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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

A ponte é uma passagem para outra margem

As pontes foram o santo e a senha do Porto 2001 Capital Europeia da Cultura, iniciativa que, como tudo na vida, teve coisas boas, outras nem tanto (e algumas mesmo más, mas isso não é chamado aqui ao caso) – de que herdamos a Casa Música (não só o maravilhosamente estranho hardware riscado pelo Koolhas, mas também o software que lá corre) e alguns intangíveis (as invisíveis sementes da formação de públicos culturais que germinam por aí).

As pontes são fundamentais, no seu duplo sentido literal e figurado. Como nos lembraram, em tempo oportuno, os Jafumega, “a ponte é uma passagem para outra margem”.

Lançar pontes é importante nas vidas das pessoas e das cidades, principalmente das cidades com rio - como é o caso do Porto, nascido no esforço final que as águas do Douro fazem para descansarem no Atlântico.

Vem tudo isto a propósito de um jovem engenheiro de 24 anos, formado numa das escolas onde o Porto manifesta a sua excelência (a FEUP) e chamado Edgar Ribeiro, ter ganho o Prémio Secil com um projecto de ponte pedonal em aço que ligaria a Praça da Ribeira (Porto) ao largo Sandeman (Gaia), tem um ar elegante e um orçamento baixo (5,3 milhões de euros).

Álvaro Azevedo, o professor do Departamento de Engenharia Civil do Porto que coordenou este trabalho de investigação, desabafou a propósito:

“Seria muito interessante a construção desta nova ponte, mas a concretização deste projecto é um problema muito complicado, até porque os presidentes das câmaras do Porto e de Gaia raramente se sentam a conversar”.

Será preciso acrescentar o óbvio? Que o Porto precisa de quem saiba pôr os interesses da cidade à frente das fúteis rivalidades e velhas ciumeiras entre dois membros desavindos de um mesmo partido? Que a ponte é uma passagem para outra margem e nós precisamos mesmo de atravessar este Rubicão?

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

A alternativa ao suicídio

Os jornais nasceram com um modelo de negócio simples: vendiam palavras aos leitores e leitores aos anunciantes.

A rádio e a televisão forçaram os jornais a adaptar-se à concorrência de meios mais rápidos e atraentes (acrescentavam som e imagem) e que introduziram uma variante ao modelo de negócio, pois viviam apenas da publicidade, uma indústria que cresceu exponencialmente num século em que crédito e consumo foram os motores do boom económico.

A televisão tornou-se uma Meca para as marcas sequiosas de contactarem com consumidores ávidos de gastar dinheiro.

Os patrões dos jornais (mesmo os que sabiamente construíram grupos multimédia) nunca esconderam uma pontinha de inveja por um negócio que não estava dependente dos humores dos leitores, um conceito que os novos meios substituíram pelo de audiências  - mais adequado, porque para consumir rádio e televisão não é imprescindível saber ler.

A revolução da Internet (que para chegar a 50 milhões de pessoas só precisou de quatro anos, contra os 13 da televisão e os 38 da rádio), com informação gratuita à distância de um clic, foi a gota de água que levou os patrões de imprensa a sacrificarem o leitor no altar das audiências.

A receita das vendas de papel foi negligenciada e a palavra de ordem passou a ser comprar audiências, a golpes de marketing,  que depois seriam transaccionadas por páginas de publicidade.

A capilaridade da rede de distribuição de jornais foi destruída, a tal ponto que é mais difícil comprar hoje um jornal do que era há dez anos. Os ardinas e pontos de venda improvisados foram varridos, só sobrevivendo os quiosques com capacidade de armazenamento da parafernália que passou a parasitar jornais e revistas: DVDs, guarda chuvas, medalhinhas, sacos de praia, chinelos, cursos….

A imprensa entrou em crise no preciso momento em que os seus gestores optaram pela estratégia (no entretanto falida) de comprar audiências em vez de agradar aos leitores.

Enquanto a televisão corrigia o tiro e diversificava as fontes de receitas, com os canais temáticos pagos e distribuídos por cabo, a imprensa deixou-se ficar refém da publicidade e de gente que não compra o jornal por causa da faca de queijo – e não para o ler.

A atenção humana é o factor escasso num mundo em que todos os anos duplica a informação produzida – em 2008 foram gerados 4 exabytes, ou seja mais do que nos 5 000 anos anteriores.

Neste momento, em que todos temos as estantes cheias de enciclopédias que não vamos abrir e de DVDs que não vamos ver, e em que a publicidade vai emergir da crise com uma nova gramática, a única alternativa ao suicídio é os jornais voltarem-se para leitores.

Num mundo em efervescente mudança, em que as dez profissões que vão ser mais procuradas em 2010 não existiam há cinco anos, só sobreviverão os jornais que apostarem no jornalismo e forem capazes de ajudar os leitores a desbravar a selva da informação em que vivemos, dando-lhes coisas (escolhas, explicações e opiniões) que eles não saibam e precisem e gostem de saber.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Tb não gosto de pessoas que "só têm fora"

Se tivesse de fazer o meu top ten de ruas do Porto, estou certo que a do Campo Alegre teria lá um lugar cativo, ao lado da Rodrigues de Freitas (onde vivi até aos 15 anos, junto ao Jardim de São Lázaro, cujo coreto foi imortalizado num das mais comoventes aguarelas de António Cruz), da Marechal Gomes da Costa (onde eu viveria se fosse rico) e de sete outras – que não vou seleccionar agora.

Nunca morei no Campo Alegre, mas estudei lá durante os três últimos anos do curso, algures entre as mesas do Botânico (cuja esplanada coberta pelas arcadas ainda frequento com bastante assiduidade) e as do Capa Negra (cujos rissóis, francesinha e tripas à moda do Porto permanecem lendários).

A toponímia do Porto prima pela boa disposição e o Campo Alegre não é excepção. Rima e é verdade. Assim de repente, lembro-me da rua da Alegria, do Jardim do Passeio Alegre e do Campo Lindo. Mas há mais.

O Campo Alegre tem inúmeras coisas a seu favor, entre as quais o Jardim Botânico, instalado na Casa Andresen, onde cresceram Sophia e Ruben A., autor da magistral auto-biografia intitulada O Mundo à minha procura.

Em lembrança dos bons momentos passados junto laguinho dos nenúfares, partilho convosco uma frase curta de Sophia (dizia ela que não gostava das pessoas “que não têm dentro - só têm fora” ) e outra, mais longa de Ruben A:

“Dos 40 aos 50 limpa-se a casa, põem-se as telhas onde faltam, instala-se um novo sistema sentimental e no jardim das delícias, depois do jantar, nas madrugadas sem Deus, ouvimos uma voz que nos buzina que dali para a frente a contagem é outra”.

Nº 2 de Santana e Manuela curto de saídas

No próximo dia 25 de Abril, o presidente da Câmara do Porto vai pôr uma  medalha no peito de Belmiro de Azevedo.

Não é preciso ser engenheiro de foguetões para perceber porquê. Lá mais para o Outono há eleições autárquicas e o ex-número dois de Pedro Santana Lopes e de Manuela Ferreira Leite (1) sabe que, com as suas sucessivas hesitações, desperdiçou para Passos Coelho a hipótese de ter um retrato na escadaria da sede laranja na rua de São Caetano à Lapa.

Por outras palavras. Se o Pinto da Costa aceitasse, não tenho a menor das dúvidas de que no próximo dia 25 de Abril estaria ao lado de Belmiro nos Paços do Concelho.

E não me espantaria nada se o Rui Rio pusesse a varanda da Câmara à disposição dos festejos pela conquista de mais um título pelo FC Porto.

………….

(1) Juro que não há ponta de sarcasmo embutida neste alinhamento. Ao fim e ao cabo, toda a gente sabe que a capacidade de contorcionismo é muito elogiada e uma vantagem comparativa nos tempos que correm.

A hora de corrigir um erro velho de oito anos

Imaginem por um segundo que, logo à noite, o FC Porto alinha no Dragão com o Hulk a fazer dupla de centrais com Lucho, Fucile a ponta de lança, o Helton a médio ala e o Raul Meireles na baliza.

Toda a gente diria que o Jesualdo Ferreira tinha endoidecido.

Não é segredo para ninguém que um dos segredos do sucesso é pôr as pessoas certas no lugar certo – que é onde mais rendem. O Helton na baliza, o Fucile a defesa lateral, o Raul Meireles e o Lucho a segurarem o meio campo e o Hulk lá frente a despedaçar (esperemos) a defesa do Atlético de Madrid.

Na política, também se aplica a regra do homem (ou da mulher, como sucede no caso em apreço) certo no lugar certo. É por isso que não faz o mínimo sentido que Rui Rio – que foi um óptimo director financeiro das Tintas Cin e daria um magnífico secretário de Estado do Orçamento – seja presidente da Câmara do Porto.

Um velho provérbio umbundo avisa-nos que se virmos um cágado em cima de uma árvore é porque alguém o pós lá.

Quem pôs Rui Rio na Câmara do Porto foi o PSD e os eleitores do Porto que queriam castigar Fernando Gomes por ter fugido para Lisboa – e ainda por cima ter feito má figura na sua deambulação pela capital.

Fizerem isso, porque, nem o partido nem os eleitores se aperceberam que ele podia ganhar. No dia a seguir, já estavam arrependidos do crime contra a cidade que tinham cometido.

Oito anos depois, está na hora de corrigir este lamentável erro.

Apito Dourado favorece porto de Leixões

O porto de águas profundas de Sines era o centro de gravidade do programa de reconversão industrial marcelista, torpedeado pelos choques petrolíferos e afundado, em definitivo, pela Revolução de Abril.

No virar do século, a península de Setúbal e Sines voltaram a ser eleitos como o coração e motor do desenvolvimento nacional.

O essencial dos recursos do país foi canalizado para esta região, com os sucessivos governos (laranja ou rosa, não importa a cor) a não se pouparem a despesas como ficou demonstrado com a compra dispendiosa da Auto Europa, logo transformada em épico investimento bandeira.

Neste contexto, alguém é capaz de me explicar porque que é que os portos de Norte (Aveiro e Leixões) foram os únicos a aumentarem em 2008 o volume de carga movimentada?

Por que é que o porto de Leixões alcançou o valor recorde de 15,6 milhões de toneladas movimentadas (mais 5% que em 2007), enquanto que o de Lisboa quebrou 1,4% (para 13 milhões de toneladas) e do de Sines caiu para 25 milhões de toneladas?

Terá sido por causa do Apito Dourado?

A imaginação ao poder!

O que mais me custou durante os quatro meses que estive em Mafra não foi a patrulha das 24 horas non stop, fazer o rappel e o slide, andar no pórtico ou ter passado completamente encharcado a semana de campo, no Sobral de Monte Agraço.

O que mais me custou durante a recruta e a especialidade não foi habituar-me a obedecer sem pensar, as marchas/corridas até à Ericeira ou ser acordado a meio de noites mal dormidas e ter de arranjar tempo e concentração para me iniciar nos cálculos do tiro curvo (morteiro) e tenso (canhão 90 e LGFs).

O que mais me custou durante a minha estadia na ala do Convento ocupada pela Escola Prática de Infantaria não foram tão pouco as brincadeiras irresponsáveis com granadas ofensivas que custaram o braço e ouvido direitos ao aspirante instrutor, a duas semanas dele passar à peluda.

O que mais me custou fazer na tropa foi o salto no escuro. Eu explico. Totalmente equipados (mochila, capacete, cantil cheio e G3) saltávamos para o escuro, numa noite de Inverno e sem estrelas, na Tapada de Mafra.

Não víamos nada. Népias. Sabíamos que iríamos aterrar, mas não fazíamos a mínima ideia de como armar o salto ou flectir as pernas, porque a terra firme tanto podia estar à distância de 30 centímetros ou de dois metros. Acho que todos temos medo de mergulhar no desconhecido.

Peço desculpa por me alongar com esta história. Nós, homens, não nos conseguimos calar quando começamos a recordar episódios da tropa. Mas a verdade é que esta ideia do salto no escuro é a imagem mais aproximada da situação que vivemos.

Sabemos que o inevitável processo em curso de destruição de riqueza vai acabar um dia, mas não sabemos quando, nem até que ponto os governos vão conseguir controlar os danos.

