O dia da prova dos nove
A não ser que me saia o Euromilhões (o que é impossível porque para ganhar é preciso jogar - e eu não jogo), o mais provável é que o rendimento da minha declaração de IRS de 2009 seja inferior à deste ano. A vida e a bolsa são assim. Não estão sempre a subir até ao céu. E é preciso sabermos viver com isso.
Estou a esforçar-me para evitar a quebra nas minhas receitas. Mas quando a Autoeuropa já anda a trabalhar aos soluços, por falta de encomendas, o cenário realista é preparar-me para viver com menos dinheiro.
A economia pode parecer uma coisa complicada, mas assenta em equações simples. Se a receita diminui há que reduzir a despesa. Pelo meio há espaço para uma data de malabarismos financeiros (que costumam dar mau resultado), mas no final do dia é assim. Ganha-se menos, corta-se nas despesas.
É o que tenho andado a fazer. Vou tirar o passe e usar o carro apenas no indispensável. Cancelei a assinatura dos canais de cinema, um luxo supérfluo pois passavam-se meses sem ver um filme até ao fim. E estou a negociar um pacote que baixe a minha factura mensal em comunicações.
Adoptei uma atitude inteligente nas compras para a casa. Abasteço-me das “commodities no Lidl, complementando cirurgicamente o cabaz no El Corte Inglês, Froiz ou Pingo Doce. E reduzi as refeições feitas fora de casa.
Os cartões de crédito e débito deixaram de ser obrigatórios na minha carteira. A dor de gastar existe. Gasta-se menos quando se paga em dinheiro, porque a sensação de perda é mais acentuada.
Reduzi a zero o meu endividamento, não caindo na tentação de renegociar a divida e projectá-la por um prazo mais longo, aliviando o curto prazo, mas comprometendo um futuro cada vez mais incerto.
O meu plano de redução de despesas tem muito mais alíneas mas vou abreviar pois só o trouxe para aqui para dizer que espero que o Orçamento para 2009 esteja impregnado das mesmas preocupações de rigor e austeridade.
Com a economia europeia a entrar em recessão e as contas dos grandes bancos com pior aspecto que o chapéu de um trolha não é realista esperar um aumento das receitas. O facto de 2008 ser o primeiro ano da legislatura Sócrates em que a receita fiscal vai crescer abaixo do PIB prova que não se pode tirar sangue das pedras.
Como as receitas vão diminuir, o Governo deve dar o exemplo, atacando a despesa, eliminando as gorduras e gerindo com mais cuidado o nosso dinheiro.
2009 é o ano de todas as eleições, mas não há espaço para aventuras. Manter a dispendiosa RTP1 é tão idiota como eu pagar canais de cinema que não vejo - a não ser que ela esteja a ser usada um braço armado de propaganda do Governo (e não deveria ser). E quando vemos que há ministérios com apenas um funcionário no quadro de excedentes, verificamos que há muito para fazer no emagrecimento da Função Pública.
A próxima 4ª feira, o dia em que o Orçamento de 2009 será entregue, é o dia da prova dos nove, em que saberemos se somos governados por estadistas, ou por políticos de pacotilha que cedem às tentações eleitoralistas - e por isso não estão à altura dos tempos difíceis que vivemos.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias