A Lampreia : ame-a ou deixe-a !
Talvez por causa da felicidade que é ver um pai completar 80 anos de perfeita saúde ( e a esperança que isso nos dá , somada a essa alegria...), hoje acordei com vontade de escrever um post diferente do habitual , esquecendo por momentos esta espécie de ditadura da maioria ruidosa que o Terreiro do Paço exerce sobre o resto do país.
Imbuído deste espírito e agora já sem perceber muito bem porquê , dei comigo a pensar no ciclóstomo que mudou a minha vida ....durante alguns almoços.
A lampreia é claramente um produto do Norte. Ao contrário , por exemplo do peixe espada ,que é notoriamente um peixe do Sul, a lampreia não se deixa comer facilmente. Como não se deixa cozer por qualquer um.
Quer se queira à bordaleza , quer se faça em arroz ou então numa versão mais moderna e menos interessante do meu ponto de vista , que é assada no forno ,a lampreia exige um operador muito qualificado , quase certificado.
Mesmo respeitada a condição do parágrafo anterior , comê-la não está ao alcance de qualquer um. Não falo do custo que também não é coisa pouca , mas o que quero dizer é que não é qualquer um que tem capacidade para gostar de lampreia.
A lampreia não é um bitoque , nem um jaquinzinho que qualquer funcionário de um qualquer Ministério come enquanto o diabo esfrega oum olho. Para ser capaz de comer um lampreia há que ter um dom especial que nasce connosco. Não se aprende , nem se compra..
A lampreia só se deixa comer ou cozer por quem sabe e só quem sabe é que a merece.
Conquistado o gosto pela lampreia ela dá-nos tudo o que tem ...e até uma digestão complicada se não tivermos alguns cuidados. Mas esta consequência menos positiva é reflexo da sua generosidade e do nosso empenho : é por a querermos tanto e ela se dar tanto , que os efeitos do enlace perduram pelo resto do dia. Como se nem nós , nem ela , nos quiséssemos esquecer do que aconteceu entre nós.
É assim que eu vejo as pessoas do Norte. Uma vez amigas , amigas para a vida. Assim fôssemos todos capazes de não nos deixarmos comer ou cozer por qualquer um !
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Manuel Serrão