O provincianismo da capital
A SIC Notícias tem na sua grelha um programa de debate de ideias - A Regra do Jogo - onde intervêm António Barreto e José Miguel Júdice e é moderado por António José Teixeira.
Devo dizer que simpatizo com os três cada qual no seu estilo e na sua especialidade.
Por isso vejo.
Concordo umas vezes, discordo com outras e em muitos casos aprendo mas, acima de tudo, gosto da forma lúcida com que vêm o país e olham para nós.
Acho, desde há muito tempo, que se debate pouco em Portugal, pensa-se menos e temos andado pouco disponíveis para ouvir serenamente os outros.
Chama-se a isto Cidadania.
Acho que a nossa cultura democrática ainda está muito deficitária nessa matéria.
Foram anos e anos de ditadura, de censura e de repressão.
A factura é pesada.
Acredito no futuro. A coisa já foi muito pior.
Fiquei triste, até furioso com o António Barreto e com uma expressão que, de forma inocente, mostra como os instalados na capital olham para o resto do país.
Acho mesmo que foi um deslize. Imperdoável.
Digo deslize porque entendo que António Barreto não pensa isso...
Não quero acreditar.
No meio da conversa Barreto tinha de opinar sobre uma matéria que para o caso não interessa.
Disse que não sabia muito bem, não se tinha informado e...veio a bomba.
Tinha estado a semana toda na PROVÍNCIA e por isso não sabia.
E o que é a Província? Eu sei que esteve no Douro... (espero que a fazer mais um daqueles brilhantes documentários para a televisão).
O que é que a província tem a ver com isso?
Não há jornais? Há.
Não há televisão? Há. Até há televisão por cabo.
Não há internet? Há.
Os telemóveis não têm rede? Têm.
Então o que é que faltou ao António Barreto para estar informado?
Nada! Ou talvez tudo e essencialmente tempo.
E a província com isso? Nada!
Ficava-lhe bem ter dito. Imagino eu...
-Estive muito ocupado. Não tive tempo.
Mas veio a desculpa da Província.
Esse local longínquo, longe da civilização, onde tudo falta e nada se sabe.
Essa província já não existe felizmente.