O misterioso frenesim de editores e livreiros
Comparado com a animação que vai pelo mercado do livro, o BCP até parece tão calmo como o cemitério dos Prazeres à meia noite.
Pais do Amaral andou por aí com o livro de cheques em punho e juntou seis editoras no grupo Leya, com vendas de 80 milhões de euros, Saramago e Lobo Antunes no catálogo e uma posição interessante no livro escolar.
Américo Areal pegou em parte dos seis milhões que encaixou com a venda da Asa e, entusiasmado com estatística (a ampliação do espaço de uma livraria de Hanover fez subir o tempo médio de permanência dos clientes de 20 minutos para 1h30), inaugurou nas Amoreiras a Byblos, com
A Fnac está deliciada com o nosso país e sempre que pode abre uma nova loja. O gigante alemão Bertelsmann continua a dar gás à expansão da rede Bertrand. Pedro Moura Bessa (Civilização) aproveitou a compra da Leitura para lançar uma cadeia usando como marca o nome da mais prestigiada livraria portuense. A Bulhosa e Almedina continuam calma e paulatinamente a executar os seus planos de expansão.
Começo a ficar convencido que estão a abrir mais livrarias em Portugal do que agências bancárias.
Já não é mais preciso atravessar o Atlântico Norte para ir a uma Barnes & Noble ou Borders bebericar um café enquanto se lê um livro, que será devolvido à estante com o marcador a assinalar a página onde vamos – para amanhã sabermos onde recomeçar.
Ora uma pessoa pega no estudo «A leitura em Portugal» e por muito que se esforce não encontra dados que fundamentem a adrenalina que corre nas veias dos editores e livreiros.
Mais de metade dos portugueses confessam que no ano anterior não compraram um livro sequer. E são menos de 5% os que adquiriram um livro por mês. Estamos a ler mais do que há dez anos, mas o progresso foi ligeiro – neste período o número de leitores de livros apenas aumentou 7%.
E há ainda o Kindle, o iPod dos livros, a nova coqueluche dos «gadgets», que a Amazon pôs à venda na Net por 399 dólares (278 euros) e que se vendeu como pãezinhos frescos. Esgotou num instante.
O Kindle é um dispositivo electrónico portátil (mede 18x13cm e pesa
Não quero descrer da esperteza de Pais do Amaral, que apesar de ser o primeiro na família a trabalhar há uma data de gerações, não se tem safado nada mal nos negócios. Longe de mim duvidar da perspicácia de Américo Areal os dos alemães da Bertelsmann.
Mas quando olho para esta excitação, não posso deixar de pensar que até podemos estar todos a ler o mesmo livro – mas seguramente capítulos diferentes. E fico com vontade de escrever um livro intitulado «O misterioso frenesim de editores e livreiros».
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no diário económico Oje (www.oje.pt)