Não fazem ou não podem fazer?
É apenas uma reflexão partindo de uma história pessoal.
O meu filho andava a alertar-me para uma série de assaltos a que eram sujeitos os alunos da escola dele ao fim da tarde. Um grupo de rapazes, os gunas , fazem esperas no fim da aulas e assaltam os jovens, roubando dinheiro ou telemóveis . Coisas do dia dia, afinal.
Ontem foi a vez do meu filho. Vinha ao fim da tarde com mais dois amigos quando sentiu que um grupo de seis rapazes os perseguiam . Aceleraram o passo, mas em plena rua, no meio até de movimento acabaram cercados. Foram ameaçados com uma navalha, revistados, abriram-lhes as mochilas e perguntavam onde moravam. Dois conseguiram fugir e o meu filho ficou para trás. Acabou por conseguir também fugir e entrar para a casa de um amigo ali perto. Acabou por não ser grave até porque porque ele não levava nada a não ser livros escolares o que para os jovens assaltantes é o que menos interessa.
À noite passei pela esquadra da zona da minha residência só para perguntar aos agentes de autoridade se era frequente aquilo acontecer. O meu filho tinha-me falado de uma série de assaltos em dias sucessivos e que na escola andavam um pouco assustados com a situação.
De forma simpática o agente ali de serviço disse-me que não tinha queixa nenhuma, apenas uma naquele dia, e que não tinham indicações de uma vaga de assaltos.
Falei com dois vizinhos meus, pais de alunos da mesma escola e disse-lhes que o problema é que os alunos eram assaltados e os pais não faziam queixa. Daí não haver registo nenhuma na esquadra da zona.
A resposta dos pais foi a de um comum mortal: " que adianta fazer queixa. Eles não fazem nada!
Coincidente mente , hoje de manhã fui tomar café ao meu local habitual de todos os dias e encontrei uma agente de autoridade que conheço. Na conversa ficou-me uma questão pertinente: a polícia não faz nada, ou não pode fazer.
Contou-me ele que agora não podem usar a arma. E se virem um assalto na esquina em frente não podem fazer nada nem sequer ir atrás dos assaltantes. É que tudo o que aconteça, colateralmente ao crime eles são penalizados com castigos e às vezes até condenados.
Deu-me mesmo um exemplo de uma perseguição que façam de automóvel. Todos os incidentes que houver no percurso durante a perseguição aos criminosos, como atropelamentos,. feridos ou danos materiais, o juiz não tem dúvidas em culpar os agentes da autoridade acusando-os de terem contribuído para uma situação perigosa que é o facto de poder morrer gente ou haver feridos graves sobretudo em pessoas que não têm nada a ver com aquele crime.
Como vê, dizia-me o agente da autoridade, isto está assim: não podemos fazer nada. E se damos umas bofetadas aos criminosos ainda dizem que há violência física dentro das esquadras. São as novas leis. Quem perde é o cidadão.
Lembrei-me logo de um outro agente do Algarve que me na última semana do ano me contou que foram buscar dois assaltantes de manhã a um bairro perigoso e entregaram-nos à justiça. Ao início da tarde,. quando voltaram ao tribunal para tratarem de um outro assunto viram os dois criminosos que tinham detido de manhã, saírem alegremente do tribunal e apenas com termo de identidade e residência.
Os agentes tinham corrido o risco de os ir buscar a um bairro considerado perigoso.
Dizia-me ele: valeu de quê? De manhã foram detidos e à tarde estavam cá fora. Amanhã estão ai a assaltar casas outra vez. E nós arriscamos a vida para nada. E também temos família.
Há solução para isto? Afinal é a polícia que não faz nada ou, de facto, nada pode fazer? Fica uma reflexão longe das discussões entre norte e sul. Para variar um bocado.
Um abraço a todos os bus sulistas . E sigam o conselho que me deu o amigo agente da autoridade: ."Quando for assaltado, não resista. Deixe levar tudo antes que lhe levem a vida".