por instantes penso.
Para quê lutar pela vida se os mestres alves deste país já sabem tudo?
No meu caso concreto fico-me pelo pensamento de Voltaire, que sempre ficou na história, quando dizia que fazer este tipo de "adivinhações" era "insultar o futuro".
Cheias, José Mourinho no desemprego , o FCPorto campeão mas eliminado nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, o Benfica em segundo e vencedor da Taça de Portugal, o União de Leiria e Paços de Ferreira na segunda divisão. O Inter em Itália e o Madrid em Espanha. Nada. Não falha nada.
Palavra de Mestre Alves.
O Mestre até pode dizer o que lhe apetecer. O que me "chateia" é, como vi no Porto Canal, o apresentador tratar da coisa como se fosse uma verdade absoluta e com o entusiasmo de quem estava a anunciar as coisas mais fantásticas do mundo.
Sempre com ar sério!
Lamentável.
Quanto ao Mestre Alves, que diz que nas previsões anteriores acertou muitas, aproveitou a oportunidade, "vendeu" o seu produto e ainda tinha nos oráculos o número do seu telemóvel para consultas particulares. Muito mais aprofundadas. Digo eu!...
Aí se calhar trata de assuntos amorosos, negócios... A pagar. Claro!
Agora vou fazer-lhe concorrência com a garantia de que vou acertar.
Catastrofe : vai haver de certeza . Morte duma personalidade: não tenho dúvidas. Natal em Dezembro é certo. etc , etc .
O ano de 2008 começou como acabaram os anos anteriores - um pouco por todo o país os portugueses queixam-se do centralismo que transforma Portugal numa nação a duas velocidades.
Recebi uma carta de um grupo de jovens criativos com provas dadas em trabalhos para meios tão diversos como a Rádio Universidade de Coimbra e a Antena 3 , revista 365 , pftv e para empresas e instituições de renome como a EURO RSCG e o TEUC que entendi dever reproduzir no Bússola.
Entre outras coisas para que os bussolistas sintam ou confirmem que o que por cá tem vindo a ser dito está a ganhar foros de dimensão nacionall. O grupo de criativos que assina a carta ( e que eu só não identifico porque não lhes pedi e seria por isso um abuso...) tem gente de Coimbra , Leiria , Guimarães, Constância e Porto
Aqui vai .
"Somos um grupo (oficioso) de jovens e guionistas que partilha, todo ele, do mesmo sentimento de indignação: parece-nos inusitado e até prepotente que a grande maioria da produção audiovisual seja oriunda de Lisboa. Não por ser natural que assim seja, mas antes porque TEM QUE SER. Começa as ser geralmente aceite que para se fazer alguma coisa com projecção nacional se tenha necessariamente de ir para a capital, onde os nativos “fazem o favor” de nos receber como se fossemos QUASE um deles.
Lisboa assemelha-se hoje, pelo menos em intenção, a um grande feudo cultural que emite cultura para todo o país. De certa forma compreende-se, é a capital, mas a coisa escorregou para o exagero: parece que Lisboa emite para si própria, para o próprio umbigo, porque Lisboa interessa a Lisboa; o resto do país acompanhe se quiser. (Há, claro está, espaço para a produção de cariz regional, mas temos de perceber a diferença entre uma e outra coisa).
Há ainda a questão do mercado viciado. Há monopólios em certa áreas, como se sabe. E os monopólios nunca são bons: acaba-se sempre por cair no erro da visão unilateral, que se torna vigente durante algum tempo e mais tarde apodrece, sem que os próprios se apercebam.
Falta, em nosso entender, uma lufada de ar fresco. Falta que o país se aperceba que existe mais além de Lisboa, que Portugal é riquíssimo em cultura e diversidade; falta dar a conhecer pessoas fantásticas de outros lugares; falta mostrar que cidades como Braga, Coimbra e Guimarães são grandes em todos os aspectos e também fervilham de actividade cultural. E claro, há que deixar bem claro que ténis é um desporto (e não um tipo de calçado) e que “imperial” não é senão uma marca de chocolates.
Haverá na cidade de Porto mercado e lugar para uma empresa que aposte na produção de conteúdos audiovisuais (apenas textos, ideias e guiões) abrangendo as áreas do teatro, TV, rádio, publicidade, imprensa, internet, etc.? A nós parece-nos o lugar ideal, não só por sair do raio de acção viciado da capital, como por gozar de outro espírito, com menos competitividade agressiva, com maior abertura de ideias, por viver o dia-a-dia com outros olhos.
Exército de Salvação Nacional
Batalhão Bússola reforçado com destacamento itinerante
Lembram-se do ar orgulhoso com que Cavaco anunciou que tínhamos ultrapassado a Grécia e já não éramos o país mais pobre da CEE?
Parece que foi há séculos esses tempos. Éramos, então, o bom aluno da Europa, apresentados como exemplo a seguir aos países candidatos à adesão.
De então para cá, com Guterres, Durão, Santana Lopes e Sócrates ao volante, tem sido sempre a descer. A Grécia voltou a passar-nos e, no entretanto, fomos também ultrapassados por quatro países do alargamento – Eslováquia, Chipre, República Checa e Malta.
Bruxelas prevê que neste ano que ora se inicia vamos ser ultrapassados pela Estónia a adverte de que devemos ter muito cuidado porque o pelotão constituído pela Eslováquia, Hungria, Letónia e Lituânia aproxima-se a grande velocidade e já aparece no nosso espelho retrovisor.
Claro que se trata apenas de um previsão – e por isso falível.
A minha frase favorita sobre previsões, cunhada por um professor de Economia da Nova, desfaz por completo estes exercícios de adivinhação do futuro próximo.
«Fazer previsões é como conduzir um carro de olhos vendados e seguir as instruções de quem está a olhar para a estrada pelo vidro de trás», garante José Ferreira Machado.
Voltaire também descria das previsões, aconselhando-nos a não insultar o futuro tentando prevê-lo.
O problema é que indiferente ao cepticismo de Voltaire e de Ferreira Machado, instituições tão respeitáveis como a Comissão Europeia, o FMI e o nosso Governo continuam a pisar as mesmas areais movediças que a astróloga Maya.
O optimismo do Governo contagiou os números do cenário macro-económico traçado no Orçamento para 2008 mas não logrou atravessar a nossa fronteira. Bruxelas e o FMI são bem mais pessimistas do que Lisboa e prevêm mais inflação, mais desemprego e menos crescimento. Lamentavelmente devem estar cheios de razão.
Churchill, cuja longa vida política lhe possibilitou deixar-nos em herança máximas sobre praticamente tudo, avisou-nos que «quanto mais se olhar para o passado, mais se saberá do futuro».
E os números do nosso passado recente, são um pesadelo, com excepção do défice abaixo dos 3%, o troféu a que o primeiro ministro se agarra como um náufrago, da mesma maneira que, antes do 25 de Abril, nos iludíamos com as proezas internacionais do nosso hóquei em patins.
Com um PIB per capita a valer 65,6,% da média comunitária, 14% dos trabalhadores com rendimentos inferiores ao limiar da pobreza e 120 mil chumbos por ano no ensino básico, com o desemprego a galopar (engrossado nos últimos dois anos com 167 mil profissionais qualificados) e o indicador do clima económico a despenhar-se todos os meses, Portugal é um país triste.
A frase de Ferreira Machado sobre as previsões é muito boa. Mas será muito mais perigoso conduzir um carro de olhos vendados do que prever que 2008 não vai ser o ano da retoma no nosso país.
É mais provável o Benfica ganhar este ano o campeonato, do que o Portugal retomar a convergência com a União Europeia. È pena!