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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Confesso que tenho invejo do Zoo de Lisboa

Amar o Porto não me impede de gostar (e muito) de Lisboa, onde trabalhei durante quase seis dos nos nove anos que leva este atribulado século.

Como portuense invejo algumas das coisas que Lisboa tem.

Uma das coisas que invejo em Lisboa é o seu Jardim Zoológico, sendo que nesta frase se compreendem os dois sentidos: o literal e o figurado.

Invejo em Lisboa o Zoo de Sete Rios, a que todos os anos faço questão de levar o meu filho João. É bom uma pessoa poder-se meter no metro e  desembarcar num parque onde pode ver ao vivo leões, girafas, hipopótamos, rinocerontes, camelos, macacos, elefantes e preguiças.

Invejo ainda em Lisboa o cosmopolitismo que herdou do facto de ser a capital de um império desfeito – a mistura de raças e culturas, a diversidade de gentes e costumes.

Foi com base num cruzamento de culturas diversas (o famoso melting pot) que a América se tornou grande.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

 

Olhem eu a querer armar-me em Fino

Este Fino é mesmo fino

Tenho uma pequena carteira de acções: 7300 Sonae SGPS, 912 Sonae Capital, 466 Impresa, 310 EDP Renováveis e 250 Santander. Valia 7 673 euros a 31 de Janeiro.

Este dinheiro dava-me agora jeito para ajudar a pagar as obras num andar que comprei. Mas custa-me liquidar, a cotações de saldo, uma carteira que a 31 de Janeiro de 2008 valia 13 881 euros (sem as 310 EDP R!).

Não há drama. Posso financiar as obras sem tocar nas acções. Mas me deixassem, fazia com a Caixa um negócio tipo Fino. Vendia a carteira à Caixa por 14 mil euros, salvaguardando o direito de a recomprar nos próximos três anos. O problema é que tenho tantas hipóteses de ser bem sucedido neste negócio como uma bailarina com uma perna de pau.

Estou a ver a cena. Chegado ao balcão, dizia ao que ia e a cara da bancária (preferia que fosse uma mulher) abria-se num largo sorriso e dizia-me: “O senhor está a querer-se armar em Fino!”. Depois explicava-me que o negócio era impossível porque não devo dinheiro à Caixa e a verba em causa é ridícula – para o caso poder mudar de figura, teríamos de acrescentar-lhe dois zeros à direita.

Fino pode vender 10% da Cimpor à Caixa por mais 62 milhões do que valem, porque a astronómica quantidade de dinheiro que deve provocaria rombos enormes nas contas de uma data de bancos, se eles tivessem de assumir que ele não pode pagar.

A explicação de Teixeira dos Santos para esta operação até nem é má  – evitou uma perda de 80 milhões pela Caixa, em 2008. Só pecou por não ter usado o verbo adequado: em vez do evitar, deveria ter utilizado os verbos mascarar, camuflar ou esconder.

Os bancos sabem que ninguém está falido enquanto as pessoas não souberem que está falido. Por isso, usam as garantias do Estado e o dinheiro dos contribuintes para maquilharem os erros do passado e manterem créditos zombies artificialmente vivos.

Berardo deve mil milhões de euros a três bancos (CGD, BCP e BES), que usou para comprar 6,2% de um deles (BCP), onde acumulou perdas potenciais de 800 milhões de euros – superiores à contribuição dos EUA para a reconstrução da Faixa de Gaza. Esta notável performance foi premiada com o congelamento do pagamento de juros durante quatro anos e o prolongamento do prazo dos empréstimos.

O BCP tem 10% da Teixeira Duarte (TD), que tem 7,5% do BCP, cujo fundo de pensões tem 10% da Cimpor, onde a TD tem 23,3% (dos quais 5% dados como colateral à Caixa, que está em força nos cimentos). Em face desta teia, é mais provável o Estado português abrir falência do que a TD, que deve dois mil milhões de euros.

É por estas e por outras que o crédito está a ser negado a empresas viáveis, que a banca está a estrangular ao não lhes acudir aos problemas de tesouraria.

É por estas e por outras que dói no coração assistir à falência de grupos exportadores, como o corticeiro Suberus, que a banca asfixiou ao retirar-lhe o crédito operacional.

Os banqueiros que se cuidem. Se não arrepiam caminho, qualquer dia o Bonnie & Clyde volta a ser um filme de culto - e o El Solitário e o gangue das Perucas são os novos Robin dos Bosques.

 

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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