Bárbara Coutinho
Uma fralda de pano. Não precisou de puxar pela cabeça quando perguntamos qual o primeiro objecto de design que conheceu: foram as fraldas de pano que a mãe lhe punha. Touché! Tudo é desenhado. Marcado o ponto, respondeu sem recorrer ao cliché do clip: a Bic cristal, preta (“nunca escrevi a azul”), esfera normal, foi o primeiro objecto que apreciou pela sua estética e funcionalidade. E também os jeans, a peça em si, nenhuma marca em especial. “Tanto compro na Marni como na Zara. Não vou pelas marcas, mas pelas peças”, esclarece.
Bárbara Coutinho, 38 anos, vestia jeans, botas pretas e pulôver em vê claro, quando nos encontramos no Museu do Design e da Moda (MUDE) instalado na antiga sede do BNU, na rua Augusta, e a mais recente coqueluche da capital em meio ano recebeu 120 mil visitantes, tornando-se o terceiro museu mais visitado, a seguir aos Coches e ao Berardo.
Escolheu ser fotografada junto a La Chaise, cadeira branca da dupla Charles e Ray Eames, uma das suas peças preferidas das 2500 da colecção Capelo, que são o espólio base do MUDE. Como a cadeira está em exposição, não se sentou nela, mas está farta de conhecer essa sensação porque tem uma igual na sala da casa, que usa para ler e ouvir música (muito jazz).
Como mora na Baixa, vai a pé para o MUDE, só usando o Ford Ka amarelo quando vai dar aulas de História Arquitectura nos mestrados do Técnico. Apesar de urbana e de não usar muito o carro, adora conduzir, gostava de ter um jipe e um dos seus sonhos era fazer um Dakar.
Na subida para o Chiado, resumiu-nos a vida num parágrafo. Filha de uma ajudante de Farmácia e de um pedreiro, cresceu na Costa da Caparica onde adquiriu a paixão pelo mar e o gosto pelos banhos no Inverno: “É a melhor praia do país. Não sou mulher de águas calmas. Gosto de sentir as ondas e a força do mar”. Ainda encarou ir para Medicina e ser cirurgiã, mas licenciou-se em História de Arte na Nova. O primeiro emprego foi a dar aulas à noite, no Secundário, enquanto fazia o mestrado com uma tese sobre Carlos Ramos.
“Para se ser professor temos de estar aberto para aprender. Ensinar mantém-nos abertos e em permanente auto-formação”, diz Bárbara, que trazia um relógio Ómega e um anel transparente com uma pérola, comprado no Victoria and Albert Museum. Ela até gosta de dar aulas, mas como não queria passar o resto da vida como profe no Secundário candidatou-se e foi aceite no concurso que pedia uma pessoa que concebesse e coordenasse o serviço educativo do CCB. Estávamos em 1998 e era o início de uma bela amizade entre ela e colecção Capelo que desembarcou no CCB nesse mesmo ano. Nunca mais se separaram.
Nota-se à primeira que ela adora gengibre, o denominador comum entre a bebida (sumo de cenoura com toque de gengibre, apresentado na lista como “uma experiência revitalizante”) e a massa soba grelhada na chapa ao estilo japonês, com galinha, miolo de camarão, ovo, cebolinho, cenoura, pak choi, rebentos de soja e cebola, coberta com cebolinha frita, sementes de sésamo e gengibre. Como ama a cozinha oriental, para a semana vai estar nas suas sete quintas, pois 2ª feira parte para Seul.
O seu programa está sintetizado nas iniciais do museu: MUDE. “Vamos contribuir para a mudança na Baixa, em Lisboa e na consciência. Mais importante que os objectos é desenhar a atitude das pessoas”, declara Barbara, que tem em mãos a rara oportunidade de pôr em prática a tese de doutoramento em que está a fazer sobre os novos museus para o século XXI - as novas catedrais, sim senhor, mas catedrais mutantes, flexíveis, em que a percentagem de área de exposição desce para dar espaço a livrarias, auditórios, lojas, cafetarias, restaurantes e outros locais de fruição.
“Colecção não é sinónimo de museu, que não pode ser um contentor branco, mas antes um espaço vivido, que integre os hábitos e o dia a dia das pessoas. Não se trata de ir ao museu mas de o viver. É preciso tirar as aspas ao design”, conclui.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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