As árvores não sobem até ao céu, mas nós as vezes esquecemo-nos disso.
É por excesso de optimismo que muitas famílias caem no pântano do sobre-endividamento. Convencidas que os seus rendimentos não vão parar de crescer ao longo dos próximos 15 ou 20 anos, contraem empréstimos que deixam de poder pagar quando a vida lhes prega uma partida feia e o desemprego lhes bate à porta.
É errado e perigoso planear o futuro tendo como base que os nossos rendimentos vão continuar a progredir ao mesmo ritmo que nos últimos anos.
As projecções valem o que valem (ou seja, pouco) e devíamos todos parar para mastigar a sabedoria de Voltaire quando nos avisou que não devíamos insultar o futuro tentando prevê-lo.
O futuro já não é o que era, e a prová-lo está aí o INE a dizer-nos que os preços, tal como as árvores, também não sobem até ao céu – e que a inflação homóloga, em Portugal ficou abaixo do zero pela primeira vez em quase meio século.
Vem tudo isto a propósito de o aeroporto de Lisboa ter perdido mil voos em 2008, de acordo com um estudo da operadora de jactos privados Jet Republic.
Se calhar não seria estúpido voltar a fazer as contas que nos garantiam que o aeroporto da Portela estava saturado e não ia chegar para as encomendas.
Se calhar até vamos concluir que, afinal, o aeroporto de Alcochete não é assim tão necessário – e corre o risco de se transformar em mais um elefante branco.
Ontem o Semanário Expresso esclarecia os portugueses que Lisboa é a Região da Europa com mais auto-estradas constituindo-se pois, à míngua de outras lideranças, como a “capital europeia do betão”.
Mesmo com o habitual centralismo a verdade é que o País como um todo, também não deslustra, sendo um dos primeiros da Europa no que a Kms de Auto-Estrada diz respeito.
Este assunto, como o que nos entreteve nos últimos meses sobre a imperiosa necessidade de um novo aeroporto, em Lisboa, contrastam de forma arrepiante com as restrições impostas às empresas e às famílias por uma fiscalidade pesada e de aplicação arbitrária e tantas vezes iníqua.
O mesmo, se pensarmos noutras desproporcionadas comparações:
A obsessão por um TGV que quando existir será já obsoleto, em comparação com as restrições impostas na politica de educação.
O embuste da necessidade de uma nova Ponte sobre o Tejo que servirá apenas para congestionar a capital com mais 40.000 carros, quando comparada com as severas economias impostas em matéria de saúde, com urgências e maternidades a fecharem por todo o lado.
Enfim custa muito perceber esta inversão total de prioridades.
Principalmente num Governo que, na promessa de acabar com os lobbies, se ficou por uns quantas medidas dirigidas a pequenos retalhistas das Farmácias, assobiando para o ar nos “furacões” da Banca portuguesa e alimentando, em obras públicas faraónicas, o sector da construção civil.
Surpreendentemente (ou talvez não) dois dos sectores da actividade económica que mais empregos proporcionam à classe política, como ainda recentemente voltamos a constatar….