Bons Ares do Porto
Vi ontem um sorridente Durão Barroso a ser entronizado, no Palácio da Bolsa, como membro do Cancelário da Confraria de Vinho do Porto – O “clube” português que reúne mais Chefes de Estado e de Governo e que agora conta com o Presidente da Comissão Europeia, ex-Chefe de Governo e, quem sabe se futuro Chefe de Estado (porventura só não se saberá quando?).
Durão Barroso, e Margarida Sousa Uva (nunca um nome se ajustou tão bem a uma cerimónia…) passearam jovialmente pelo Palácio da Bolsa e pela Alfandega do Porto, onde mais tarde se realizaria a Jantar e Gala do Vinho do Porto.
Este ar distenso e entretido que o Presidente da Comissão, de tamboladeira ao pescoço, manifestava no Porto, contrastavam francamente com a depressão e a preocupação política que o Tratado de Lisboa lhe tem trazido.
Pensei na ironia de os seus dois anfitriões do dia de ontem, Rui Moreira no Palácio da Bolsa e Carlos Brito na Alfandega, liderarem as manifestações de repúdio á intolerável pressão exercida sobre os Irlandeses para a manutenção do Tratado de Lisboa. Julgo que os promotores deste Movimento espontâneo têm toda a razão quando afirmam que “quando a França vota não, a França fica e muda-se o Tratado – quando a Irlanda vota não, fica o Tratado e muda-se a Irlanda”.
A verdade é que, qualquer que seja a evolução futura, a estória do Tratado de Lisboa não deixa de constituir mais um forte revés no modelo de Europa preconizado teimosamente pelas principais famílias políticas europeias. E um forte motivo de frustração para o Presidente da Comissão Europeia, o português e lisboeta mais comprometido com o avanço do modelo referido.
Lisboa e o seu Tratado que consagrariam, ainda que simbolicamente a “Europa Politicamente Correcta”, acabaram por trair o sulista e elitista Presidente da Comissão que, a julgar pela disposição de ontem, parece estar a dar-se melhor com os ares e os sabores do Porto.
António de Souza-Cardoso