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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Não podemos continuar a gastar como se não houvesse amanhã

 

A espécie de pensão de alimentos a que tive direito, no divórcio do meu casamento de 18 anos com o Expresso ,vai direitinha para pagar o dinheiro que devo ao banco.

Quase toda a gente – o gerente de conta, amigos iniciados na coisa financeira, o contabilista e  o meu eu racional -  desaconselha-me este movimento. Por várias razões e mais uma, sendo que esta não é negligenciável: vou atirar deduções fiscais pela janela fora.

Nem mesmo este poderoso argumento (o de estar a fazer um favor ao Fisco) está a conseguir demover-me. Detesto dever dinheiro. O endividamento zero é a minha “aurea mediocritas”. Fui educado na obediência ao principio base do salazarismo  “pobrezinho mas honrado”. Tenho vergonha de pedir e dever dinheiro, pelo que atravessei a vida a comprar tudo a pronto pagamento, com a única excepção de um apartamento no Porto e outro em Lisboa.

Este pedaço da cultura do Estado Novo que ficou tatuado no meu carácter não afecta a maioria dos portugueses, em especial os que se fizeram adultos nos tempos das vacas gordas em que Portugal da CEE era um imenso mar onde desaguavam os dinheiros fáceis vindos de Bruxelas.

Os portugueses desataram a consumir e habituaram-se às delícias do dinheiro barato que a adesão ao euro lhes proporcionou.

O resultado está à vista. No ápice de uma geração, o Portugal de gente pobre e poupada, habituada a viver com rigor espartano, transformou-se num país povoado por proprietários de andares, equipados com plasmas e com dois lugares de garagem – mas altamente endividados.

A brusca transformação em “classe média” dos outrora “remediados” fez-se à custa do crédito. Portugal é um dos três países mais endividados da zona euro. O ano passado, 20 mil milhões de euros (soma suficiente para construir seis aeroportos em Alcochete!) atravessaram a nossa fronteira para pagar juros e rendimentos. Entre 2003 e 2007, os empréstimos às famílias aumentaram 50%. E o FMI prevê que o endividamento externo, que já vai em 8,5% do PIB, continuará a crescer.

Apesar da crise e da incerteza, a maioria dos nossos compatriotas teima em manter o padrão de consumo e por isso recorre ao crédito, fazendo com que o nosso país continue a ser um paraíso lucrativo para a Ikea, a Fnac e a Media Markt.  

Mas as cem mil famílias em situação de grande dificuldade financeira, que estão em vias de deixar de cumprir as suas obrigações perante os bancos, lembram-nos que a festa não pode continuar. O Governo tem a obrigação de moderar o consumo, estimular a poupança, e dizer aos portugueses que não podemos continuar a viver acima das nossas possibilidades e a gastar como se não houvesse amanhã .

Jorge Fiel

www.lavandaria,blogs.sapo.pt

Esta crónica foi publicada no DN

 

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