Elegia à Preguiça
Quando na “roda da Bússola” dividimos os dias em que cada um deveria editar o seu post, achei perfeito que me tivesse calhado o Domingo porque, mais tranquilamente do que no meio do afogadilho da semana de trabalho, poderia dar o meu modesto contributo nesta determinada defesa do Norte,
Assim fiz, disciplinadamente, desde então, interrompendo o descanso que o Domingo sugere para este higiénico e estimulante exercício.
Assim me preparava, há pouco, para fazer aproveitando a pequena e abençoada fresca que se abriu nesta canícula dominical.
Hesitava em falar de Scolari que pelos vistos não nos enganou apenas um vez fingindo ser um treinador técnica e tacticamente dotado, mas antes duas vezes porque aparentemente, sempre teve boa técnica para fintar o Fisco português. Ou do TGV que se calhar não se fará para já, não porque Ferreira Leite protestou ou porque a crise é tamanha, mas porque a Espanha decidiu adiar a construção do troço Madrid-Badajoz. Ou ainda sobre a forma como um velho Senhor do Futebol chamado Luis Aragonés, construiu, ao contrário de Scolari, uma equipe campeã, em que o colectivo é ainda melhor que os bons jogadores que o constituem.
Mas no meio desta hesitação tropecei com a notícia da morte, aos 94 anos, do conhecido escritor egípcio Albert Cossery. O escritor que desprezava o trabalho, viveu em Paris desde os 32 anos e foi contemporâneo de Camus e Alberto Giacometti.
Foi um boémio a vida inteira e conseguiu ter uma existência digna num Hotel de Saint-German des Prés, escrevendo à estonteante velocidade de 2 frases por semana, o que resultou em 8 livros de dimensão mediana, escritos em 60 anos de actividade literária.
O Génio de “Mendigos e Altivos” não se limitava a elogiar a preguiça, era preguiçoso mesmo.
Por isso em Sua homenagem resolvi, neste quente domingo, fazer este "post preguiçoso".
No próximo Domingo, cá estarei, disciplinadamente, com o "post trabalhador" do costume.
António de Souza-Cardoso