“Vou ter de apagar a tabuada que aprendi e usei até ao ano passado”, confessou, num curioso misto de lucidez e candura, Berardo, um dos protagonistas da festa que acabou em tragédia.

Joe tem razão. Temos de admitir que 2 + 2 possam já não ser 4. Temos de aceitar que vamos ter de usar uma nova gramática na construção do um novo modelo de vida que vai nascer nos escombros do velho.

As velhas receitas não servem no combate a novos problemas, da mesma maneira que os antibióticos eram eficazes no combate à Sida.

A resposta não está em tentar descobrir variantes dos convencionais 4x4x2 ou 4x3x3 das teorias económicas. Os novos e atribulados tempos exigem novas e arrojadas soluções e o fim dos dogmas - que, como dizia Mao, são menos úteis que a bosta de boi, pois esta ao menos serve de estrume.

Uma nova elite vai ter de emergir-se e afirmar uma cultura desprovida do medo do fracasso. Como nos veio cá lembrar Kjell Nordstrom, “aceitar socialmente o falhanço é essencial, por que falhar é a chave da inovação”.

Afinal, a chave do sucesso foi inventada há quase 41 anos e esteve escrita nos muros de Paris: “A imaginação ao poder”.

A inovação e a criatividade são as únicas ferramentas que nos permitirão sair do buraco em que vamos cair quando aterrarmos do salto que estamos a dar no escuro.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

Os números da dor do centralismo

As cidades querem-se densas – senão não eram cidades, mas sim campo. Quanto mais densas forem, maior é a oferta de serviços.

Mas da maneira que uma cidade, para ser eficiente e confortável, precisa de ter uma massa crítica mínima  - também há uma lotação máxima que não deve ser ultrapassada.

O modelo de desenvolvimento português dos últimos 50 anos consistiu em concentrar o essencial dos recursos do país na construção de uma metrópole (Lisboa) com massa crítica para ser competitiva com as grandes cidades europeias da segunda linha (ou seja, Paris e Londres excluídas).

Lisboa foi crescendo à custa do resto do país, até atingir uma dimensão que já não interessa sequer aos seus habitantes.

É isso que dizem os dados do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia. Em média, no país, espera-se cinco meses por uma cirurgia não urgente. O tempo que se está em lista de espera no Alentejo (3,2 meses) ou no Norte  (4,1 meses) é inferior à média do país. Em Lisboa é muito superior: 6,4 meses, ou seja 192 dias.

Estes são os números da dor de um crescimento exagerado e do centralismo.

Jorge Fiel

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Um método de despistagem de idiotices

Não gosto de clichés. Nunca gostei. Arrepiam-me. É por isso que fujo de ler as crónicas que os jornalistas (e ofícios correlativos) lisboetas escrevem quando regressam de uma estadia no Porto.

Não as lia para não me incomodar. Mas agora arranjei um método infalível de despistagem de idiotices, com a ajuda do software Word.

Antes de me aventurar a ler uma crónica, faço uma busca das seguintes palavras: francesinha, aloquete, cadeado, postura, Aleixo, francesinha e praça de táxis, tripas.

Se tiver apenas duas (ou menos) destas palavras, arrisco uma leitura. Se tiver entre três e quatro ainda fico a pensar. Mais de quatro? Ni hablar!

Desde que inventei este método genial ainda não li mais nenhuma crónica sobre o Porto escrita por um lisboeta.

Jorge Fiel

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Venha daí essa bicharada!

Uma das grandes lacunas na oferta do Porto metrópole é a ausência de um Jardim Zoológico decente.

Quando eu era miúdo, o mais próximo que havia de um Zoo era um pequeno correr de jaulas, no jardim do Palácio de Cristal, onde as vedetas eram o leão Sofala (dizia-se que tinha as unhas encravadas, não sei se era verdade ou piada aos sportinguistas) e o chimpanzé Chico do Palácio.

Agora, tudo leva a crer que a Câmara da Maia, com o apoio do Fernando Póvoas e outros privados, se prepara para transformar a incipiente colecção de animais que estão em exposição no concelho no melhor e maior Jardim Zoológico da Europa.

Só posso bater palmas, com entusiasmo. Venha daí essa bicharada.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

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