Scolari é uma mortadela rasca que estamos a pagar ao preço de caviar
«Eu não sou trouxa. Como é que sairia do Brasil para ganhar o mesmo que recebo aqui fazendo palestras? Se alguém quer comer caviar tem de pagar o preço de caviar, não de mortadela»,
Luís Filipe Scolari ao Jornal da Tarde, de S. Paulo em Novembro de 2002
Não gosto de Scolari por várias razões e mais uma, sendo que a mais uma reside no facto do brasileiro profanar as boas recordações que guardo de um actor estupendo (Gene Hackman) de que o brasileiro é sócio involuntário.
Não gosto de Scolari porque sou portista, portuense, português, jornalista e pai de um filho de sete anos que é doido por futebol e acredita que vai ser um craque da bola.
Como portista não lhe perdoo-o ter andado a brincar com o meu clube, recusando-se sempre a explicar porque é não convocou o Vítor Baía sufragado pela UEFA como o melhor guarda redes da Europa no ano do Euro 2004, tendo ainda o desplante e a falta de respeito de chamar para os trabalhos da selecção nacional Bruno Vale (actual suplente no Varzim, da Liga de Honra), que era então a terceira opção para a baliza do FC Porto.
Como portuense não lhe perdoo-o ter-se recusado a responder a um jornalista numa conferência de imprensa, usando como argumento «Você deve ser do Porto» (por acaso não era…) como ser da nossa cidade fosse sinónimo de ter sarna ou qualquer outra doença contagiosa.
Como português não lhe perdoo-o a idiotice de ter perdido o jogo inicial do Euro 2004 com a Grécia por se ter recusado a fazer o que toda a gente lhe dizia para fazer (usar como esqueleto da selecção a equipa do FC Porto que acabava de ter ganho em Gelsenkirchen a Champions, alinhando sempre com pelo menos nove portugueses). Não lhe perdoo-o também ter cometido a proeza de voltar a perder com a Grécia, na final do Euro 2004, apesar de jogar em casa e ter à disposição muito melhores jogadores do que o adversário. Não lhe perdoo-o, ainda, morder a mão que lhe dá de comer, acusando Portugal de ser um país racista.
Como jornalista não lhe perdoo-o as ofensas continuadas a diversos colegas meus, que incluíram insultar em público uma jornalista e distribuir acusações gratuitas e infundadas contra um painel de comentadores de um programa de televisão e que cometeu o único crime de o criticar.
Como pai de um miúdo que tem a mania que vai ser futebolista não lhe perdoo-o - nunca lhe perdoarei, nunca - a catrefada de maus exemplos que dá ao meu filho.
Não quero ouvir o meu filho dizer que amuar não é defeito porque o Scolari, que é o seleccionador nacional, também amua-a como ele e abandona a meio uma conferência de imprensa só porque não gosta das perguntas que lhe estão a fazer.
Não quero ouvir o meu filho dizer que fazer birras não é defeito, porque o Scolari, que é o seleccionador nacional, também faz birras e adora vitimizar-se - «Faço por Portugal mais do que fiz pelo Brasil e só recebo situações desagradáveis» - em vez de se comportar como o homem crescido que é.
Não quero ouvir o meu filho dizer que ter mau perder não é defeito, porque o Scolari, que é o seleccionador nacional, também tem mau perder e deu um soco num jogador sérvio no final de um jogo que não lhe correu de feição.
Entristece-me profundamente a falta de ambição de um treinador que fica exultante quando a selecção de Portugal (vice-campeã europeia, 4ª classificada no Mundial, 8ª melhor no ranking da FIFA, 4ª no da UEFA), recheada de estrelas, sofre até ao último minuto para conseguir a qualificação, empatando em casa a zero, no último jogo, com uma Finlândia que é a 44º no ranking da FIFA e 26ª no da UEFA e o melhor que tinha feito até agora no apuramento para um Europeu foi em 1996, quando ficou em 4º lugar num grupo de seis, conquistando 15 pontos em dez jogos.
Além de mal educado, Luís Filipe Scolari é uma fraude – é mortadela rasca que estamos a pagar ao preço de caviar.
Jorge Fiel