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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

A Júlia da Rinchoa não passa recibos verdes

O Fisco italiano decidiu esta semana obrigar uma prostituta a pagar impostos. Uma auditoria exaustiva às contas bancárias da cidadã, apurou que, nos últimos três anos, ela tinha ganho 356 mil euros no exercício da sua profissão -  um rendimento que deixou de ser livre de impostos.

Esta inédita transformação da prostituta em contribuinte é uma boa notícia para o Tesouro italiano, que aumentará  de uma forma significativa as suas receitas se optar por taxar de uma forma sistemática este segmento da economia transalpina, magistralmente satirizado no “Roma”, de Fellini..

Mas retirar a prostituição da economia subterrânea tem implícito o reconhecimento de uma actividade que na Europa do Sul é tolerada, mas não legalizada.

Toda a gente sabe que há prostituição, que a tradicional oferta de serviços se diversificou para satisfazer a sofisticação da procura - e que às prostitutas se juntaram gigolôs, prostitutos, transexuais e menores.

A prostituição existe, mas toda a gente faz vista grossa. Sendo que toda a gente inclui o Governo, os deputados fazedores de leis, os tribunais que é suposto fazerem-nas cumprir e até o guloso Fisco que não se ensaia nada em usar todos os meios ao seu alcance, incluindo o terror, para espremer os contribuintes até ao último cêntimo.

Olhamos para os anúncios classificados do Correio da Manhã e lemos a “quarentona de Benfica, boazona, pernas grossas, peludinha completa, bumbum Tanajura” (seja lá o que isso for…), a anunciar-se com telemóvel e fotografia traseira, com o traseiro em primeiro plano.

Pegamos na página Relax, do 24 Horas, e ficamos a saber que a Júlia da Rinchoa garante ser “louca e completa”, faz “oral natural até ao fim” e atende casais, de segunda a sábado.

A prostituição está aí à vista de todos. Mas quando nos surge à frente, nós preferimos olhar para o lado. A quarentona de Benfica, a Júlia da Rinchoa ganham a vida a vender favores sexuais, mas como a sua actividade profissional não é legalmente reconhecida vivem à margem do Fisco. São trabalhadoras independentes, mas não passam recibos verdes aos clientes que lhes pagam e as declarações de IVA não fazem parte da sua rotina de vida.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Esta crónica foi publicada no Diário de Notícias

 

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