O Porto é o distrito do país com mais casos de tuberculose, com 36 casos por mil habitantes, de acordo com os dados divulgados pelo Centro de Referência Nacional da Tuberculose.
O Porto é o distrito do país mais atingido pelas falências, com 28% do total de insolvências registadas, de acordo com o Estudo de Insolvências e Constituições de Empresas Portugal 2008/2007, da Coface.
O Porto é o distrito mais pobre do país, com 252 mil famílias a viverem do Rendimento Social de Inserção (RSI), de acordo com um estudo do Ministério da Segurança Social. Só no concelho do Porto, mais de 10% dos moradores sobrevivem à custa do RSI.
Sem futuro, sem lideres, sem investimento e sem projectos, o Porto está triste e caminha para uma situação social explosiva.
Para inverter a situação, o melhor é começar pelo princípio e arranjarmos uma liderança. Na minha opinião, a esperança do Porto chama-se Elisa Ferreira.
As árvores não sobem até ao céu, mas nós as vezes esquecemo-nos disso.
É por excesso de optimismo que muitas famílias caem no pântano do sobre-endividamento. Convencidas que os seus rendimentos não vão parar de crescer ao longo dos próximos 15 ou 20 anos, contraem empréstimos que deixam de poder pagar quando a vida lhes prega uma partida feia e o desemprego lhes bate à porta.
É errado e perigoso planear o futuro tendo como base que os nossos rendimentos vão continuar a progredir ao mesmo ritmo que nos últimos anos.
As projecções valem o que valem (ou seja, pouco) e devíamos todos parar para mastigar a sabedoria de Voltaire quando nos avisou que não devíamos insultar o futuro tentando prevê-lo.
O futuro já não é o que era, e a prová-lo está aí o INE a dizer-nos que os preços, tal como as árvores, também não sobem até ao céu – e que a inflação homóloga, em Portugal ficou abaixo do zero pela primeira vez em quase meio século.
Vem tudo isto a propósito de o aeroporto de Lisboa ter perdido mil voos em 2008, de acordo com um estudo da operadora de jactos privados Jet Republic.
Se calhar não seria estúpido voltar a fazer as contas que nos garantiam que o aeroporto da Portela estava saturado e não ia chegar para as encomendas.
Se calhar até vamos concluir que, afinal, o aeroporto de Alcochete não é assim tão necessário – e corre o risco de se transformar em mais um elefante branco.
No intervalo de uma reunião do Politburo, Mao perguntou a Chu Enlai e a Deng Xiaoping: “Sabem como se faz para um gato morder uma malagueta?”
Chu respondeu: “Segura-se nele, abre-se-lhe a boca e mete-se a malagueta lá dentro”.
Mao disse que não: “Isso é obrigá-lo e nós queremos é que o gato morda na malagueta de livre vontade”.
Foi a vez de Deng: “Pega-se na malagueta, envolve-se num deliciosa posta de peixe e, antes mesmo de o saber, o gato já mordeu a malagueta”.
Mao voltou a dizer que não: “Isso seria uma intrujice, pois nós queremos que o gato saiba que está a morder a malagueta”.
Chu e Deng desistiram: “Como é que fazes então para que o gato morda a malagueta?”
“É fácil”, respondeu Mao. Mete-se a malagueta no rabo do gato. Ele não vai querer outra coisa senão mordê-la”.
Vem esta anedota chinesa a propósito da solução ardilosa que o presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) arranjou para obrigar os outros protagonistas do sector da saúde a clarificarem a sua posição sobre os genéricos.
Durante uma semana, a maioria das farmácias filiadas na ANF forneceu o medicamento mais barato (genérico) em vez do de marca, mesmo que essa troca não fosse expressamente autorizada pelo médico que passou a receita. No final, João Cordeiro revelou que esta troca gerou, em meia dúzia de dias, uma poupança superior a 200 mil euros (112 mil aos utentes e 93 mil ao Estado).
Ana Jorge mordeu a malagueta. A ministra de um Governo que fez campanha pelo uso de genéricos meteu os pés pelas mãos. Acusou a troca de “ilegal” – mas não precisou à luz de que lei. Falou em “perigo para a saúde pública” o que soa como a delírio depois do Infarmed ter vindo garantir que os genéricos “têm a mesma substância activa, forma farmacêutica e dosagem do remédio original, de marca, que lhe serviu de referência” – só que são mais baratos entre 20% a 35%.
O bastonário dos Médicos também mordeu malagueta ao defender a prescrição do medicamento mais barato, “em igualdade de circunstâncias” (que o Infarmed jura existir).
Já só falta morderem a malagueta os destinatários da acusação que Cordeiro fez ao dizer que a polémica dos genéricos seria muito mais fácil de perceber se as principais agências de viagens do país publicassem a lista dos seus maiores clientes.
Em Janeiro, fecharam as portas dez empresas por dia – revela um estudo da Dun & Bradstreet.
A construção civil foi o sector mais atingido pelas falências, neste primeiro trimestre do ano.
O Porto foi o distrito mais sacrificado, com 28% do total das falências. Se lhe juntarmos Braga (16%) e Aveiro (8%) temos que 60% das empresas que sucumbiram eram da grande área metropolitana nortenha.
A doença de que esta vaga de falências é sintoma, não vai afectar apenas o Norte, ao contrário do que gente de vistas curtas poderá julgar.
As PME que estão a tombar, asfixiadas pelo criminoso fechar da torneira do crédito bancário, são, na sua maioria, empresas exportadoras de bens transaccionáveis, de que tanto precisamos para atenuar o galopante crescimento do défice externo.
Estas falências são um mau sinal, porque nos dizem que o emagrecimento brutal da nossa economia está a ser feito à custa do músculo – e não da gordura.
O definhar da indústria transformadora nortenha anuncia um terrível e longo período de vacas magras para nossa economia e significa que permaneceremos atolados no pântano da crise mesmo depois dos ventos da retoma soprarem nos nossos parceiros da UE.
Nunca fez tanto sentido como hoje, a frase que Jorge Braga de Macedo gostava de repetir sempre que, enquanto ministro das Finanças, atravessava o Mondego: O que é bom para o Norte é bom para Portugal.
A história não é nova, mas é exemplar. O Teatro Art’Imagem perdeu o direito a receber um subsídio camarário de 20 mil euros por se ter recusado a assinar um contrato que tinha uma cláusula que inibia o grupo de produzir a mínima crítica à acção de Rui Rio.
O episódio diz tudo sobre a coragem e independência do grupo de teatro e sobre o autoritarismo que marca o pensamento e a acção de uma gestão autárquica que julgava poder comprar com um pequeno monte de notas a dignidade e silêncio alheios.
Não foi para isto que se fez o 25 de Abril.
O Provedor de Justiça deu o primeiro passo ao declarar inconstitucional a cláusula que impõe a mordaça em troca do subsídio.
Compete agora ao Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto (para onde o Teatro Art’Imagem recorreu, exigindo da Câmara uma indemnização de 20 mil euros pelos danos causados) confirmar que a democracia portuguesa está equipada com mecanismos legais capazes de rejeitar a prepotência de quem não sabe conviver com a crítica.
PS. Terça feira à noite, encontrei Rui Moreira na Marisqueira do Miguel, em Matosinhos. No intervalo do Manchester-FC Porto, ele esclareceu-me que a empresa que vendeu não era a da família (a fábrica de colchões Molaflex), mas antes um negócio que tinha sido criado por ele próprio. Aqui fica a rectificação acompanhada das minhas desculpas pelo erro - e da minha satisfação por ele ter recusado encabeçar a lista do CDS/PP para as europeias.
Nos últimos 15 anos, a indústria têxtil e de vestuário (ITV) perdeu 150 mil empregos – ou seja metade do seu efectivo.
Apesar do declínio retratado a cru nesta estatística de emprego, a ITV ainda vale 12% das nossas exportações, representa 10% da nossa indústria transformadora – e 25% do emprego industrial português.
Os vales do Cávado e do Ave tornaram-se umas bombas de relógio de conflitualidade social que ainda só não rebentaram porque a capacidade minhota de desenrascanço aliada à inteligência das lideranças patronais têm conseguido evitar que o detonador seja accionado.
Mas a destruição de riqueza e emprego na ITV vai continuar na próxima década. Paulo Vaz, director geral da ATP (Associação Têxtil e Vestuário de Portugal) prevê mais dez anos de contracção – e que a indústria só vai estabilizar em 2018.
No final de um quarto de século de declínio, restarão 1 500 empresas com 70 mil trabalhadores a exportar quatro mil milhões de euros/ano, prevê Paulo Vaz.
A moda é o santo e a senha para a sobrevivência. “O importante passará a ser disponibilizar ao consumidor final um conjunto completo, coordenado e integrado de produtos de moda, composto por têxteis, calçado e outros acessórios”, diz o director geral da ATP.
“Tudo isto implicará muito mais moda, mais actividade a montante e a jusante do processo produtivo, mais serviços agregados e mais recursos humanos qualificados”, conclui,
A lucidez com que a inteligência têxtil está a preparar a retirada organizada de todo um importante sector empresarial, poupando-o ao pânico e à debandada, é digna de elogios – e merecedora que o Estado português faça tudo que está ao seu alcance para aliviar o desconforto e as dores de mais uma década de violenta destruição de emprego na indústria a quem o país deve não ter caído na bancarrota, nos anos da ressaca da Revolução de Abril.
Derrapagem é palavra que os panditas da burguesia lisboeta bem pensante (um enorme saco onde convivem - mas a viverem em casas separadas - gente como Maria Filomena Mónica, António Barreto, Fernando Rosas e ofícios correlativos) adoram usar quando se referem às obras emblemáticas do Porto, como o Metro ou a Casa da Música.
O único problema é que, no exercício do seu legítimo direito a escarnecer dos pacóvios, não raro se esquecem de que as palavras e os números têm contextos.
Se, por exemplo, a primeira fase da construção do Metro do Porto custou mais x do que o y que estava inicialmente previsto, mas foram, no entretanto, acrescentados mais quilómetros de linha e novas estações ao projecto primitivo, é vigarice dizer que a obra derrapou x.
É deitar areia para os olhos das pessoas agitar os 148,6 milhões de euros de prejuízo registado, em 2008, pelo Metro do Porto, sem explicar que dos 246 milhões de euros que o Estado deve à empresa, de indemnizações compensatórias, apenas transferiu até agora 11,6 milhões.
Para se perceber como é que o passivo do Metro do Porto chegou aos 2,1 mil milhões de euros, é preciso saber que, por exemplo, só no ano passado, a empresa investiu dos 123,8 milhões de euros em obras e compras do veículos, e que a comparticipação do Estado foi apenas de 7,4 milhões.
Os números e as palavras não podem ser usados como pedras de arremesso contra a Regionalização.
Nunca andei no judo ou no karaté. Excluindo snooker e matrequilhos, a natação foi a única actividade desportiva em que me envolvi mais ou menos a sério. Mas sei que uma das primeiras regras que os mestres das artes marciais ensinam é a de que não se deve resistir à força do adversário, mas antes tirar partido dela -e não se deve temer a queda.
O pedacinho de sabedoria dos cinturões negros que nos avisa que é sempre da queda que nasce alguma coisa, é primo direito da teoria, formulada por Schumpeter, de que a destruição criativa é não só inevitável como ainda necessária para fundar um novo e diferente período de crescimento.
Como não sou daqueles tipos que olham para os dois lados antes de atravessar uma rua de sentido único, tenho descoberto sinais bastante encorajadores em muitas notícias da crise.
Fiquei muito satisfeito em saber que há menos 30 mil carros a circularem diariamente nas ruas de Lisboa, o que corresponde a uma diminuição de 7% no trânsito. A queda de 9% no movimento na A1 (menos 8 500 automóveis por dia) é uma má notícia para a Brisa mas uma boa notícia para quem está preocupado com o futuro do planeta. Quero acreditar que, quando a noite passar, as pessoas que agora estão a deixar o carro na garagem continuarão a usar os transportes públicos.
Fiquei muito satisfeito em saber que as restrições ao crédito à habitação estão a fomentar o mercado de arrendamento. Ou seja, que a crise está a ser mais eficaz que Lei das Rendas na urgente tarefa de devolver ao mercado habitacional português a racionalidade e equilíbrio perdidos.
Fiquei muito satisfeito em saber que, pela primeira vez, caiu a venda de telemóveis e que a poupança dos portugueses aumentou 14%. Parece-me que 14,5 milhões de telemóveis são suficientes para dez milhões de portugueses e sonho com o dia em que voltarão a haver mais escovas de dentes nos copos da casa de banho do que telemóveis nos bolsos.
Quando o sol voltar a nascer, espero que as pessoas não percam os bons hábitos forjados nestes tempos sombrios. E rezo para que o Estado, que por causa da crise está perder 9,5 milhões de euros/dia de receita fiscal, aproveite a oportunidade para emagrecer e se habituar a viver com menos.
Cavaco Silva, outrora o rei do betão, veio chamar a atenção para os excessos que estão a ser cometidos no particular do cimento, advertindo para a necessidade de se investir apenas em projectos que tenham uma relação equilibrada e saudável entre custo e benefício.
No que toca a auto-estradas, a construção e manutenção é um custo, e a quantidade de viaturas que as utilizam é o benefício. Quando o movimento é muito reduzido, o benefício é, por isso, quase nulo.
A este propósito, não me parece que seja de esperar grandes benefícios da existência de três diferentes auto-estradas a ligarem Lisboa ao Porto.
A A1 não só não está saturada como até começou a perder tráfego (menos 8500 carros/dia nos dois primeiros meses deste ano), tendência que é desejável e previsível que se mantenha – e se vai acentuar muito quando sofrer a concorrência do TGV.
Nesse sentido, faria mais sentido canalizar os recursos públicos disponíveis para fortes investimentos nas redes de transportes públicos nas duas grandes áreas metropolitanas.
A extensão a Cabanas, Gondomar, da Linha Azul do Metro do Porto (que esteve três anos congelada por causa das trapalhadas que o Governo arranjou a propósito da composição do Conselho de Administração) terá apenas andou sete quilómetros mas trata-se de um custo que vai gerar uma data de benefício.
As onze novas estações da Linha Azul vão melhorar a qualidade de vida de mais de 80 mil portuenses – 48 mil de Rio Tinto, 14 mil de Baguim do Monte e 22 mil de Fânzeres.
Tenho uma excelente opinião do Rui Moreira. Sobre a questão nortenha, tem ideias claras e desassombradas (com as quais eu geralmente estou de acordo), que sabe expor com clareza e paixão.
Rui Moreira tem sido um dos poucos oásis que sobressaem no meio do árido deserto de líderes que o Norte atravessa desde que o Porto matou o pai (Fernando Gomes) – no sentido freudiano da acção.
Como agravante, à solidez e justeza das ideias, Rui acrescenta um já muito razoável índice de popularidade, boa imprensa e uma belíssima imagem televisiva – factor não negligenciável nestes tempos em que passar mal televisão pode ser letal para um líder com ambições.
O único calcanhar de Aquiles (a falta de espessura do seu curriculum, já que não tem tido actividade empresarial relevante desde que vendeu o negócio da família) é muito atenuado pelo seu bom desempenho na presidência da Associação Comercial do Porto.
A única coisa que me inquieta no momento é desconhecer o que ele se prepara para fazer com o capital político que reuniu – e que já desperta cobiças, como se vê pelo namoro descarado que Rui Rio lhe anda a fazer e pelo convite que Paulo Portas lhe dirigiu para encabeçar a lista do CDS ao Parlamento Europeu.
É natural que Rui Moreira prefira manter o máximo de hipóteses em aberto, entre as quais se contam as mais desejadas presidências do Porto (a do clube e a da cidade).
Mas, mais tarde ou mais cedo (se calhar mais cedo…), ele terá de decidir se o que mais lhe interessa é a liderança desportiva ou política da região – ou se prefere ir viver calmamente para as margens de um lago suíço (já que não me acredito que Bruxelas faça parte do seu mapa de opções).