E que tal misturar Prozac na água da torneira?
Estou a ficar deprimido. Teria preferido que o choque frontal com a crise que só se vive uma vez na vida tivesse ocorrido quando eu era bebé de berço ou (quando muito) adolescente inconsciente - e não agora no dealbar do Outono da minha existência.
Toda esta retórica da crise já começa a cheirar mal. Pior até que a fábrica de Cacia da Portucel. E só nos puxa para baixo. A mim ninguém me tira que a culpa disto tudo é dos economistas.
Como diz a velha piada, quando o nosso vizinho perde o emprego, temos um abrandamento económico. Quando somos nós a perder o emprego, temos uma recessão. Mas quando um economista perde o dele, temos uma depressão.
Para vos ser franco não estou com pena nenhuma deles. Os economistas que não souberam prever a chegada desta crise, filha de graves falhas de ética e de expectativas infundadas, bem merecem perder o emprego deles.
Estou farto de andar pela rua a tropeçar em novos Velhos do Restelo, com braços e olhos em baixo, disfarçados de cassandras catastrofistas a preverem o naufrágio iminente nas águas traiçoeiras do Cabo das Tormentas. Precisamos tanto de mais discursos derrotistas como de uma dor de dentes.
Como dizia o Zeca Afonso, o que faz falta é animar a malta. O que faz falta são lideres que nos entusiasmem e convençam de que somos capazes de comer o Adamastor ao pequeno almoço e de transformar o Cabo das Tormentas no da Boa Esperança.
“Quando se avança contra o impossível, ele recua”, disse Paulo Teixeira Pinto. Precisamos de ouvir mais frases optimistas como estas – e de aprender com o apelo à acção e inconformismo lançado por Marx na 11ª tese sobre Feuerbach: “Até agora os filósofos encarregaram-se de interpretar o mundo. Trata-se agora de o transformar”.
Não adianta dramatizar mais. É preciso ser realista e objectivo, restaurar a confiança, ajudar pessoas e empresas a viver com a incerteza e saber conduzi-las um novo ciclo de prosperidade.
Há 50 anos, as empresas eram 70% de tangíveis e 30% de intangíveis. A proporção inverteu-se e por isso a psicologia e a motivação são mais importantes do que dinheiro.
Portugal precisa de uma injecção de adrenalina e quem tem de a dar é José Sócrates.
Se eu fosse o primeiro ministro, telefonava a Artur Jorge e perguntava-lhe o que é que ele disse ao jogadores no intervalo da final da Taça dos Campeões Europeus em Viena, quando o FC Porto perdia 1-0 com o Bayern de Munique.
Se eu fosse o primeiro ministro, ia a Washington à posse de Obama e a aproveitava para perceber como é que ele conseguiu convencer os americanos que podiam vencer.
Se eu fosse o primeiro ministro falava verdade aos portugueses, dizia-lhes que é preciso trabalhar mais e melhor, mas se o fizermos a crise não passa de um tigre de papel.
Bom, se nada disto der resultado, Sócrates pode sempre recorrer ao plano B e misturar Prozac na água da torneira.
(arrisquei esta sugestão depois de saber que Richard Branson implementou o fun como um valor corporativo da Virgin e de ler que o psicólogo espanhol Eduardo Jauregui defende que o bom humor aumenta a produtividade).
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias