Para acabar de vez com o footing no Sá Carneiro
Ao contrário do Ministro Mário Lino, nunca tive grandes dúvidas sobre as vantagens universais de confiar a gestão do Aeroporto Francisco Sá Carneiro a privados. Como diz e muito bem o ainda presidente da AEP, Ludgero Marques, este é o ministro que já se enganou e mudou de opinião tantas vezes, que o mais natural é que neste caso seja só mais uma...
Apesar do autêntico assalto à mão armada (uma espécie de “planejacking”...) que é hoje viajar de avião entre as duas maiores cidades do país, sou obrigado por motivos profissionais a usar o aeroporto com muita frequência, até para ir e vir de Lisboa. No início desta semana voltei a fazê-lo e com ela foi a terceira vez em dez dias que regressei ao Porto vindo da capital, e foi também a terceira vez que perdi a paciência com o “footing”que a actual gestão deste magnífico equipamento obriga os passageiros a fazer.
Das três vezes o avião acostou a uma das mangas mais afastadas do acesso à sala de saída, quando quase todas as outras mangas mais próximas estavam livres.
Das três vezes todos os passageiros foram obrigados a percorrer a pé uma distância infindável, sobrevoando a sala onde gostariam de já estar e passando por um acesso muito mais próximo que sempre esteve fechado, vá-se lá saber porquê.
Das três vezes, nem sequer o carrinho eléctrico que já por lá vi para auxiliar pessoas em dificuldades ou mais idosas, deu qualquer sinal de vida e fomos encontrá-lo paradinho, muito bem estacionado, no final da longa caminhada ao lado das escadas rolantes, que finalmente nos levaram até á sala de recolha de bagagens.
Acredito, ou melhor, quero acreditar, que existam razões técnicas poderosas que impeçam os aviões destes voos de utilizarem mangas mais convenientes para os seus passageiros.
Acredito, ou melhor, quero acreditar, que subsistam razões de segurança impenetráveis que desaconselhem a circulação dos passageiros destes voos por caminhos aparentemente reservados a quem chega vindo de espaços não Schengen.
Mas também acredito e aqui tenho mesmo de acreditar, que com um bocadinho de boa vontade, inteligência e capacidade de gestão, estas situações verdadeiramente caricatas que dão cabo da paciência a quem nos visita, podiam ser resolvidas, ou pelo menos atenuadas em larga escala.
Não sou perito no tema e imagino não estar na posse de toda a informação relevante, mas há duas alternativas que me parecem evidentes e que estou farto de ver e utilizar em outros aeroportos. Nem sequer é preciso ir muito longe.
Desde logo em Lisboa o acesso pelo controlo de passageiros de voos não comunitários tem um corredor de acesso facilitado a quem não tem que passar por esse controlo. No Aeroporto Sá Carneiro não é possível criar um corredor semelhante, que permita encurtar significativamente o percurso entre as mangas mais afastadas e a saída?
A segunda sugestão são as passadeiras rolantes. Ainda agora estive em Barcelona, onde a distância entre algumas das mangas e a saída também é considerável, mas existem várias passadeiras rolantes que facilitam a vida ao passageiro. Também não é possível fazer o mesmo no Porto? Será um luxo?
Das três vezes seguidas que me obrigaram a perder tempo precioso e me estimularam esta crónica, nem foi mais por mim que me indignei, que tenho bom corpo para este desporto compulsivo. É a pensar no conforto de quem nos visita pela primeira vez e leva essa “estalada” de mau gosto e sobretudo nos passageiros mais idosos, que vi aflitos de bagagem de mão pesada a arrastarem-se pelo infindável corredor deserto (ainda por cima com o “oásis” à vista...) que desafio publicamente a gestão do Aeroporto a encontrar uma solução para esta situação, nem que seja para se poder pensar que, pelo menos neste caso, a gestão privada não faria melhor.
Exército de Salvação Nacional
Batalhão Bússola
Departamento editorial do JN
Manuel Serrão