Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

O Governo está a ficar para trás

A troika só cá está há pouco mais de um ano, mas acho que quase todos nós já nos começámos a habituar a esta nova normalidade, em que o emprego passou a ser um bem precioso, escasso e irremediavelmente precário, recebemos menos, os bancos deixaram de nos querer impingir dinheiro e passaram a interessar-se pela nossa poupança, e pagamos mais pelos bens (por cortesia dos aumentos do IVA) e serviços, como a eletricidade, água, transportes, educação, saúde e comunicações, etc.

O grande trambolhão do consumo interno privado - que registou, em 2011 , a maior queda desde que há estatísticas e continua a cair - é a prova dos nove de que as famílias portuguesas se estão a ajustar e a começar a entender, se bem que à força (se calhar não não podia ser de outra maneira), que o importante não é aquilo que temos, mas antes aquilo que somos.

Eu próprio já despi os hábitos de consumo desenfreado, ganhos nos tempos do dinheiro fácil e barato, em que fui acumulando furiosamente livros que não sei quando vou conseguir ler e discos que não sei quando vou conseguir ouvir, em regime de dedicação exclusiva.

A vida ensinou-me que o mais importante não é a propriedade das coisas, mas antes o seu usufruto. E até estou, confesso-vos, um bocadinho orgulhoso com esta minha capacidade de adaptação a um novo normal, onde os nossos hábitos em relação às despesas contam mais que o salário.

O problema é que o Governo está bastante atrasado em relação a nós neste esforço de ajustamento. Não dá mostras sérias de ter percebido que os hábitos do Estado em relação às suas despesas têm de contar mais que o esforço desesperado para meter a mão nos nossos bolsos na vã tentativa de aumentar as receitas fiscais.

Os empresários privados já compreenderam que o luxo de manter empregados com mau desempenho é uma coisa do passado. O milhão de desempregados é a verdade de sangue que documenta esta compreensão, que lamentavelmente ainda não foi realmente assumida por um Governo que ainda não deu sinais de saber o que há-de fazer para eliminar os grotescos passivos das empresas públicas de transportes e emagrecer um Estado balofo e ineficiente que parece não saber viver sem gerar enorme desperdício.

Eu sei perfeitamente que pensar é fácil, agir é difícil - e agir em conformidade com o que pensamos ainda é mais difícil. Mas é indispensável regressarmos aos princípios básicos. Deve ser o Governo a trabalhar para os cidadãos e não os cidadãos a trabalhar para o Governo. E os cidadãos têm de perceber que o Estado não dá nada, apenas distribui o que recebe - e tem de reduzir drasticamente as comissões que cobra para alimentar um aparelho enxameado por sucessivas camadas de filhos das fábricas partidárias.

O Governo está a ficar para trás e infelizmente nós não podemos dar- nos a esse luxo.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub