Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Terceiro calhau a contar do Sol

O Sol vai engolir a Terra - garante um cientista português - mas isso não me aquece nem me arrefece, apesar de acreditar piamente que ele esteja cobertinho de razão. Tiago Campante estudou o enquadramento e futuro do Sol, a partir de uma análise de 500 estrelas do tipo solar, e concluiu que dentro de quatro mil milhões de anos a estrela central do nosso sistema vai aumentar de tamanho e de luminosidade de uma tal forma que os seus  raios atingirão a órbita do nosso Planeta, que desaparecerá num horrível Inferno.

Não me atrevendo a duvidar, por um só segundo que seja, do rigor científico da antevisão deste nosso compatriota, a verdade é que estou mais preocupado com as previsões do World Wide Fund for Nature de que se continuarmos a consumir a este ritmo os recursos naturais, em 2030 vão ser precisas duas Terras.

Há cerca de 90 anos, quando a Humanidade ainda vivia dentro dos limites renováveis do nosso Planeta (gastava apenas metade da capacidade regenerativa da Terra), John Maynard Keynes escreveu uma frase - "No longo prazo estamos todos mortos" - que teima em não sair de moda. Infelizmente, este desabafo tem servido de catecismo a uma série de desmandos, como está demonstrado pelo nível asfixiante da nossa dívida pública.

Apesar de completamente desresponsabilizante relativamente às gerações futuras, a elaboração em cima da máxima keynesiana é, sem dúvida, muito sedutora. Como no longo prazo estamos todos mortos, só nos devemos preocupar com o que a nossa vista alcança. Por isso, podemos endividar-nos e consumir alegremente como se não houvesse amanhã.

O problema é que o Mundo acelerou de tal maneira que o longo prazo se transformou em médio prazo e o curto prazo passou a ser já amanhã. 2030 fica já ali ao virar da esquina e, apesar das maravilhosas invenções que o cérebro humano tem sido capaz de gerar, penso que ninguém acredita que seja possível duplicarmos em menos de 20 anos os recursos naturais deste terceiro calhau a contar do Sol.

Por isso, seria inteligente dedicarmos pelo menos tanta atenção à conferência Rio+20, organizada pela Nações Unidas, como ao desfecho das novas eleições gregas, ao tsunami que varre a Banca espanhola ou à análise da nossa execução orçamental no primeiro trimestre.

Se não formos capazes de inverter os atuais (e vorazes) padrões de consumo, adotando uma vida mais austera, reduzindo a nossa pegada ecológica e poupando os cada vez mais escassos recursos naturais, a menor das nossas dores de cabeça será o aumento galopante do desemprego e o súbito empobrecimento provocado por uma eventual saída do euro.

O real problema é que a continuarmos assim destruiremos o nosso Planeta no curto espaço de duas ou três gerações. Ou seja, a Terra não durará os quatro mil milhões de anos necessários para ser engolida pelo Sol e dar razão ao nosso cientista.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub