Não podemos voltar aos maus hábitos
Toda a gente que já fez uma dieta sabe que o difícil não é emagrecer, mas sim manter o peso no final do regime. Para o conseguir, só há uma solução: mudar os hábitos alimentares e o estilo de vida.
As dietas, muitas das vezes exigidas por razões de saúde, são uma óptima oportunidade para passarmos a levar uma vida saudável, aprendendo a valorizar sabores e sensações no entretanto descobertos.
Um iogurte magro com pedaços de limão pode saber muito melhor do que uma bola de Berlim. Nestes dias quentes, um gaspacho é mil vezes preferível a uma fatia de pizza. E aquela sensação feliz de cansaço, no final do jogging, devida à libertação das endorfinas, é o melhor remédio para exterminar aquele cansaço moído que toma conta de nós no final de um dia de trabalho stressante.
O louco disparar do preço do petróleo forçou-nos a mudar alguns hábitos.
O Governo percebeu que era obrigatório e urgente atenuar a nossa enorme dependência do petróleo e, por isso, apoiou e favoreceu investimentos em energias alternativas, renováveis e limpas.
Os construtores de automóveis perceberam que não podiam continuar a hipotecar as suas vendas futuras e, por isso, descontinuaram o fabrico de modelos bêbados de gasolina (como Hummer e os grandes SUV) , aceleraram a investigação de combustiveis alternativos e apostam na produção de carros que gastam pouco.
Os 60 mil automóveis por dia que desde o início deste ano deixaram de entrar em Lisboa estão aí a provar que os brutais e sucessivos aumentos do preço da gasolina, obrigaram muitos de nós a fazer as contas, encostar o carro e passar a usar os transportes públicos. Os preços exorbitantes atingidos pelo barril de brent forçaram-nos a uma dieta pobre em derivados do petróleo.
Agora que o preço do barril recuou 27 dólares , em apenas duas semanas, seria uma pena se não aproveitassemos esta crise para continuarmos a lutar por um estilo de vida mais saudável para o planeta Terra.
Temos de continuar a plantar por esse país fora as pás mágicas que transformam o vento em luz.
Temos de intensificar o investimento em redes de transportes públicos eficaz e menos poluentes, suando e abusando de soluções, como os eléctricos e os troleis, que erradamente abandonamos,
Temos de continuar a aprender a combater o desperdício de energia.
Não podemos continuar reféns de uma matéria prima tão imprevisível como o petróleo (que todos sabemos que vai acabar, só não sabemos é quando), controlada por um bando de gente pouco fiável e nada recomendável como Chakib Kehlil, o presidente da Opep, que há um mês profetizou que o barril ia ser negociado a 170 dólares ainda antes deste Verão terminar (e que atingiria os 400 dólares em caso de conflito com o Irão) e esta semana já veio dizer que o preço vai cair rapidamente até ao patamar dos 70/80 dólares.
Seria uma tolice se desperdiçássemos os efeitos benéficos da alta do preço do petróleo e voltassemos aos maus hábitos.
Jorge Fiel|
Esta crónica foi publicada no Diário de Notícias