A Patanisca e o Mac Burger ou a Liberdade e a Identidade
Os partidos do virtuoso Bloco Central preparam-se para chumbar hoje o Referendo ao Tratado Europeu substituindo-o por uma ardilosa e garantida votação parlamentar.
Este equívoco da legitimidade tem alastrado pela vivência e prática democrática, desqualificando aquilo que é verdadeiramente essencial á Democracia – a liberdade individual e o direito de opinião e opção.
Tenho sinceramente pavor, repugnância até, pelos ventos que sopram nesta asséptica renovação democrática do terceiro milénio.
Avançamos, por um lado, numa intolerável intromissão do Estado democrático nos nossos direitos e liberdades individuais. Em nome de elevados e standardizados valores sociais e culturais, o Estado democrático impõe de forma persecutória um padrão rígido de comportamentos e opções individuais (o tabaco e a cruzada da ASAE são apenas exemplos).
Recuamos, por outro lado, naquilo que é essencial à Democracia que é o fomento da participação dos cidadãos em matérias tão essenciais como as da identidade e independência nacionais, provavelmente diminuídas neste Tratado Europeu que os partidos por nós decidirão.
Da forma democraticamente mais perversa, diga-se, porque a verdade é que foram eleitos prometendo, nesta especifica matéria, exactamente o oposto do que vão fazer.
O sistema político começa perigosamente a desconsiderar os cidadãos ditando de forma paternalista e arrogante os seus comportamentos individuais e negando arbitrária e enganosamente um direito de opção previamente comprometido, por alegada complexidade da matéria (?).
Hoje publicou-se também um estudo que coloca Portugal nos 15 Países do Mundo mais globalizados. Neste afã moralizador e inquisitório do Estado para as nossas coisas que contrasta tanto com a atitude provinciana do mesmo Estado para as coisas dos outros, tenho justo receio que o MacBurger arrase de vez com a patanisca, o IKEA acabe com a Picaria e as Festas Populares venham a ser proclamadas (como já vi no Alto Minho) em Espanhol.
Enfim, tenho justo receio das irreparáveis percas de liberdade e de identidade da decaída Democracia recentemente engendrada por este “Diácono Remédios”
A mesma liberdade e identidade que fundamentam esta Bússola, tão firmemente virada a Norte.
António de Souza-Cardoso