Um banco à procura de dono
O BCP anda passear por aí, pelas colunas dos jornais e noticiários da televisão, com um letreiro na testa a dizer: «Procuro novo dono».
Confesso-vos que, apesar de ateu, estou quase a chegar ao ponto de rezar antes de me deitar para que apareça rapidamente um comprador que nos poupe ao lamentável espectáculo de lavagem em público da roupa muito suja deste banco, que nos habituamos a admirar e olhar como a mais bela história de sucesso do nosso sistema financeiro, eleita «case study» nas mais prestigiadas escolas de negócios.
A luta fraticida entre Jardim e o delfim que ele escolheu abriu uma caixa de Pandora que ainda ninguém conseguiu fechar.
Abri a boca de espanto quando ouvi Jardim Gonçalves - que se gabava de saber tudo quanto se passava no banco e se orgulhava de tratar os funcionários pelo nome - vir declarar desconhecer o perdão de 12,5 milhões de euros de dividas à Corte Fino, de que o seu filho Filipe é relevante accionista.
Pasmei quando soube que o BCP desistiu de cobrar um vultuoso crédito, assumindo perdas superiores a 28 milhões de euros, à Somerset, uma holding onde pontifica Goes Ferreira, que tem em seu nome 2,3% do banco e é amigo de longa data de Jardim Gonçalves.
Não quis acreditar quando Berardo afirmou que o BCP usou 17 sociedades «offshore» para aguentar a cotação do banco durante os aumentos de capital de 2000 e 2001, torrando neste operação 500 milhões de euros.
(Como não tenho cultura para números desta grandeza, fui fazer contas e conclui que 500 milhões de euros chegavam para a Metro do Porto construir os dez quilómetros da linha circular subterrânea, a linha da Boavista, a linha de Gondomar, e ainda sobravam uns 100 milhões!)
Fiquei aterrorizado quando ouvi o bem informado Berardo dizer que no armário do BCP ainda estão guardados esqueletos ainda mais horrorosos.
Como não fiquei satisfeito por saber dos perdões à Corte Fino e à Somerset, nem das actividades manipuladoras das 17 off shore, malfeitorias
Por muito menos que eles fizeram ou calaram, desrespeitando e malbaratando dinheiro que não era deles, milhares de japoneses fizeram hara kiri.
O BCP é um banco à procura de dono. Rezo para que surja rapidamente uma OPA, antes que o que resta do seu prestigio e credibilidade impluda nos jornais e televisões.
E não deixaria de ser poético se o novo dono fosse o Banco Popular, onde Américo Amorim, o fundador do BCP, é o segundo maior accionista.
Jorge Fiel
PS. Uma sugestão a quem de direito. Se não aparecer rapidamente um comprador, o melhor que o BCP tem a fazer é ir bater à porta de Fernando Ulrich e pedir-lhe que o BPI tome conta dele.
Esta crónica foi hoje publicada no diário económico Oje www.oje.pt