Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Tirem as patas do porto de Leixões

Sempre me intrigou o fascínio dos políticos pelos académicos. Após matutar no assunto concluí que essa atracção se deve a um misto de admiração e cumplicidade.

Admiração por os académicos estarem equipados com persistência e tempo para consagrar ao estudo e investigação, enquanto eles tiveram de focar toda a sua atenção e esforços na perigosa prática de alpinismo no aparelho do partido, sendo, por isso, não raro obrigados a optarem por atalhos embaraçosos para se munir de um título académico.

Cumplicidade porque ambos, políticos e académicos, estão irmanados na ambição de atravessarem a vida razoavelmente protegidos do cortejo de maçadas que aflige todos os que estamos expostos aos vexames que os humores do mercado infligem a quem trabalha e arrisca no mundo real das empresas privadas.

Só este fascínio dos políticos pelo mundo universitário, que chega a revestir-se do carácter místico e pouco científico de fé, explica que, num dos momentos mais críticos da nossa História, Passos Coelho tenha entregue o superministério que reúne Economia, Trabalho, Obras Públicas e Transportes a um estrangeirado que viveu metade da vida adulta a 8270 km de distância da pátria.

Compreende-se que Passos tenha sublinhado a sua chegada ao Poder com a divulgação de sinais de um estilo de governação mais austero (como a opção de voar em económica) e tenha começado por poupar no número de ministérios.

Mas custa a entender por que é que o primeiro-ministro de um país que balouça à beira do abismo concentra uma data de tarefas vitais (privatizações, revisão da legislação laboral, trágica situação das empresas públicas de transportes, comunicações, turismo, comércio, etc.) nas mãos de um académico com zero de experiência política, zero de experiência governativa e zero de experiência de gestão.

Ter um superministério não bastou para fazer de Álvaro um superministro e a melhor prova disso é o facto de ele ter permitido que desenterrassem do fundo da gaveta o projecto, abandonado pelos governos Santana e Sócrates, de reunir numa empresa todo o sistema portuário nacional.

Depois de, no passado, ter tido a fama de ser o mais caro porto do Mundo e palco de conflitos laborais constantes, Leixões vive há um quarto de século em paz social, é o mais lucrativo dos nossos portos, teve em 2011 o melhor ano de sempre, registando um crescimento de 12%, rebocado pelas exportações, que subiram 27,5%.

O Norte e Portugal não podem tolerar que este exemplo luminoso de gestão seja usado para disfarçar incompetências alheias e tapar os buracos dos prejuízos dos outros portos. O ministro Álvaro já devia ter percebido que não se deve mexer no que funciona bem - e que os superiores interesses do Norte e do país impõem que ninguém ponha as patas em cima do porto de Leixões.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

Principio de Peter e Lei de Murphy

Afinal já temos medidas para o crescimento: franchisar os pasteis de nata. Esta frase chegou-me 6ª feira, por SMS, enviada pelo meu amigo Anibal, empresário metalomecânico com actividade industrial no distrito de Aveiro e uma forte base comercial em Inglaterra.

Li a frase - suficientemente curta para ser um tweet - e logo a identifiquei como a certidão de óbito político de Álvaro. O ridículo mata.

Atingir o Princípio de Peter (num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetencia) equivale a accionar a Lei de Murphy - e tudo quanto pode correr mal começa, inevitavelmente, a correr mal. É o que o que nos está a acontecer com o mega-ministério que devia funcionar como uma dose de Prozac mas não passa de um réplica dos trágicos coros grego e só acentua o ambiente depressivo.

Até foi favorável a minha primeira impressão de um ministro que pedia para o tratarem pelo nome próprio, arregaçava mangas, no sentido literal, e prometia também fazê-lo no sentido figurado: "Chegou a hora de reconstruir Portugal. Só falta a necessária vontade de o levar a cabo".

Um par de meses chegou para confirmar que não basta a vontade. Também é preciso saber. E o Álvaro não sabe, para grande pena e desgraça nossa.

Há cinco anos, a AEP iniciou uma campanha de promoção do consumo dos produtos portugueses, com a marca Compro o que é nosso. Mais de 800 empresas aderiram à iniciativa, cujo sucesso é mensurável pelo crescimento das vendas, que oscilam entre um mínimo de 5% e um máximo de 15%, das 8500 marcas que usam o rótulo garantindo que o valor acrescentado português do produto é superior a 50%.

Ora há cinco anos o nosso Álvaro estava em Vancouver a dar aulas e a questionar-se sobre as razões que levaram Deus a demorar tanto tempo a criar o Universo, o tema abordado na sua obra O diário de Deus criacionista.

Talvez por isso, talvez por se terem esquecido de o avisar da campanha da AEP, talvez por ser distraído e lá em casa o pelouro das compras estar atribuído à sua mulher Isabel, talvez pela conjugação de alguns ou todos estes talvez, o ministro da Economia convenceu-se estar na posse de uma ideia nova e luminosa e em Setembro, deu uma conferência de imprensa, anunciando o lançamento da iniciativa Mais Portugal justificada pela "incipência da aposta na produção nacional".

"A diminuição do défice passa pela diminuição das importações", explicou com o ar impante de quem acabava de inventar a roda.

Com diplomacia e tacto, a AEP fez ver ao ministro que já estava no terreno uma campanha com o mesmo objectivo e que, se ele quisesse, teria todo o gosto em ceder a marca Compro o que é nosso. Álvaro deixou a associação sem resposta. Não tugiu nem mugiu. Foi o primeiro sinal de um terrível erro de casting.

Antes de trocar Vancouver por Lisboa, Álvaro fez uma declaração de amor: "Gosto muito de Portugal e gostaria muito que o meu país tivesse futuro". Neste momento, já não tenho dúvidas. O futuro do nossa pátria será mais sorridente se ele sair da Horta Seca e voltar às salas de aula no Canadá.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub