Apesar de a notícia ter aparecido meio escondida em alguns meios de Comunicação Social lá se ficou a saber , muito a custo , que o famoso processo das agressões ao ex- vereador socialista de Gondomar , Ricardo Bexiga , voltou a ser arquivado . Por falta de provas.
Para quem tem memória curta eu recordo que este foi o primeiro processo reaberto pela superequipa de Procuradores capitaneada pela dra Maria José Morgado , na sequência de umas tonitruantes declarações de Carolina Salgado , que coincidiram com a campanha de lançamento do livro que o presidente do SLB , ao que consta ,comprou aos milhares e agora anda a ver se despacha metendo -os às grosas nas malas dos carros dos clientes que lhe aparecem na empresa.
O que é preciso perguntar a quem de direito é porque é que foi tomada a decisão de reabrir um processo que estava encerrado por causa de uma entrevista e não sei quanto tempo depois se volta a arquivar com a justificação que as declarações da senhora ( que até confessavam a sua putativa participação ..) não trazem nada de novo aos autos.
Vistos os factos aquilo que era o mínimo exigível era vermos a senhora dra Morgado vir a terreiro reconhecer a sua precipitação ( que está muito na moda ) pedindo desculpa a quem incomodou e lamentandop as expectativas criadas que não conseguiu cumprir.
Bem ao contrário , o que a senhora dra Morgado fez , a crer nas notícias dos jornais que não vi desmentidas , foi atirar -se aos seus colegas do Porto imputando -lhes a culpa do fracasso por uma investigação incompetente realizada na altura dos factos.
Para além de a senhora dra , manifestar uma opinião altamente duvidosa sobre os seus colegas de trabalho teve toda a facilidade em tomar conhecimento dessa terrível e castradora incompetência sem precisar de reabrir o processo. Ou era preciso reabrir o processo para dar enquadramento e contexto à campanha que então desencadeou. ?
É que convém lembrar que o processo agora rearquivado era o único que aparentava ter uma gravidade especial , bem diferente das palhaçadas das frutas e dos cafés com leite com que se continua a gastar o dinheiro dos portugueses por causa de o Benfica ter perdido a hegemonia do futebol português há mais de 30 anos.
Sim. Confesso que sou um parolo que fui ao Rivoli ver o «Música no Coração» e fiquei muito satisfeito porque passei um bom bocado e dei o tempo por bem empregue.
Desde 4ª feira, integro a legião de portuenses bimbos que há uns meses esgotam a lotação do Rivoli para ver e ouvir os musicais de Filipe La Féria.
E o mais grave é o facto de, não contente com o facto de ter apreciado, ainda por cima me dou ao luxo de publicitar este meu gosto que as élites culturais da cidade não hesitarão um segundo em classificar como duvidoso – no mínimo.
A lata sempre foi um dos meus fortes.
Mais. Como me tenho em elevada consideração, afirmo que eu e as largas dezenas de milhares de pessoas que viram o «Jesus Cristo Superstar», «Principezinho» e «Música no Coração» somos a prova dos nove da justeza da decisão de Rui Rio de retirar o Rivoli do circuito da programação cultural alternativa e marginal, reservada a minorias microscópicas.
Ao concessionar o Rivoli a La Féria (personagem que não conheço e que não me suscita a mínima empatia), o presidente da Câmara fez um magnífico dois em um. Poupa dinheiro (nos termos do contrato de concessão a autarquia recebe 5% da receita liquida da bilheteira) e ajuda a preencher uma imensa lacuna que existia na oferta cultural e de entretenimento da cidade.
O mercado está a provar que Rio estava tão carregadinho de razão que até se arrisca a ficar com uma hérnia.
Nestes meses de Rivoli privatizado e travestido em pequena Broadway tripeira, fui lá mais vezes do que durante os 35 anos que medeiam entre o dia de hoje e o do célebre concerto dos Vinegar Joe que haveria de imortalizar a sala na canção de Tê e Veloso («Anel de Rubi»).
A revitalização da Baixa e o renascer da cidade exige que os equipamentos culturais estejam cheios de gente, que as pessoas saiam de casa, à noite e ao fim de semana, para irem ao teatro, ao cinema, ao concerto, à exposição – e que antes ou depois jantem fora e leiam o jornal numa esplanada.
Para que isso aconteça, tem de se exterminar o autismo. Não pode haver um divórcio total entre a oferta e a procura.
A programação cultural tem de se adequar aos gostos dos públicos, da mesma maneira que o agente funerário quando recebeu m cadáver trata de arranjar um caixão adequado ao seu tamanho e cubicagem, não lhe passando sequer pela cabeça cortá-lo para caber dentro de uma urna pré-existente.
A ópera de Emanuel Nunes no São Carlos não invalida (antes pelo contrário) os fantásticos concertos «promenade» do Coliseu do Porto. A revista Atlântico não é contraditória com os diários gratuitos. A exposição de António Cruz, no Soares dos Reis, complementa a de Rauschenberg em Serralves. O «Equador» de Sousa Tavares convive com «Jerusalém» de Gonçalo Tavares.
Acresce que a indústria cultural não pode viver à sombra da bananeira dos subsidios. O seu financiamento tem de ser plural.
Não vejo mal nos subsidios, mas o financiamento da indústria tem de assentar no tripé subsidios/mecenato/público – sem que o pé mais forte tem de ser este último, por uma questão de independência artística e sustentabilidade.
Rio brilhou a grande altura quando privatizou a gestão do Rivoli. E tem razão em aprofundar este caminho privatizando outros equipamentos como a Praça de Lisboa e o Mercado Ferreira Borges.Penso que já toda a gente percebeu que os privados gerem melhor do que o Estado.
1 - O Metro do Porto é um caso de sucesso a todos os níveis.
É rápido, tem já uma boa rede de cobertura, é confortável, muito regular e ainda por cima é amigo do ambiente.
Do pensamento de Fernando Gomes até à concretização da obra não passaram anos e anos como é normal em Portugal acontecer. Veja-se o triste exemplo do novo Aeroporto de Lisboa.
O projecto, vindo do seio dos autarcas do Grande Porto, não colheu de imediato a confiança e aprovação - como não podia deixar de ser - do poder da capital.
Até lhe chamaram o metro de papel!
O Metro está aí e novamente a crescer para Gaia e Gondomar.
Para trás ficaram 5 linhas e 60 quilómetros de rede onde pontifica a renovação urbana pensada por grandes arquitectos como Souto Moura, Siza Vieira, Alcino Soutinho, Bernardo Távora, entre outros.
Da primeira fase, além meio de transporte propriamente dito, ficaram em zonas verdes o equivalente a 25 estádios de futebol, mais de 5 mil novas árvores plantadas e evitaram-se a emissão de milhares e milhares de toneladas de gases nocivos para atmosfera.
Este sucesso é tanto maior quanto é a adesão dos utentes que em 2007 cresceram relativamente a 2006 quase 25%. Ou seja foram 48 milhões as pessoas que em 2007 circularam no Metro do Porto. Mais 10 milhões que em 2006.
Há coisas fantásticas, não há?
2 - Terminou há dias, em Madrid, a FITUR a segunda maior feira de turismo do mundo.
Portugal esteve lá, com uma presença significativa, onde pontificavam alguns dos casos de maior sucesso cultural no nosso país como Serralves, Casa da Música, Museu Berardo e Gulbenkian além duma peça gigante da artista plástica da moda Joana Vasconcelos.
Esta acção tem o mérito de "vender" o destino Portugal para além do sol, das praias e das paisagens que são muito importantes mas que para a "agressividade" do sector já não são suficientes.
Vem isto a propósito dum estudo que um especialista apresentou para o Douro.
O Douro é bonito, está praticamente virgem e tem potencialidades únicas que "aguentam" um ano inteiro.
Então o que é que falta?
Um cluster . Ou seja um trabalho conjunto que una esforços e apresente as várias vertentes, sendo o lado cultural essencial, aos operadores que "vendem" a região.
É bom que os poderes pensem no assunto porque se se cometer o mesmo erro do Algarve pode matar-se a "galinha dos ovos d'ouro ".
É muito difícil ser árbitro. Sábado, no Dragão, Paulo Baptista errou ao validar o primeiro golo do Porto no jogo contra o Leiria, já que a bola chutada por Bosingwa foi desviada pelo corpo de Farias, que estava em fora de jogo.
À vista desarmada, no campo e na televisão, o desvio foi imperceptível. Apenas foi detectado depois, por uma repetição televisiva do lance obtida a partir de um ângulo muito diferente do olhar do árbitro e da esmagadora maiorias dos espectadores.
A revista Science et Vie dedicou um interessante artigo científico à extrema dificuldade de avaliação das situações de fora de jogo , concluindo que a velocidade da jogada, as limitadas capacidades do olho humanoe sua posição no terreno impedem muitas vezes o juíz de linha de tomar a decisão acertada.
È muito difícil o trabalho de os árbitros que têm a tarefa de supervisionar 22 homens manhosos, que passam hora e meia a correr espalhados por um hectare,e de se certificarem que as regras do jogo são cumpridas.
A diculdade é acrescida por as suas decisões do árbitro serem tomadas na hora, em fracções de segundo, e sofrerem a concorrência desleal das imagens colhidas por mais de uma dezena de câmaras de televisão e que são repetidas vezes sem conta ao longo do resto da semana.
Há árbitros honestos e outros que nem tanto. Há árbitros competentes e outros que nem por isso.As competências e honestidade dos árbitros estão sob permanente escrutínio. Os menos capazes ou corruptos são despromovidos ou irradiados. Os melhores são chamados para apitar jogos e competições internacionais.
Vitor Constâncio também é um árbitro. Um árbitro muito bem pago, pois ganha cinco vezes mais que o responsável pela Reserva Federal norte-americana. E um árbitro que não se pode queixar da falta de gente que o ajude, pois o Banco de Portugal emprega 1700 pessoas que custam 160 milhões de euros/ ano e levam vida santajá que é regra de ouro lá na casa que às 18h00 horas as portas têm de estar fechadas e as luzes apagadas.
O Governador do Banco de Portugal ébem pago e muito auxiliado mas é um árbitro muito fraquinho que não dá conta das patifarias praticadas debaixo do nariz dele pelos jogadores que era suposto supervisionar.
Esteve distraido, a dormir na forma ou a olhar para o outro lado que não o BCP, nos lamentáveis episódios das 17 off shores anónimas, das 20 off shores dos accionistas, dos empréstimos mais que duvidosoa a familiares e accionistas.
As seis horas de audição parlamentar não chegaram paranos convencer que ele não sabia das irregularidades. E é claro e cristalino que as trapalhadas que atiraram o BCP para o tapete são o resultado de falhas da supervisão do Banco de Portugal.
Não estou a dizer que Constâncio seja desonesto e tenha feito vista grossa por mal. Mas é, no míinimo, condescendente, na opinião avalizada do seu ex-colega Ulrich. Provou que não serve para o cargo. Não sei porque teima em manter-se quando toda a gente já reparou que está completamente fora de jogo.
Andam para aí muitas carpideiras por causa do que disse o director nacional da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro. Disse este magistrado, recordo, que houve alguma precipitação no caso Maddie, ao constituir arguidos os pais da menina desaparecida.
O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, mais o dos juízes e mais o dos funcionários da PJ, insurgiram-se. O prof. Marcelo disse que o homem matou - foi a palavra: matou - a investigação. E que se naquele caso o director da PJ admitiu que houve precipitação, como será nos outros casos de constituição de arguidos. Pois o meu caro professor sabe muito bem que neste país ser-se arguido é uma pena no chapéu de muita gente. Quem não é arguido não é bom pai de família, digo eu. Precisa que lhe demonstre em quantos casos se constitui arguido por nada e se leva a julgamento por coisa nenhuma? Em que país vive o prof. Marcelo?
Voltando à Maddie, os sindicatos vieram carpir as mágoas porque não se pode falar de processos em investigação. Ai não, senhores juizes e senhores e senhoras do Ministério Público? E então como é que o Correio da Manhã, por exemplo, fez 50 manchetes sobre as culpas dos McCann antes de haver sequer algo que o indiciasse? Os senhores do MP ficam muito amofinados quando alguém dá a cara; gostam muito mais que façam o trabalho por eles, que criem o clima necessário nos jornais e nas televisões, para depois poderem agir à vontade. E ai de quem se meta com eles - no mesmo Correio da Manhã, que conheci muito bem, conseguem desmentidos a quatro colunas sem terem necessidade de dar a cara, porque há sempre um Octávio - ou até mesmo dois... - prontos para isso, porque acham que assim conseguem não indispor os senhores e sacar mais umas noticiazinhas sobre o PC. Sem ninguém dar a cara, pois então...
Depois, é evidente que Alípio Ribeiro já percebeu que não vai ficar muito tempo no lugar. Quando o procurador-geral da República, o homem que ouvia barulhos no seu telemóvel e não tinha dúvidas que era escutado - é fantástico como a Justiça se declara impotente neste país -, mandou constituir uma equipa especial para investigar a noite do Porto, logo percebeu que no eterno conflito latente entre as polícias e o MP quem é que tinha os favores do Governo.
Não tenho dúvidas de que Alípio Ribeiro não vai durar muito no cargo - há muitos anos que a PJ não tem uma direcção estável e a culpa não deve ser sempre dos próprios directores nacionais. Venha o próximo, que não há-de ser do Porto como Alípio Ribeiro. Vai uma aposta?
Melhorar o sistema de transporte ferroviário é necessário, mas essa decisão tem de ser ponderada quanto ao momento e quanto às alternativas. Apresentar grandes projectos foi sempre o nosso estilo, para embalar os portugueses.
O TGV tem uma dimensão que não é fácil de gerir e não nos vai ligar à Europa, mas a Espanha, o que acabará por fazer de Madrid a sede das empresas e levar de Portugal centros e empregos qualificados.
Em relação ao trajecto do TGV ,começam os episódios de "prejudicar" algumas populações ,como está acontecer no concelho de Pombal sem darem hipótese de outras alternativas.
A linha ferroviária de alta velocidade no concelho de Pombal está a gerar vários protestos da população que teme danos irreparáveis em vários locais e mesmo o «enterramento» de uma localidade, a Assanha da Paz,
Admitindo que o projecto em fase de execução contemple outras soluções técnicas, Humberto Lopes denuncia aquilo que considera ser «falta de resposta» da empresa RAVE sobre as dúvidas manifestadas da população.
«A linha (escolhida na avaliação de impacto ambiental) tem uma margem de erro de 25 metros e uma faixa de 400 metros» pelo que «ninguém sabe ao certo quais as casas que vão ser destruídas», acrescentou o autarca, que tem ouvido as queixas da população.
O facto da linha não poder ter grandes oscilações de curvas ou declives vai obrigar a «cortar a direito» por entre veredas e terras, dividindo comunidades locais de uma «forma definitiva»
A apoiar a luta das populações está a Câmara de Pombal, que vai reunir com juristas para impugnar o processo de escolha do corredor.
O TGV «vai ter um impacto terrível sobre a qualidade de vida das populações» e embora o concelho de Pombal admita a necessidade de vir a ser atravessado pela linha, o vice-presidente da autarquia, Diogo Mateus, quer que os estudos estejam «bem feitos. .
" Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, CCDRC, [um organismo governamental] terá pressionado dois técnicos superiores a mudarem um parecer que chumbava todos os traçados de TGV entre Alcobaça e Pombal. Segundo uma investigação da SIC, os técnicos não aceitaram a pressão e por isso foram afastados compulsivamente da Comissão de Avaliação do projecto. Já esta sexta-feira, a mesma estação televisiva avançou que a CCDRC chumbou o projecto de traçado do Governo, não obstante os técnicos terem sido afastados.
Segundo a SIC, o parecer desfavorável a todos os traçados para a ligação entre Alcobaça e Pombal foi aprovado por toda a hierarquia da CCDRC e enviado para Lisboa. Mas apenas cinco dias depois de terem aprovado o documento, os dirigentes da CCDRC mudaram de posição e queriam agora que o parecer indicasse qual era o traçado mais favorável".
«Foi a própria Comissão de Avaliação que nos colocou essa questão», disse à SIC o vice-presidente da CCDRC, Henrique Moura Maia, reconhecendo pressões superiores para alterar o conteúdo do parecer. Um parecer negativo desta comissão inviabilizaria inevitavelmente os traçados propostos pela Rede de Alta Velocidade (RAVE) para atravessamento da zona entre a Ota e Pombal.
Apontar um traçado como menos mau foi uma forma de contornar a situação. Na entrevista à SIC, o vice-presidente Henrique Moura Maia diz que «as alternativas podem ser todas más mas, decididamente, havia que hierarquizá-las» porque «quem vai ter que decidir, vai ter que saber qual é a menos má».
Com esta alteração no parecer, o Governo já poderia viabilizar um dos traçados, como de resto aconteceu a 21 de Dezembro quando o Ministério do Ambiente emitiu a Declaração de Impacto Ambiental favorável ao projecto.
No parecer antes emitido, e que tinha sido aprovado e enviado para a Agência Portuguesa de Ambiente explicava-se que «os impactes gerados em termos de socio-economia, do ordenamento do território e usos do solo são negativos, muito significativos, irreversíveis e não minimizáveis (residuais)», permanecendo mesmo depois das medidas de minimização prevista no Estudo de Impacto Ambiental promovido pela RAVE.
Segundo a SIC, a CCDRC mudou de posição no mesmo dia em que o estudo estava a ser discutido pela Comissão de Avaliação de impacto ambiental do projecto (Troço de Alta Velocidade C1, entre a Ota e Pombal). Uma hora depois de ter começado a reunião foi interrompida por um telefonema do vice-presidente e do presidente da CCDRC queriam que os técnicos superiores escolhessem uma das alternativas propostas.
Os técnicos não aceitaram a pressão, como explicam num relatório a que a SIC teve acesso e arquivado na CCDRC (está assinado pelos próprios técnicos): «Esta posição não pode ser aceite (...) dado que todas as alternativas apresentam impactes negativos muito significativos». O resultado foi a destituição pura e simples: «Perante as objecções levantadas (...) o sr. presidente da CCDRC retirou-lhes a confiança (...) tendo adiantado que iria proceder à nomeação de novos representantes» regionais na Comissão de Avaliação do projecto.
O vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro não nega que os técnicos tenha sido afastados por recusarem ceder a pressões do presidente da CCDRC (Alfredo Rodrigues Marques) e de si próprio. «Não lhe vou dizer porque é que eles foram mudados, isso é uma questão de gestão interna e isso aí não me vai perguntar», disse à SIC.
Se este episódo refere-se a uns 50 Km do trajecto do TGV o que nos esperará nos restantes?
Como puderam ler,e graças a um bom jornalismo de investigação,tudo o que se faça a nível de grandes investimentos neste país aparecem sempre os tentáculos das influências....das corrupções.
Para os estimados bussolistas que ainda não tiveram ocasião de ver o post do Rogério Gomes que reproduz uma crónica publicada no jornal Público da semana finda , permito-me pedir que não deixem de o ler , porque a sua leitura e a meditação que induz é absolutamente obrigatória.
Obrigatória para quem ainda tenha dúvidas sobre a camisa de forças em que o Terreiro do Paço nos enfiou depois do Não ao tristemente célebre referendo da Regionalização e também imperdível para quem se está a dar ao incómodo de ler este meu post, já que ele é um prolongamento do que disse o Rogério. Com uma respeitosa vénia.
Esta sexta -feira , numa atitude de recato preparatória dos carnavais que se seguiam, fiquei em casa e decici ver o novo talk show do José Carlos Malato , que é a nova sala de visitas da RTP , orfã destas coisas desde a transferência do Herman para a SIC.
Depois de já ter participado numa das novas versões do Portugal no Coração após o seu desvio dos estúdios do Monte da Virgem para as novas instalações da RTP na zona da EXPO , tinha curiosidade em perceber porque é que este programa do Malato , que nasceu para a televisão em V N Gaia , tinha que ser tambám feito nos estúdios da capital.
Concluí o que já previa. Nenhuma surpresa. Quer o programa agora conduzido por João Baião e Tânia Ribas de Oliveira , quer esta Sexta Feira à Noite de Malato , só são feitos em Lisboa porque a RTP assim o deseja. Qualquer um deles poderia ser realizado no Monte da Virgem sem prejuízp algum.
Bem. Estou a exagerar. Como quer a um quer a outro a maior parte das pessoas que lá se querem levar são de Lisboa e arredores , com particular incidência no famoso eixo Lisboa Cascais , é mais barato ter os estúdios em Lisboa do que correr o risco de ter que pagar as deslocações ou outras mordomias a toda esta gente.
O poder da Comunicação não se resume à informação , hoje tão bem controlada como o Rogério já explicou em duas penadas. Também no entretenimento se disputa esse enorme poder que tudo decide e tudo condiciona e por isso também aí os nossos amigos da capital não facilitam : Assim como assim é melhor jogar em casa.
Julgo que as diferentes manifestações evocativas do centenário do Regicídio ajudaram a esclarecer os portugueses sobre um conjunto de factos que a república quis, voluntariamente, obscurecer.
Em primeiro lugar, os portugueses ficaram a saber que vivíamos, desde 1820, numa democracia constitucional evoluída, com um parlamento constituído por representantes eleitos por sufrágio, de partidos políticos legalmente constituídos;
Os portugueses ficaram a saber que entre os partidos legalizados existia também o partido republicano que, curiosamente, tinha votações que nunca chegavam aos 2 dígitos (sempre inferiores aos 10%);
Os portugueses ficaram a saber que a República se fundou numa revolução não democrática que começou por esse acto violento da morte do Chefe de Estado;
Os portugueses ficaram a saber que esse acto nunca foi julgado pela própria república, desaparecendo misteriosamente o processo que envolvia gente muito mais importante que os mandados Costa e Buiça;
Os portugueses ficaram a saber que a república consagrada 2 anos depois, impôs um regime de repressão, autoritarismo, perseguição e instabilidade, com limitações ao sufrágio universal e ao funcionamento dos partidos políticos e demais instituições democráticas;
Os portugueses ficaram a saber que o clima de anarquia social e de desordem que se sucedeu era de tal ordem que, alguns anos depois, foi declarada uma segunda república que impôs a Portugal uma ditadura de 48 anos. Como bem disse o Prof Dr Rui Ramos, insuspeito técnica e politicamente, se não tivesse havido o regicídio, existiria certamente Salazar, mas não teria existido seguramente o Salazarismo e a Ditadura;
Os portugueses ficaram a saber que desde o tempo da Monarquia constitucional, Portugal caiu em todos os indicadores de bem-estar e de desenvolvimento, quando relativamente comparado com os seus parceiros europeus;
Os portugueses ficaram a saber que esta república, fundada numa revolução violenta e não democrática, se continua a impor a todos nós que nunca a escolhemos e estamos até constitucionalmente impedidos de o fazer;
Os portugueses ficaram a saber, enfim, que por terem nascido em república não têm que ser ou sentir-se republicanos;
Os portugueses ficaram ainda a conhecer melhor o Rei Dom Carlos. Curiosamente um Chefe de Estado que pela Sua versatilidade e múltiplas dimensões, serviria bem à Chefia de Estado de um Portugal globalizado como o de hoje.
Os portugueses ficaram também a saber que, apesar de tudo isto, o Senhor Dom Duarte, bisneto do Rei Dom Carlos, não falou nestas Comemorações em vingança, nem sequer em reparo ou desagravo. Assumindo a sua responsabilidade histórica, falou antes em reconciliação nacional e em reencontro dos portugueses com a sua história. O mesmo fez o Cardeal Patriarca de Lisboa que enfatizou que nenhuma democracia pode legitimar a violência ou, como no caso da nossa República, se pode legitimar através dela. Mal estiveram alguns deputados que evidenciando um preconceito que (como as nódoas do avental?) tanto custa a lavar, votaram desfavoravelmente, cem anos depois, um voto de pesar simbólico pela morte de um Chefe de Estado Democrático;
No balanço final, julgo que tudo isto teve a enorme virtude de permitir que os portugueses reflictam, com tranquilidade sobre a sua história e as opções que, em Democracia, melhor servem o nosso futuro com Nação e como Estado.
Um último comentário que os portugueses provavelmente ainda não sabem e que vale pelo seu simbolismo: Apenas 9 anos depois de instaurada a República, o Norte sob a batuta de Paiva Couceiro, veio a restaurar novamente a Monarquia, naquela que ficou historicamente conhecida pela Monarquia do Norte.
Naquela altura, e uma vez mais na nossa história, foi o egoísmo centralista da capital que não permitiu que Portugal se cumprisse.
Neste dia em que se comemora o centenário do regícidio, quero homenagear Dionísio Santos Silva,portuense ilustre e um dos lideres da levantamento armado republicano do 31 de Janeiro de 1891, no Porto.
Dionísio, o inaugurador de quatro inclíticas gerações de Santos Silva, começou a vida como operário chapeleiro e desde moço se envolveu nos movimentos cívicos que assinalaram o início do estertor da Monarquia no último quartel do século XIX.
Em 1877, com 25 anos, foi um dos principais agitadores da greve dos chapeleiros. Porteriormente fundou e foi um dos administradores do jornal Republica Portuguesa, onde colaboraram Basílio Teles, Teófilo Braga, Latino Coelho e António José Almeida, entre outros.
Já era um homem maduro (tinha 47 anos) e estava estabelecido com uma chapelaria no número 65 da rua de Santo António (que mais tarde viria a ser rebaptizada rua 31 de Janeiro) quando foi um dos conspiradores e cabecilhas da revolta de 31 de Janeiro.
Envergonhados com a cedência monárquica ao Ultimatum Britânico (a Coroa aceitou desistir do Mapa Cor-de-Rosa que consistia em criar a África Meridional Portuguesa, de costa a costa, entre Angola e Moçambique), os republicanos portuenses preparam um levantamento militar para derrubar o regime monárquico, que saiu para a rua na manhã de 31 de Janeiro e foi esmagado, por volta da hora do almoço, com o reduto final dos amotinados render-se depois de ter sido encurralado na Praça da Batalha, ao cimo da rua de Santo António, pelas tropas fieis ao rei.
Dionísio foi encarcerado no paquete Moçambique, ancorado em Leixões, e submetido a Conselho de Guerra.Com ele preso, a chapelaria abriu falência. Quando foi libertado recompôs a vida como sócio gerente do Teatro Circo Águia de Ouro.
Dionísio inaugurou uma dinastia de quatro gerações de Santos Silva que marcaram pela positiva, nos últimos 120 anos, a vida da nossa nobre, invicta e sempre leal cidade.
O seu filho Eduardo era médico e foi por duas vezes presidente da Câmara do Porto, tendo sido ele quem criou o Conservatório de Música e a Maternidade e lançou a obra de abertura da avenida dos Aliados e dos Paços do Concelho. Deputado, votou a favor da entrada de Portugal na I Guerra Mundial e de seguida, coerente com o voto, demitiu-se do parlamento e alistou-se no Corpo Expedicionário Português, onde serviu em França, como capitão médico. Era o ministro da Instrução Publica no útmo governo da I Repubica, derrubado pelo movimento do 28 de Maio.
O seu neto Artur era advogado e um dos mais destacados oposicionistas à ditadura salazarista.Foi um dos dois Artures(o outro foi Artur Andrade, oarquitecto que riscou o belo cinema Batalha) que se meteram no comboio e foram a Lisboa convencer, em nome dos republicanos, Humberto Delgado a candidatar-se à Presidência da República. A sua casa, no 321 da rua do Bonfim, era, ao mesmo tempo, a um antro de conspiração contra o regime e um lugar de cultura, frequentado por Mário Soares, Sophia, José Régio, Torga e Salgado Zenha, entre outros.
O seu bisneto Artur é advogado de formação mas distinguiu-se como banqueiro ao ser o fundador do BPI, o primeiro banco privado português a nascer depois das nacionalizações do 11 de Março de 1975
É na generosa vida de Dionísio Santos Silva em que eu penso e reflicto neste dia - o primeiro de Fevereiro e o dia a seguir ao 31 de Janeiro.
Segui com natural interesse e razoável expectativa o 3º Encontro Porto Cidade Região, uma muito louvável iniciativa da Universidade do Porto que assim assume o seu insubstituível papel de catalizador de reflexão e de procura de novos caminhos para o desenvolvimento regional. Teremos naturalmente que esperar pela redacção das suas conclusões para uma percepção clara do peso que algumas extracções entretanto feitas pelos órgãos de comunicação social terão no relatório final, desde logo o relatado consenso à volta da necessidade da Regionalização que, com a completa conversão de sectores anteriormente renitentes, como é o exemplo de Rui Rio, daqui só pode sair reforçada.
O que motiva este meu impulso para intervir no espaço público é a ausência deste encontro de um tema que penso incontornável, quer pensando no desenvolvimento económico e social strictu sensus da região quer na Regionalização: o da informação/comunicação social.
Tenho a certeza de que é um sector absolutamente estratégico, custa-me perceber que ele não tenha estado no centro das reflexões deste considerável conjunto de “massa crítica” reunido para debater o futuro regional, o nosso futuro.
Dois vectores, entre outros, possíveis de avocar para perceber a importância da informação/comunicação para o desenvolvimento regional.
