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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

O caso da doutora Dra

O caso da doutora Dra é um das mais saborosas histórias do último fôlego da presença portuguesa em Macau.

Foi assim. Como de costume, mal desembarcavam no território, os quadros vindos de Lisboa recebiam logo um dossier, competentemente preparado pelo BNU, contendo a papelada para preencherem com os dados pessoais com vista à abertura da conta onda cairiam as patacas e à emissão do conveniente cartão de crédito.

Sucede que a trintona, que mais tarde seria conhecida por doutora Dra, receosa que o banco ignorasse a sua licenciatura em Direito, feita em Coimbra, fez questão de anteceder de um Dra o nome com que fora baptizada.

A jurista (que nem que me torturem revelarei que seria mais tarde ministra de Guterres) fez mal em desconfiar da eficiência dos serviços do BNU e pagou por isso. Doutora Dra Maria... foi o nome gravado no cartão de crédito e que passou a figurar no endereço da correspondência bancária que lhe era enviada para casa. E a comunidade local passou a referir-se-lhe como a doutora Dra (com o a acentuado).

Na generalidade, nós, os portugueses, pelamo-nos por ostentar títulos (sejam académicos ou nobiliárquicos) e sinais exteriores de riqueza.

Nestes particulares, tenho muito orgulho em que estes pecadilhos não constem do meu extenso rol de defeitos.

Apesar de contar com uma licenciatura no meu curriculum, jamais deixei que um dr. antecedesse o meu nome nos cartões de crédito e sempre desencorajei, logo à partida, qualquer tratamento por doutor.

E não andarei longe da verdade se vos confessar que a principal razão para nunca ter sido multado por excesso de velocidade reside no facto de jamais ter tido um carro com potência suficiente para ultrapassar esse limite.

Vem este episódio da doutora Dra e os dois exemplos da minha modéstia (que, admito, talvez seja uma sofisticada manifestação de vaidade) a propósito de ter captado uma série de sinais positivos emitidos pelo novo Governo.

Por três vezes Passos Coelho subiu uma data de pontos na minha consideração. A primeira quando soube que abdicara voluntariamente da reforma vitalícia a que tinha direito como deputado. A segunda quando decidiu continuar a viver em Massamá. A terceira quando escolheu voar em Económica até Bruxelas - não interessa se o Governo paga ou não a viagem. O que importa é o exemplo.

Também apreciei muito que no sábado, na sua primeira aparição pública, o ministro da Economia tivesse pedido que o tratassem por Álvaro, em vez do tratamento tradicional e bajulatório de "senhor ministro".

A admiração e o respeito não se conquistam com títulos académicos, vistosos carros pretos ou poltronas de 1.ª classe. Antes pelo contrário.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no JN

Um buraco chamado Lisboa

Olhado de cima e visto em perspectiva, Portugal é como um bilhar snooker que descai sempre para um buraco chamado Lisboa, que absorve, bulímico, os recursos humanos e materiais do resto do país.

Olhado de cima e visto em perspectiva, Portugal é como um bilhar snooker que descai sempre para um buraco chamado Lisboa, que absorve, bulímico, os recursos humanos e materiais do resto do país.

O problema não é novo. Quem leu a "Queda de um anjo", de Camilo, sabe que este maléfico magnetismo já era poderoso mesmo num século como o XIX onde o Porto liberal, invicto e vitorioso da Guerra Civil, viveu um dos períodos de maior esplendor da sua história.

Ao nacionalizar os grupos económicos que viviam à sombra da protecção do Estado Novo, o 25 de Abril abriu o espaço para a emergência, a Norte, de uma nova geração de empresários, de que Belmiro de Azevedo e Américo Amorim são as cabeças de proa, que mudaram a face do país.

O poder económico deslocou--se para Norte, onde uma impressionante multidão de PME produtoras de bens transaccionáveis salvaram, com as suas exportações, o país da bancarrota.

Os empresários do Norte não ficaram à espera das privatizações e aventuraram-se a criar os primeiros bancos privados (BPI e BCP) após a revolução, numa altura em que os velhos capitalistas ainda mantinham bens e famílias na Suíça e no Brasil.

Cavaco pôs um ponto final a esta fase de desenvolvimento harmonioso e liberal da economia do país ao usar o programa de privatizações para fazer renascer os grupos engordados à mesa do salazarismo. Nenhum analista político e económico honesto deixará de identificar a década cavaquista como o período em que os portugueses, anestesiados pela chuva torrencial de dinheiro vindo de Bruxelas, consentiram na construção de um estado ultracentralista e fecharam os olhos ao nascimento de dois monstros (o do défice e o da Função Pública).

Fernando Gomes foi o líder que capitalizou a nível político o poder económico da região, que já se deslocava para o buraco negro lisboeta. A proclamação pela UNESCO do Centro Histórico do Porto como Património da Humanidade, o metro do Porto, o Parque da Cidade, o Porto Capital Europeia da Cultura, a Casa da Música são as marcas deste período áureo da metrópole que, com o seu porto de Leixões e aeroporto Sá Carneiro, é a cabeça natural da mais empreendedora região do nosso país.

Apesar de ser o líder respeitado de uma região e de estar informado das desventuras na capital do fidalgo minhoto Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda (o herói da novela camiliana), Fernando Gomes não resistiu ao cântico das sereias lisboetas e na primeira oportunidade trocou a vista da Avenida dos Aliados pela do Terreiro do Paço, com o resultado conhecido (o suicídio político).

A contínua migração para Lisboa de líderes e massa cinzenta tem de deixar de ser uma fatalidade.

Para ressurgir, a Região Norte precisa de políticos que olhem para o Porto, Aveiro, Braga, Guimarães, Viana do Castelo, Bragança, Viseu, Guarda e Vila Real como pontos de chegada - e não como pontos de partida.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no JN

Um rio que une as suas margens

Nas desarrumações e arrumações que sublinharam a minha última mudança de casa (espero que seja também a derradeira, tantas as canseiras que me deu), tropecei na roupa que trouxe da tropa.

Tive imensa pena que o dólman do camuflado e as calças da farda de trabalho (muito na moda, pela cor, tecido e bolsos laterais) já não me servissem, mas não há que ter ilusões. Em trinta anos, muitas coisas se passaram não só no país e no Mundo, mas também no meu corpo.

Vem este episódio a propósito da triste teimosia dos estados- -maiores dos partidos do arco governamental em manterem o país espartilhado em roupas que já não lhe servem. A actual divisão do país em distritos, câmaras e freguesias foi feita à medida de um Portugal que no entretanto mudou completamente de figura.

É pena, porque creio que não é preciso ser um Einstein para perceber que o desenho administrativo feito numa altura em que a lista telefónica de Lisboa tinha uma dúzia de páginas não é o mais adequado para gerir eficazmente um país com 12 milhões de telemóveis, em que metade dos seus habitantes já não se lembra de que houve um tempo em que os telefones estavam presos à parede por um fio.

Mais tarde ou mais cedo (rezemos para que seja mais cedo), as circunstâncias e a troika vão acabar com o disparatado desperdício de energias e recursos que é estar no século XXI a tentar enfiar-nos num fato político-administrativo feito por medida num mundo longínquo, onde não havia auto-estradas, televisão, aviões ou Internet.

A actual estruturação autárquica do Porto fez sentido quando as famílias ricas da cidade iam passar os meses de Verão a casas alugadas na Foz, fazendo-se acompanhar de mobília, baixela e criadagem - e em que o rio Douro era um real obstáculo à circulação dos portuenses.

A profunda reforma político-administrativa do país deverá ser uma das prioridades do Governo que hoje toma posse e a principal arma que Pedro Passos Coelho tem para combater a obesidade mórbida de um Estado que está a asfixiar o país.

No intervalo entre as duas etapas do Grande Prémio Histórico do Porto 2011, Luís Filipe Menezes iniciou oficiosamente a campanha eleitoral que o levará a presidir a Câmara do Porto em 2013.

As cinco novas travessias do Douro que ontem apresentou são propostas sérias para ajudar a voltar a fazer prosperar uma metrópole nascida e unida em volta da foz de um rio que alguns políticos pouco clarividentes teimam em olhar como um obstáculo.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no JN

O conselho de um marreta

O meu primeiro emprego, algures em 1978, foi na Revisão do Jornal de Notícias. Garantir que não faltava a letra fatídica em palavras perigosas como conta, pedido ou carvalhos não era emprego de sonho para um quartanista de História.

O horário era mau, pois pegava às 20.00, mais ou menos à mesma hora que as minhas amigas e amigos iniciavam com um jantar no Botas ou no Papagaio um programa de noite bem mais sexy que o meu.

E as regras de funcionamento da secção, superiormente estabelecidas pelo chefe - o sr. Almeida, que protegia os punhos com manguitos e adjectivava de "asnáticas" as nossas distracções -, eram péssimas.

Como no ocaso dos agitados 70 os jornais já tinham engrenado a marcha atrás na hora de fecho, por volta das duas da manhã a prova da 1.ª página já estava revista e assinada.

Apesar de não haver mais nada para fazer, só tínhamos ordem de soltura quando batiam as três, pelo que ficávamos todos na conversa mole e a olhar para os ponteiros do relógio da parede.

Na fé religiosa que o sr. Almeida depositava no estrito cumprimento do horário do trabalho não havia espaço para me deixar sair cinco minutos antes da hora, a tempo de apanhar o último autocarro da carreira 1, que partia de Sá da Bandeira às 03.00 e fazia a Marginal até Matosinhos.

Várias vezes lhe impetrei (o sinónimo do verbo pedir que o sr. Almeida preferia usar no dia-a-dia) esse pequeno favor, mas sempre sem sucesso, pelo que não me restava outra hipótese senão transferir para os taxistas o dinheirinho ganho nessa noite - ou então vencer a pé a distância entre Gonçalo Cristóvão e as torres vermelhas da Pasteleira.

Trabalhar na Revisão do JN não foi um emprego de sonho, mas eu mantive-o, até não ser renovado o contrato (quando fui chamado para a tropa), na vã esperança de que ele fosse um atalho rápido para ingressar na Redacção - na verdade não foi, pois só agora, 33 anos depois, me tornei jornalista do JN.

Vem esta recordação a propósito do facto de apenas 7% dos jovens (sub-30) portugueses se sentirem motivados para trabalhar, um dos mais baixos valores encontrados pela GFK numa sondagem realizada em 25 países europeus.

Eu sei que policiar a concordância numa frase é bem melhor que trabalhar num call center. Eu aceito que seja muito aborrecido ser a primeira geração que vai viver pior que a dos seus pais. Eu concordo que é tramado perceber que vão ser frustradas as expectativas num futuro sorridente, construídas numa infância e adolescência fáceis. Mas aviso a autodenominada geração à rasca de que não adianta nada culpar os outros pelos nossos problemas - nem esperar que alguém os vá resolver. O melhor que têm a fazer é começarem já a construir o futuro com os vossos próprios recursos.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

Ontem fui a Lisboa e vi o futuro

Ontem fui a Lisboa e vi o futuro. Embarcado em Campanhã no Alfa 120, cheguei a Stª Apolónia por volta das 10.45 horas. E, apesar de ateu, dei graças a Deus por não ter caído na tentação de sair na Gare do Oriente quando li no painel informativo do cais do metro que uma avaria estava a interromper a circulação da Linha Vermelha.

Segui na Linha Azul até ao Marquês de Pombal, onde mudei para a Linha Amarela.

Confesso que senti algum desalento quando vi que as escadas rolantes ascendentes estavam avariadas. A mala estava pesada, as minhas pernas e fôlego já não são o que eram - e a estação de metro que serve a sede nacional do PS fica num buraco bem distante da superfície (pior talvez só a Baixa Chiado).

No início da tarde a coisa piorou. Eram 14.30h quando desci ao cais de embarque do metro no Rato e constatei que estava seriamente comprometido o meu objectivo de chegar a horas a uma entrevista marcada para as 15h, junto à Casa da Moeda (metro Saldanha), pois o sistema sonoro e painel electrónico avisavam que, devido a problemas de circulação na Linha Amarela, tínhamos de estar preparados para intervalos superiores a 15 minutos entre a chegada dos comboios.

Finalmente, em StªApolónia, onde apanhei o Alfa 127 das 17 h com destino ao Porto, fiquei a saber através do eficaz sistema informativo do Metro de Lisboa que a partir das 21.30h em todas as linhas os comboios teriam doravante apenas três composições.

O futuro que vi quando ontem fui a Lisboa foi o da lamentável degradação do serviço das empresas públicas de transportes.

O futuro que vi quando ontem fui a Lisboa foi o de que os utentes é que irão sofrer com os inevitáveis cortes nas transferências do Estado para empresas descapitalizadas e mal geridas.

Opassado que nunca percebi foi por que é que teve de vir a troika para finalmente irmos deixar de ser accionistas à força de uma TAP (a única companhia aérea europeia totalmente detida pelo Estado), onde o sindicato dos tripulantes tem lata de reivindicar o aumento de quatro para 12 das viagens de borla a que têm direito por ano, para amigos e familiares - e não aceita o corte de um elemento nas tripulações, apesar de mesmo assim elas ficarem mais numerosas do que as da Iberia.

Portugal não precisa de gente, como os tripulantes da TAP, que apenas sabe olhar para o seu umbigo e faz gala em exibir uma enorme falta de consideração pelos interesses dos passageiros e do país.

 

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no JN

Gosto da Ana Gomes e do presidente Truman

Harry Truman é aquele tipo com aspecto de avô muito porreiro que aparece com um ar de gozo, a segurar uma edição do Chicago Tribune, com a manchete "Dewey defeats Truman" a toda a largura da 1.ª página, na fotografia a preto e branco que ilustra os artigos de análise ao fracasso das sondagens, no dia a seguir às eleições.

Para o pessoal das sondagens, Truman representa o Alcácer-Quibir que obrigou a indústria a mudar de paradigma e métodos, equipando-se com rigor científico na constituição das amostras e na adopção de mecanismos de correcção das distorções que elas quase sempre contêm.

Já para os japoneses, o nome no 33.º presidente dos EUA traz-lhes imediatamente à memória as bombas atómicas despejadas em Hiroxima e Nagasáqui para liquidar a feroz resistência do Império do Sol-Nascente e pôr assim um fim dramático à II Guerra Mundial.

Para mim, Truman é o homem que ao protagonizar o episódio do economista maneta me ensinou uma lição de vida que ficou tatuada para sempre no meu carácter.

Precisado de aconselhamento em matéria económica que não dominava, Truman pediu ao chefe de gabinete que chamasse à Casa Branca alguns economistas para opinarem sobre o assunto.

"Arranje-me um economista maneta!", foi o grito que o chief of staff ouviu da boca irada do presidente no final da audiência com o último dos economistas consultados. Truman estava farto de ouvir tipos medrosos que em vez de defenderem com entusiasmo um ponto de vista, desfiando argumentos em seu favor, se escondiam cobardemente atrás de formulações cautelosas, do estilo on this hand this... but in the other hand that...

Esta vida está atulhada de militantes do "por um lado e por outro", que se os deixassem preenchiam com triplas todas as colunas do Totobola. É por essas e por outras que gosto de Ana Gomes e não gosto dos que escrevem nas entrelinhas.

Sei que é muito duro ser político num mundo atulhado de câmaras de vídeo, em que escutar um telefone é uma brincadeira de crianças - e só uma criança acredita que pode ter uma conversa privada ao telemóvel. Mas ninguém é obrigado a candidatar-se a um lugar público. E quem escolhe este caminho tem de saber que isso significa escancarar ao escrutínio público as portas da sua vida privada.

As circunstâncias em que concluiu a licenciatura, um enriquecimento súbito ou a orientação sexual deixaram de ser matérias do foro privado para quem optou por se ocupar da coisa pública. Para um político, os vícios privados passam definitivamente a ser tão públicos como as suas virtudes.

P. S. Miguel Cadilhe, uma das vítimas preferidas das travessuras do Independente (que devassou sem piedade a sua vida privada), deve ter-se divertido à ganância a defender, em entrevista à RR, a devolução dos submarinos à Alemanha...

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

Um momento de felicidade

Quando lhe davam os parabéns por ter conseguido que a SIC fosse o primeiro canal de televisão privado em Portugal, Francisco Balsemão gracejava que havia dois momentos felizes na vida do dono de um canal de televisão. O primeiro era quando entrava no negócio. O segundo quando, finalmente, conseguia ver-se livre dele.

A graçola é ajustável a um sem-número de situações; já a ouvi aplicada a donos de Alfa Romeus e de barcos. Na vida de um primeiro-ministro também deve ser assim. Haver dois momentos bons. O primeiro quando se entra. O segundo quando se sai. Só não tenho a certeza absoluta de que Sócrates partilhe desta minha ideia.

Não me parece impossível que idêntico pensamento passe pela cabeça de Passos Coelho quando, logo à noite, discursar no Hotel Sana, da Fontes Pereira de Melo, em Lisboa.

Com o país em pior estado do que o chapéu de um trolha, a vitória nas legislativas é provavelmente o último momento de felicidade e descontracção de um candidato a primeiro-ministro antes da estranha sensação de alívio que sentirá quando, mais ano menos ano, for apeado do lugar.

Desfeita a feira e contados os votos, o próximo primeiro-ministro tem de fechar à chave, na gaveta do fundo, os doces devaneios declinados na campanha, e começar a aplicar, sem demoras e com rigor, o exigente e minucioso programa de governo desenhado pela troika.

A margem de manobra é estreita e os prazos estão a queimar. Não podemos correr o risco de comprometer o afluxo dos pacotes de dinheiro que nos permitirão continuar a honrar os compromissos externos e alimentar este Estado que sofre de obesidade mórbida.

Miguel Relvas, o controverso "aparatchick" laranja, disse que Pedro Passos Coelho vai ser melhor primeiro-ministro do que foi candidato. Oxalá tenha razão.

Passos Coelho garantiu que formará um Governo composto por gente séria, honesta e competente - e não por membros da Comissão Política do PSD. Oxalá não tenha mudado de ideias.

Portugal precisa de um primeiro-ministro competente que não se incomode em ser impopular e que não governe em função de sondagens. Dito por outras palavras: precisamos de um estadista.

 

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no JN

 

PS. O F. C. Porto completou ontem, no Dragão Caixa, uma época para a história. A lição é simples. A competência e o trabalho compensam.

José Archer

A praia algarvia de Cacela foi o cenário de um conflito com um desfecho exemplar. O banheiro e o cabo do mar debalde tentaram, por várias vezes e a bem, convencer uma família a deixar de levar o cão para a praia. Apesar das falinhas mansas, a família mantinha-se irredutível, argumentando com a tradição e a defesa dos direitos dos animais.

As posições extremaram-se. O cão ou a bandeira. Um deles estava a mais na praia.  A declaração do capitão da Polícia Marítima de que não tinha outra hipótese senão arrear a Bandeira Azul gerou de imediato um levantamento popular dos banhistas em defesa do pavilhão com ondinhas – e o cão nunca mais voltou à praia.

Este episódio, passado há coisa de dez anos, é ilustrativo da importância que a Bandeira Azul teve, ao longo do quarto de século de existência, na educação ambiental dos cidadãos com os consequentes resultados ao nível da qualidade das nossas praias.

“Temos as melhores praias da Europa”, afirma José Archer, o advogado de 55 anos que há 16 dirige a Associação da Bandeira Azul, uma organização não governamental e não parasitária.  “Não recebemos um tostão do Estado”, acrescenta, orgulhoso do recorde de 271 praias portuguesas que este ano foram distinguidas com a bandeira azul.

Archer garante que as nossas praias estão muito mais cuidadas  que as espanholas e dos outros países da cintura do sol da Europa (França, Itália, Grécia, Turquia…) e fundamenta nas estatísticas esta afirmação. Se excluirmos países sem tradição balnear (como a Bélgica ou a Dinamarca), Portugal é com maior percentagem de praias com bandeira azul.

Para receberem este selo de qualidade, as praias candidatas têm de satisfazer uma exigente lista de 32 critérios, dos quais 28 são imperativos, sendo que os principais são a qualidade das águas, protecção aos banhistas, destino adequado aos lixos, dunas protegidas, bons acessos, instalações sanitárias em condições, apoios de praia e areal asseado.

“Curiosamente é em Agosto, quando são mais utilizadas, que as areias das praias são mais limpas”, chama a atenção José Archer, que desde a primeira hora (em meados dos anos 80) colaborou com o conde de Caria na construção do movimento português da Bandeira Azul.

 Advogado na Correia Afonso e Archer, uma boutique especializada  em fusões e aquisições com sede no Príncipe Real (Lisboa), escolheu almoçarmos no NovaMesa,  que fica na esquina da Praça das Flores com a Marcos Portugal, a meio caminho entre a sua casa e escritório.

Concordamos na entrada, prato e tipo de vinho (branco), ficando a escolha da marca (Fiuza Premium), a cargo do convidado, que tem credenciais na matéria, pois integra o grupo de investidores que acompanhou Pais do Amaral na compra da Companhia das Quintas.

Membro de uma das mais tradicionais famílias do Porto, Zé é o mais velho dos rapazes dos 14 filhos de mais uma fornada dos Archer, clã com centro de gravidade na avenida de França, junto ao Ach Brito.

Depois de ter feito parte do secundário no colégio jesuíta das Caldinhas (Santo Tirso), o jovem Zé aterrou em Lisboa, para fazer Direito na Clássica, no conturbado ano de 1974. Não se demorou pela capital. Retornado ao Porto, foi durante dois anos cobrador de seguros da Gan, com um sucesso ilustrado por ter começado a trabalhar com uma Vespa e ter acabado com uma Kawasaki 900 (depois de ter tido, sucessivamente, Suzukis 250, 500 e 750).

“Foi o melhor emprego que tive na minha vida”, conta. Racionalizou os percursos de modo a desembaraçar-se em15 dias do trabalho de um mês, ficando com duas semanas livres.

Em 1976, acalmados os excessos da Revolução, regressou a Lisboa para cursar Direito na Católica.  Nos primeiros anos, ainda antes de se casar, ainda foi voluntário no Bombeiros Lisbonenses. Concluída a licenciatura, estagiou no escritório de Correia Afonso. Depois de fazer praia em Vila do Conde  e nas Dunas Douradas (no Algarve, entre Vale de Lobo e de Vale de Garrão)  passou a interessar-se pela qualidade da nossa costa. E não se arrepende do tempo que investiu na Bandeira Azul. “Estamos a demonstrar que o desenvolvimento sustentável é possível”, explica.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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NovaMesa

Rua Marcos Portugal  1, Lisboa

3 águas Vitalis … 4,50

2 copos Branco Fiuza … 9,60

2 bifes de atum fresco com ratatouille …  20,00

1 taça de frutas … 4,50

2 cafés … 2,60

Total …  41,20 euros

 

 

Curiosidades

 

Quando veio estudar para Lisboa, Zé Archer instalou-se num quarto alugado na Praça das Flores. Depois mudou-se para um andar no Restelo, propriedade do falecido primeiro ministro Francisco Sá Carneiro, partilhado com o filho do fundador do PSD e com José Manuel Lello (herdeiro da livraria homónima). Um ano depois, o antigo primeiro ministro pagou aos inquilinos um almoço no Gambrinus e, à sobremesa,  explicou-lhes, cordialmente, que tinha de os despejar, devido às reclamações da vizinhança sobre o barulho tardio que faziam

 

A monitorização da observância das regras pelas praias com Bandeira Azul é assegurada por um exército de voluntários, incluindo escuteiros e jovens de OTL’s com idades compreendidas entre os 14 e 16 anos, que inspeccionam as praias, de check list em punho, verificando se  casa de banho estão em ordem, o areal limpo e se o nadador salvador está olhar para o mar ou a namorar com uma estrangeira

 

O professor Paulo Almeida Ferreira (pai do ex-director do Público, José Manuel Fernandes) foi o antecessor de José Archer na presidência do movimento Bandeira Azul no nosso país. Zé aceitou porque lhe disseram que se tratava de uma situação provisória e que no prazo máximo de seis meses, uma pessoa que estava na REPER, em Bruxelas, regressaria a Lisboa e tomaria conta do lugar. Dezasseis anos volvidos, ainda não apareceu

 

'bora aí fazer filhos

A regra número 1 do zapping é que o praticante desta modalidade de sofá pára num canal se tropeçar numa cara conhecida e/ou bonita - ou numa cena de violência ou de sexo. Apesar de a maioria das pessoas não gostar de falar do assunto, penso que todos estamos de acordo em considerar o sexo uma actividade muito importante.

Um estudo da ONU prevê que em 2100 Portugal seja habitado apenas por 6,7 milhões de pessoas. A tendência para o envelhecimento e a quebra da taxa de natalidade farão que haja menos quatro milhões de portugueses na viragem para o século XXII. Se por uma estranha razão todos nos abstivéssemos de fazer sexo, o cenário seria ainda mais catastrófico e a nação extinguir-se-ia antes de poder comemorar dez séculos de história.

Discordo da doutrina dos católicos fundamentalistas de que só se deve fazer sexo para procriar. Ser um militante activo da luta contra a quebra da taxa de natalidade (tenho três filhos) dá-me moral para defender a prática do sexo pelo prazer do sexo - e, por isso, também do recurso à pílula, preservativo ou outros métodos contraceptivos para evitar uma gravidez indesejada.

Mas apelo a todos os casais em idade fértil para que contribuam activamente para inversão o miserável rácio de 1,33 filhos por mulher. Apesar de não constar das medidas da troika, temos de rapidamente atingir os dois filhos por casal, o mínimo para repor o stock.

Há que conferir uma dimensão patriótica às relações sexuais, tanto mais que apesar de estarem a diminuir os apoios à maternidade, Portugal foi considerado pela revista norte-americana Children como o 14.º melhor país do mundo para ter filhos, um ranking liderado pela Noruega e em que o Afeganistão ocupa o 172.º e último lugar.

Esta honrosa posição deve-se à ponderação de dados favoráveis, como os 82 anos de esperança média de vida das portuguesas, os 120 dias de maternidade de que beneficiam e, ainda, da baixa taxa de mortalidade infantil - até aos cinco anos de vida, apenas morrem quatro em cada mil crianças.

Andreia Leal, 37 anos, uma das celebridades instantâneas criadas pelos reality shows, anunciou estar grávida de um terceiro filho, usando a mesma táctica de comunicação de Sócrates na véspera da divulgação do programa da troika. "O pai da criança não é o meu actual namorado (Tiago Barreiros). Não é o Vasco (colega na Casa dos Segredos). Muito menos o Luís Azevedo, meu antigo namorado, porque não tive relações sexuais com ele. Também não é um cliente", disse a ex-acompanhante de luxo.

Na esmagadora maioria dos aspectos da sua vida, Andreia não é exemplo para ninguém. Mas no capítulo da maternidade, não podemos deixar de a saudar. 'bora aí fazer filhos para fazer crescer o PIB!

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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