Amândio Santos
Não se fazem omeletas sem partir ovos. Esta verdade de hoje vai ser mentira, não amanhã, mas algures em meados do próximo ano, quando a Derovo começar a comercializar, com a marca Dovo, em super e hipers uma linha de produtos que nos vão poupar imenso tempo na cozinha.
Quer fazer um molotof? Compra só as claras. Doce de ovos? Adquire apenas as gemas. Abrimos um lata de atum, outra de feijão frade, adicionamos cebola picada e azeite e pensamos que um ovo cozido ficava a matar mas temos preguiça de sujar um tacho, esperar que a água ferva, o ovo fique uns bons dez minutos a cozer - e depois deixá-lo a estagiar em água fria, para a casca sair bem? Isso vai deixar de ser um problema, porque vão estar disponíveis ovos já cozidos descascados. E para saborear a gentil omeleta acabará a maçada de partir os ovos e batê-los com energia. Bastará compra o ovo líquido e derramá-lo na frigideira.
Deve dizer-se que a ideia inicial dos produtores de ovos do Vale do Vouga, Beira Litoral e Oeste, quando há 15 anos se associaram para criar a Derovo, não era facilitar a vida dos consumidores domésticos mas sim garantir a sobrevivência e escoamento da sua produção.
A industrialização da fileira revelou-se um sucesso tremendo e mensurável. Quando começou a laborar, em 1996, a fábrica do Pombal processava 120 mil ovos/dia. Hoje, o grupo Derovo transforma diariamente 3,8 milhões de ovos, em Portugal e Espanha (Astúrias), e tem em curso diversos investimentos no valor de 40 milhões em três projectos: uma fábrica de omeletas outra de sobremesas e um mega centro de produção de ovos.
“Praticamente, acabamos com as salmonelas, com a intoxicação alimentar no casamento por causa da maionese”, diz, com orgulho, Amândio Santos, 40 anos, o homem que organizou a fileira desde que a galinha põe o ovo até que ele aterra nos nossos pratos, assegurando pelo meio a segurança alimentar porque o ovo liquido ou em pó é pasteurizado, num choque térmico a 70º, durante 90 segundos, garantindo-lhe assim 28 dias de vida suplementar.
Natural do Pombal, onde bate o coração da Derovo, e filho de avicultores, Amândio cresceu no meio de 2400 galinhas que punham diariamente dois mil ovos - a exploração da família Santos, que não aguentou o embate da primeira vaga da industrialização do sector, que se seguiu à adesão de Portugal na CEE.
Amândio estudou, à noite, Contabilidade, em Aveiro, enquanto trabalhou na empresa que fazia a decoração das Pousadas de Portugal. Vendia janelas e escadas para sótãos quando os produtores de ovos o foram desinquietar.
A partir do zero, construiu o líder ibérico do sector e prepara-se para fechar a verticalização da sua actividade, de jusante (passando a vender também aos consumidores e não apenas à indústria alimentar) a montante – com o investimento no centro de produção de Proença-a-Nova onde um milhão de galinhas vão por ovos na estrita observância da nova legislação comunitária, que vela pelo bem estar das poedeiras.
“Vai ser uma espécie de resort para galinhas. Cada uma vai ter um espaço privativo de 750 cm2, areia para esgravatar, um ninho com aparas de madeira esterilizada e uma superfície de lima para desgaste das unhas”, conta Amândio. Com este investimento garante que não sofrerá solavancos na cadeia de abastecimento, já que as novas exigências da UE deverão dizimar muitas explorações – além de provocar um aumento de 30% no preço dos ovos.
Amândio escolheu almoçarmos no célebre Manjar do Marquês, à face da EN 1e o ponto de paragem obrigatória das camionetas que demoravam meia dúzia de horas a fazer o Porto-Lisboa, nos tempos gloriosos em que a A1 era uma miragem.
Num regresso ao passado, pedimos o menu tipo do camionista – arroz de tomate com filetes de pescada e panados de porco –, onde o ovo marcou presença, não só no revestimento do peixe e da carne, mas também nalgumas entradas (os bolos de bacalhau, por exemplo) e na sobremesa (leite creme). Como Amândio usa o restaurante como cantina, trata as empregados pelo nome e tem direito a um preço fixo de 15 euros por pessoa, independentemente do que come bebe – regalia de que beneficiámos.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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O Manjar do Marquês
EN1, km 151, Pombal
Entradas (Lulinhas, polvo, rojões, queijo fresco, bolos de bacalhau, etc)
Arroz de tomate
Filetes de pescada
Escalopes de porco panados
Esteva tinto
Leite creme
Manga
1 café
1 chá de camomila
Total: 30,00 euros
Curiosidades
Nós, os portugueses, consumimos 180 ovos/ano per capita, uma média bastante inferior à espanhola (290 ovos/ano) e à europeia (mais de 300 ovos). “É uma questão cultural. Para nós o ovo não é olhado como uma alternativa ao peixe ou à carne. Só pedimos uma omeleta quando decidimos comer uma coisa leve”, lamenta Amândio
A Derovo (que este ano vai facturar 55 milhões de euros) está a desenvolver, em parceria com a Universidade do Minho, um protótipo de ovo estrelado pasteurizado, que depois de comprado bastará aquecer no micro-ondas
O prato de ovo preferido de Amândio Santos é a omeleta com salsa e cebola