A identidade. A comunhão de interesses, a proximidade social e uma definição cultural mínima são pontos centrais para se ganhar a opinião pública para um projecto tão estrutural e ao mesmo tempo polémico como é a Regionalização. Explicar as vantagens económicas e sociais da constituição em Região, relevar o conjunto de características e de costumes que unem as populações e aprofundar a cultura que faz a diferença com outras regiões não podem deixar de ser objectivos dos defensores do processo político que levará até à Regionalização (com ou sem referendo).
A propriedade e os conteúdos: Em que terreno se fará esta autêntica batalha ideológica em prol da Região Norte? Claramente na comunicação social. E quem domina a comunicação social, na sua propriedade na opinião publicada? Não são claramente adeptos da Regionalização ou sequer de uma descentralização políticio-administrativa minimamente séria.
Este tem sido um terreno (a par do sector bancário) em que o centralismo nunca facilitou.
Desde a atribuição das rádios regionais, com a derrota da Rádio Nova em favor de uma Rádio Press que não passou de um instrumento para chegar ao que é hoje a cadeia TSF, que nunca cumpriu o espírito de uma Lei que na sua origem apontava para a existência de uma emissora regional (onde está ela?); passando pela privatização do “Jornal de Notícias”, primeiro negado ao comendador Gonçalves Gomes que quis comprá-lo e de pois literalmente “roubado” à cooperativa dos seus jornalistas que tinha o apoio do Grupo Amorim; pela atribuição das licenças de TV privadas, com a Sonae a ser preterida em favor da Igreja, que depois, como era previsível, não aguentou o projecto e passou-o a terceiros; o fecho da NTV, em que a opção política se sobrepôs claramente ao interesse regional; com a recente venda do conjunto de publicações do grupo Lusomundo em que uma vez mais a Sonae ficou para trás…
E se formos aos conteúdos, onde está a expressão regionalista nas colunas ou nos espaços opinativos das rádios e das televisões? Contam-se pelos dedos os colunistas claramente comprometidos com opções regionalistas e a muitas vezes acantonados em edições locais… Passemos mentalmente em revista jornais, rádios e televisões nacionais (é claro que o conceito “nacional” se confunde com sede em Lisboa) e é fácil concluir que o Porto e Norte estão esmagadoramente arredados desses espaços e as poucas excepções a este 3º Encontro Porto Cidade Região,ostracismo estão confinadas ao futebol ou a programas de entretenimento fora dos horários nobres.
E lembremos o que foi acontecendo com as em tempos poderosas delegações do “Expresso” ou do “DN”, ou das hoje inexistentes representações institucionais do “Semanário” ou do “Sol”; da não surpreendente falta de peso nos noticiários nacionais das delegações da SIC ou da TVI e mesmo da incerteza do que será a produção informativa da RTP (seja para a “N” ou para os jornais nacionais)… O “Público” é um jornal com natural vocação nacional com espaço reduzido para a informação local ou regional e o “JN”, com o respeito devido ao seu êxito comercial, perde-se entre o seu mercado natural (regional) e uma ambição nacional que o próprio mercado se vai encarregando de negar todos os dias (já agora, será natural que o actual paradigma do jornal do Norte esteja em simultâneo desavindo com o presidente da Câmara e da Área Metropolitana do Porto e tenha tão “má consciência” em relação ao FC Porto?).
E a questão que fica para os intervenientes no 3º Encontro Porto Cidade Região é simples: em que meios vão ter espaço para explanar e expor consistentemente as suas ideias? Não foi o Norte pujante quando tinha o “Jornal de Notícias”, “O Comércio do Porto” e “O Primeiro de Janeiro” interventivos, sem complexos e claramente ao serviço da população do Porto e da Região? No preâmbulo da República, durante o Estado Novo ou no “Verão Quente” foi nas suas páginas que as principais figuras portuenses encontraram espaço para a sua opinião e para as sementes da mudança ou da resistência.
Em que jornal, rádio ou televisão não é preciso mendigar espaço para defender a Regionalização ou ser “politicamente incorrecto” para com o centralismo? E as autarquias? As suas iniciativas, o seu dia a dia, que é o do cidadão comum, não merecem espaço digno, mais do que as parcas colunas das “Regiões” ou da “Província” onde sai arrumadas para não parecer mal?
O exemplo da comunicação social regional por toda a Espanha devia ser um exemplo e uma prova da vitalidade de projectos absolutamente viáveis e, repito, indispensáveis à afirmação regionalista.
Rogério Gomes
(texto publicado no Local/Porto do "PÚBLICO" de 01.02.2008