É um péssimo negócio ter filhos
É oficial. Os cemitérios passaram a estar mais animados do que as maternidades. Em Portugal, no ano passado - e pela primeira vez desde a terrível epidemia de gripe espanhola de 1918 -, morreu mais gente do que nasceu.
O recuo demográfico não é bom para a economia e não me espanta. É um péssimo negócio ter filhos. E eu sei do que falo porque tenho três filhos que adoro mas que arruinaram qualquer hipótese de atravessar esta vida financeiramente desafogado.
Calcula-se que um filho custa em média entre 300 a 500 euros por mês. Fiz as contas, somei os 95 meses do João com os 339 do Pedro e os 422 e os 422 da Mariana e conclui que a minha cruzada particular contra a quebra da taxa da natalidade me custou até agora entre 268 mil e 448 mil euros. É muito dinheiro.
O retorno deste investimento, o maior que fiz em toda minha vida, é muito problemático numa sociedade como a nossa em que os filhos são o sol em torno do qual giram os pais.
Além de nos consumirem uma apreciável quantidade de dinheiro, os filhos condicionam a escolha dos locais para férias e toda a nossa vida social. Desde bebés que se habituam a ser uns ditadores do lar, que choram e amuam se não lhes fizermos logo as vontades.
Depois crescem e passam a olhar para nós como se fossemos caixas Multibanco ambulantes e privativas, sem limite de levantamentos. E, não raro, já marmanjões, com o curso feito, teimam em não desamparar a loja paterna.
Nem sempre foi assim. Durante séculos, as crianças contribuiram para a economia familiar, guardando rebanhos ou apanhando batatas. Depois, a Revolução Industrial atirou-as para as fábricas e as minas, até que no século XX foram inventados os conceitos de infância, ensino obrigatório e a pílula. Resultado: nunca na história da Humanidade os filhos foram tão inúteis e tão adorados.
Num tempo em que a marca de água é a solidão, o eventual rendimento em afecto do pesado investimento em fazer e criar filhos é demasiado curto - a não ser que nos calhe na rifa sermos pais de um Cristiano Ronaldo...
Como a principal riqueza de um país são os seus habitantes, faz parte das atribuições do Governo criar condições para que seja bom negócio ter filhos. O que significa, entre outras coisas, facilitar a vida aos pais trabalhadores (criando, por exemplo, um rede de creches com horários alargados compatíveis com as exigências actuais do mercado de trabalho) e tornar fiscalmente atractivo ter filhos - neste último particular recomendo a leitura atenta da legislação nórdica.
Se não se fizer isso, não tardará muito a que o português se junte ao lince da Malcata na lista das espécies em vias de extinção.
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada no Diário de Notícias