O problema não é de Lisboa ( 4 )
Caros bussolistas
Aqui está o quarto capítulo da prosa excelente do dr Manuel Cerqueira Gomes
Por lapso meu este deveria ter sido o terceiro , mas como verão a troca não é grave.
O EXEMPLO ESPANHOL
Não precisamos de ir mais longe na Europa para ver os efeitos positivos da descentralização – Olhemos para Espanha!
Em Espanha, a Expo 92 não foi em Madrid.
Foi em Sevilha.
E a próxima não vai ser em Madrid.
Vai ser em Saragoça, neste ano de 2008.
Em Espanha, os Jogos Olímpicos não foram em Madrid.
Foram em Barcelona em 1992.
Espanha não se desinteressou do projecto da fórmula 1 dos barcos pelo facto de Madrid não ser uma cidade costeira.
Valência candidatou-se e ganhou.
Nos anos 70 fui a Madrid, numa excursão de camioneta, ver uma corrida de fórmula1 a Jarama.
Hoje já ninguém fala de Jarama e de Madrid no que se refere a fórmula 1.
Está em Barcelona e em Valência.
Lembram-se daquela final dramática da Taça dos Campeões Europeus, em Sevilha, no ano de 1986, que o Steaua de Bucareste ganhou ao Super Barcelona?
A final da Liga dos Campeões de 1999, aquele fabuloso jogo entre o Manchester United e o Bayern de Munique, não foi em Madrid, foi em Barcelona.
Bom, poderíamos ficar aqui a encher folhas e folhas com o relato de grandes acontecimentos ocorridos em Espanha que não tiveram lugar na capital Madrid.
É nestes momentos que olho com admiração para a realidade autonómica de Espanha e muito particularmente para os Catalães.
Um jovem catalão que vai trabalhar para um banco não precisa de sair de Barcelona para chegar ao topo da hierarquia.
A
Como, de resto, são todas as Cajas de Ahorros espalhadas por toda a Espanha.
Os meus amigos catalães e os seus filhos ligam as televisões e não têm de se submeter ao achincalhamento de ver nos noticiários as primeiras páginas dos jornais de Madrid, nomeadamente dos jornais desportivos, dizendo que o jogador x do Real Madrid está com dores de barriga, ou que o jogador Y vai com o cão ao veterinário.
Porque têm canais de televisão próprios na Catalunha.
E tem jornais desportivos próprios.
Já agora, para quando notícias a partir das 7h da manhã no Porto Canal?
Pelo que me disse um amigo catalão, caso o estatuto autonómico passe no Tribunal Constitucional, a Catalunha só fica dependente de Madrid das forças armadas.
E de Bruxelas das políticas macroeconómicas.
De resto é tudo com eles.
Até Supremo Tribunal de Justiça terão.
Li numa notícia no Expresso de 8 de Dezembro de 2007 que tinha como título o seguinte: “Galegos seguem exemplo dos bascos e catalães”. E no corpo do artigo referia “…A expressão “direito a decidir” está na moda em Espanha. É neste slogan que se apoiam, ultimamente, as reivindicações independentista latentes nas comunidades autónomas espanholas. A última expressão deste sentimento aconteceu no fim-de-semana em Barcelona, onde mais de 125 mil pessoas se manifestaram contra o caos nas infra-estruturas ferroviárias na Catalunha – atribuído à administração central – e reivindicaram o direito a decidir dos cidadãos sobre as obras públicas da região….”
Só através de uma organização de cariz político que alerte as pessoas para estes assuntos, as motive e interesse, é que poderemos alcançar, também, o direito a decidir sobre aquilo que nos diz respeito.
Manuel Cerqueira Gomes
Exército de Salvação Nacional
Batalhão Bússola
Pelotão de Co produção
Manuel Serrão