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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

São omeletes para todos

Os jardins do Polana, em Maputo, são um local encantador mas Américo Amorim já não estava a achar piada nenhuma ao assunto, apesar de desfrutar de uma calmante e bela vista do Índico. Na sua primeira visita a Moçambique desde a lua de mel, o que ele queria era fazer negócios, usando como testa de ponte a Mabor Moçambique, que lhe tinha caíra no regaço por via da aquisição da fábrica de Lousado da mais famosa marca portuguesa de pneus.

Ao todo éramos uma dúzia. Nesta viagem exploratória, Américo levava gente de várias áreas de negócio do seu grupo, desde a finança aos cabos elétricos, passando pela têxtil e hotelaria.

À imagem do seu líder, o grupo Amorim atravessava um período de expansão irrequieta e acelerada, mas o mesmo não acontecia com o serviço na esplanada do Polana, que em hora menos acertada foi escolhida para um almoço rápido.

O tempo anda mais devagar no relógio dos moçambicanos do que nos nossos, o que desesperava o empresário. O empregado demorou uma eternidade a fazer a primeira aparição, que apenas serviu para se inteirar do óbvio (queríamos almoçar), e uma outra eternidade a aparecer com as listas.

"São omeletas para todos", ordenou o homem mais rico de Portugal quando, após uma terceira eternidade, o empregado apareceu para tomar conta dos pedidos. À primeira fiquei surpreso, mas só precisei de segundos para racionalizar e aprender a lição. A tarde de trabalho teria ido pelo esgoto abaixo se cada um de nós stressasse com diferentes pedidos o empregado de mesa e o pessoal da cozinha.

Na Grécia Antiga, o berço da democracia, em épocas de emergência, os cônsules nomeavam um ditador para assumir o poder até a situação regressar à normalidade (para não ficarem com ideias, devo esclarecer que o ditador estava em funções por um período curto e era pessoalmente responsabilizado pelas decisões tomadas).

Lembrei-me de Américo Amorim (o melhor, a par de Belmiro de Azevedo, que emergiu na nossa classe empresarial após o 25 de Abril) a propósito do BPN, sem que isso tenha a ver com a curiosidade dele ter estado ligado ao seu parto (foi, em 93, um dos acionistas fundadores) e enterro (é acionista do BIC).

"Não tenho cultura para esse número, meu amigo", respondeu-me uma vez, quando lhe perguntei se era verdade que, para efeitos da sua privatização, a PT tinha sido avaliada em mil milhões de contos e que ele estava interessado em comprá-la.

Calcula-se que a conta final do BPN ande à volta de seis mil milhões de euros. Como, tal como o meu amigo Américo, não tenho cultura para estes números, só fiquei esclarecido sobre a real dimensão da tragédia quando soube que seis mil milhões de euros são, de acordo com um estudo da Visa,o
impacto económico positivo dos Jogos de Londres 2012 na economia inglesa. Dito por outras palavras, para os nossos bolsos, o BPN são uma espécie de Olimpíadas. Só que ao contrário.

A verdade leninista do Jardim Gonçalves fundador do BCP

 

O jovem Jorge Jardim Gonçalves quando estudava para ser engenheiro. Foi sempre um menino bem comportado, católico de modos suaves e delicados, que acompanhava as meninas a casa e não era dado a namoricos

 

Lenine ensinou-nos que uma mentira se dita insistentemente acaba por passar por verdade.

 

É precisamente isso que está a acontecer com a biografia de Jorge Jardim Gonçalves que, durante a interminável novela ainda em cartaz, foi sempre apelidado de «fundador do BCP» por jornalistas ignorantes e ansiosos por encontrarem sinónimos que lhes poupem repetições excessivas do nome do engenheiro.

 

(ora aí está um sinónimo rigoroso, pois o futuro ex-presidente do Conselho Geral e de Supervisão do BCP licenciou-se em 1958 em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e é frequentemente referido como «o engenheiro» nas conversas entre os quadros do banco)

 

Manda a verdade (não a leninista…) que se diga que Jorge Manuel Jardim Gonçalves não só não é «o fundador do BCP» como ainda por cima resistiu e colocou sérias exigências para aderir ao projecto que despontou na fervilhante cabeça de Américo Amorim e só se tornou uma realidade devido à indómita força de vontade deste empresário.

 

O BCP foi fundado no Verão de 1984 numa reunião de empresários na casa de apoio à piscina da vivenda da Granja (arredores do Porto) de Américo Amorim.

 

Amorim, que frequentara as reuniões promovidas por Artur Santos Silva que dariam origem ao BPI, zangou-se com este banqueiro e decidiu ele próprio fundar um banco comercial privado, inicialmente baptizado Banco Comercial Portuense ‑ a sigla BCP manteve-se, mas o qualificativo geográfico foi alargado com a substituição de Portuense por Português.

 

Jardim Gonçalves nem sequer foi a primeira escolha do grupo fundador liderado por Américo Amorim. Fernandes Tato, à época no Banco Borges & Irmão, foi o primeiro convidado mas declinou, por ter medo de embarcar na aventura.

 

Amorim e Jardim (à época presidente do BPA) não se conheciam. O primeiro encontro foi à mesa do grill do Altis.

 

O empresário não ficou com uma grande impressão deste seu primeiro encontro com o banqueiro, que se revelou ultra-cauteloso e praticamente se limitou a escutar razões e argumentos.

 

Jardim pediu tempo para pensar. Pensou e repensou. Após um mês de reflexão aceitou, mas só depois de Amorim lhe ter apresentado uma garantia bancária de 80 mil contos (ver para crer como S. Tomé).

 

Jorge Fiel

 

 

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