Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Relvas e o anticiclone dos Açores

 

Quando era miúdo, sentir a voz dos nossos egrégios avós não me chegava. As glórias do passado sabiam a pouco. Queria motivos contemporâneos, mas o presente era avarento em razões para me orgulhar de ser português.

Éramos o maior produtor mundial de cortiça, tínhamos a Amália, o Eusébio e o anticiclone dos Açores, mas quem nos levava à vitória eram os Adriões, Rendeiros e Livramentos, que, de stick na mão, conquistavam torneios de Montreux, Europeus e Mundiais, levantando de novo o esplendor de Portugal em duelos apaixonantes com a Espanha, novas Aljubarrotas transmitidas em direto em emocionantes relatos feitos por grandes vozes da rádio, como Artur Agostinho.

À ilusão alimentada pela glória nos rinques sucedeu a desilusão quando percebi que o hóquei em patins é uma coisa de trazer por casa, com muito menos impacto internacional que o curling, que é um desporto olímpico.

O interesse pelo hóquei resume-se a Portugal, Espanha, Itália, parte da Argentina e o Sertãozinho, no Brasil. Para o resto do mundo está ao nível do carolo em pista coberta.

O joelho traiu Eusébio, a voz traiu Amália e o mundo não estremecia de admiração perante as nossas vitórias no hóquei. De desilusão em desilusão, temi que a importância que o anticiclone dos Açores tinha no Boletim Meteorológico tivesse sido hiperbolizada pelo Anthímio de Azevedo e o Olavo Rasquinho.

Mas não. O anticiclone dos Açores, na sua qualidade de grande centro de altas pressões, influencia benignamente o tempo e o clima em vastas regiões do Norte de África, Europa e América, ao contrariar a ação nefasta do ciclone da Islândia.

As pressões, sejam altas, médias ou modestas, não existem só na atmosfera e podem ser virtuosas. Eu, por exemplo, pressiono o meu filho João a estudar, para ser melhor aluno. E a tática da pressão alta, introduzida por Mourinho, deu excelentes resultados no FC Porto.

Os empreiteiros e banqueiros pressionaram os governos para obterem contratos ultravantajosos nas PPP. O mal não está em terem feito pressão, mas sim em os terem conseguido, porque o dinheiro de que os governantes tão facilmente abdicaram não era deles, mas nosso - dinheiros públicos que deviam ser sagrados e foram desbaratados em contratos suspeitos.

Políticos, empresários, dirigentes desportivos, agentes culturais e profissionais de comunicação pressionam jornalistas para colocarem as suas ações e ideias sob uma luz mais favorável nos media. Estão no papel deles. E nós, jornalistas, estamos no papel de não ceder a pressões que contrariem o interesse do público que nos lê ou ouve.

Pressões podem acarretar consumições (o Relvas que o diga), mas não são necessariamente más ações. Ponham os olhos no anticiclone dos Açores, que é um centro de altas pressões e é geralmente sinónimo de bom tempo, céu limpo, calor ameno e nada de chuva - e é disso mesmo que nós, heróis do mar e nobre povo, estamos mesmo a precisar.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub