Há muitos, muitos anos, os nossos antepassados inventaram deuses para explicar fenómenos - o vento e a chuva, o sol e a lua, o fogo e a tempestade, o dia e a noite - para os quais não tinham explicação, e organizaram religiões com o objetivo de influenciar os humores imprevisíveis da mãe Natureza.
Bastante empreendedores, como está documentado pela capacidade de construírem as pirâmides do alto das quais 43 séculos de História nos contemplam, os antigos egípcios arquitetaram uma narrativa religiosa bastante completa, onde, por exemplo, Rá, deus do Sol, cuspiu Shu, deus do Ar, e Tefnut, deus da Humidade. No panteão de deuses egípcios, Ísis encarregava-se dos seres vivos, mas nem o futuro (Osíris superintendia a todo o processo da jornada até ao Além) nem os sentimentos - Seth era a divindade que tratava do ódio - eram negligenciados.
Interesseiros, os gregos abriram espaço na sua mitologia para Hermes, deus dos comerciantes, a quem rezavam e dedicavam o sacrifício de animais, na tentativa de o satisfazer e melhorarem as vendas.
Coube aos hebreus o louvável esforço de racionalização desta confusão panteísta de adoradores de uma multidão de deuses. Abraão foi, à época, o equivalente à Maria Manuel Leitão Marques, o rosto do Simplex religioso, da fundação de uma religião monoteísta, em que um só Deus, todo poderoso, esponsável por toda a Criação, que se ocupa em regime de acumulação de todos os pelouros - e a quem os fiéis podem recorrer seja qual for a índole da sua aflição. Muito melhor que a Loja do Cidadão.
Nove em cada dez dos seis milhões de benfiquistas refugiaram--se na religião para achar uma explicação para a esmagadora hegemonia portista no nosso futebol. Os panteístas atribuem as culpas a efeitos conjugados da ação malfazeja de alguns anjos e demónios, como Jesus (o Jorge), Vítor Pereira (o dos árbitros), Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa. Outros, monoteístas, optam por culpar apenas os árbitros por todas as suas desgraças.
Como portista e agnóstico compreendo a desorientação teológica que se apoderou dos benfiquistas. A moderação da minha satisfação pela conquista do bicampeonato deve-se ao facto de por mais de uma vez ter festejado tris, tetras e até um penta. Mas para se gabar de ter vivido um bi, um benfiquista tem de ter pelo menos 28 anos -e um sportinguista 59 anos!
Enjeitar as responsabilidades pelas derrotas e fracassos, atirando- -as para as costas largas da arbitragem, não é o caminho certo para os benfiquistas contrariarem o domínio azul e branco e devolverem algum suspense à indústria do futebol.
Demonizar os árbitros e sacrificar animais à Fortuna (a deusa romana da Sorte) é o drama da mitologia benfiquista. Para voltar às vitórias, o Benfica tem de aprender com Minerva (a deusa romana da Sabedoria) a lição de que as vitórias portistas são filhas da combinação de talento com competência e muito, muito, trabalho. Só assim a sua fé no futuro terá fundamento.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias
Nunca falhávamos um jogo em casa. Ao domingo de manhã eram os juvenis na Constituição ou os juniores no campo de treinos das Antas. À tarde, duas horas antes do jogo, já estávamos na paragem do D para conseguirmos um lugar bom na Superior, bem perto do Tribunal.
No regressoa casa, fazíamos uma escala na Casa das Tortas, onde ouvia o meu pai comentar o jogo com os amigos, enquanto bebiam taças de Três Marias e petiscavam pasteis de Chaves quentinhos.
Sou portista desde que me lembro. De miúdo de calções até meados da adolescência, nunca deixei de acompanhei o meu pai aos domingos. As Antas eram a nossa catedral, o FC Porto a nossa religião, o jogo dos seniores a nossa missa.
Movidos por esta fé atravessamos, durante 18 anos, um deserto de vitórias, apenas pontuado por um pequeno oásis (a Taça de Portugal de 68). Tivemos de esperar pelo 25 de Abril para que a esta fome de títulos se sucedesse a fartura de vitórias de que este ano das quatro taças é um belo exemplo.
A longa e esmagadora hegemonia azul e branca tem gerado tensões difíceis de ultrapassar, devido à incapacidade dos principais concorrentes em acertarem numa estratégia e modelo de gestão que assegurem a viabilidade do negócio do futebol no nosso pais.
Nos anos 60, o Benfica construiu a sua liderança à sombra das mesmas regras de Condicionamento Industrial. A gramática do Estado Novo era simples. Só se iniciava uma actividade económica após a obtenção prévia da bênção de Salazar. Depois não era preciso ser um Einstein para enriquecer, pois beneficiava-se de mercados cativos e acesso privilegiado às matérias primas das colónias.
Até ao 25 de Abril, o nosso futebol viveu em regime de duopólio, com os dois grandes de Lisboa a partilharem as pérolas futebolísticas da África portuguesa e das ruas deste pobre país - protegidas da cobiça alheia pela lei e vontade do Salazar que impediu a transferência de Eusébio para o Inter.
O Benfica e o Sporting ganham poucas vezes porque nunca souberam adaptar-se a um mercado cada vez mais aberto, primeiro com a democracia, depois com a CEE, e finalmente com a lei Bosman que levou ao futebol o mercado único europeu que desde 92 funcionava nas outras áreas da economia.
O Porto é hegemónico porque tem sempre sabido aplicar ao futebol o catecismo estratégico dos países desenvolvidos, que consiste em nunca parar de subir na cadeia de valor, vendendo, no momento certo e com valor acrescentado, jovens talentosos recrutados em mercados periféricos – depois de os fazer crescer e os mostrar na Champions.
Só quando se convencerem que o Porto ganha apenas porque é mais competente é que o Benfica e o Sporting poderão aspirar a quebrar a hegemonia azul e branca. Tudo o resto são tretas.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
A minha admiração por Banksy não mais parou de crescer desde que me apercebi da sua existência quando ele, há coisa de cinco anos, expôs obras nos mais prestigiados museus de Nova Iorque - à revelia das respectivas direcções.
Disfarçado de reformado, gabardina e chapéu, nariz e barba postiças, plantou no MoMa uma tela pintada com uma lata de sopa da Tesco e enriqueceu durante três dias (o tempo que demorou até ser notada pelos responsáveis do museu) a exposição permanente do Metropolitan com um retrato de um almirante colonial com um spray na mão e slogans anti-guerra no fundo do quadro.
Esta genial e subversiva inversão do clássico golpe do roubo do quadro no museu, foi fotograficamente documentada por um cúmplice de Banksy, o nome de guerra de um artista britânico, de identidade e aparência desconhecidas.
O anonimato permite-lhe protagonizar acções espectaculares como a de atirar ao ar, no meio do desfile de Carnaval de Notting Hill, centenas de notas falsas de 10 libras, com a cara de Lady Di no lugar da da rainha, que são vendidas no ebay a 200 libras cada – ou a substituição, em 43 lojas londrinas, de 500 CDs de Paris Hilton por outros em que ela está em top less na capa e as músicas foram remixadas por Danger Mouse.
Banksy, 35 anos, é um artista de rua, que apesar de ter sido reconhecido pelo sistema - um graffiti dele num quiosque de Tottenham Court Road foi vendido por meio milhão de libras - continua a espalhar gratuitamente o perfume do seu talento por paredes que não lhe pertencem. Representa para a arte o mesmo que Picasso no início do século XX. É o ícone da transgressão, o símbolo da arte urbana que alguns dos novos donos das cidades já compreenderam e outros teimam em rejeitar.
Antonio Costa percebeu, e a Câmara de Lisboa apoia não só o projecto Crono, que decorou com grafittis gigantes prédios devolutos no centro da cidade, mas também a recuperação, com o patrocínio da CIN, de quatro murais degradados, pintados no pós 25 de Abril.
Rui Rio não percebeu e ordenou à polícia municipal do Porto que detenha e acuse de vandalismo quem ousar pintar as paredes da cidade com mensagens políticas ou graffitis artísticos.
Os agentes da esquadra da PSP da Olaias também não perceberam e não se limitaram a prender cinco jovens comunistas que pichavam um slogan partidário no muro da sua escola - também submeteram as duas raparigas do grupo à humilhação de se despirem à sua frente, sob o pretexto de que procuravam droga e armas dissimuladas.
Era com escândalos como estes que o MAI Rui Pereira se devia preocupar – e não em conceder audiências ao presidente do seu clube para debaterem a segurança do autocarro do Benfica na deslocação ao Porto.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
No auge da sua juventude, no início dos anos 60, o meu tio Abílio jogou basquetebol e voleibol, em dois clubes diferentes (Vasco da Gama e Académico). Era um atleta mediano, que só por uma vez protagonizou os títulos dos jornais, com direito a foto a ilustrar a história – o motivo foi bom e adequado à velha regra do jornalismo de que notícia é o homem a morder o cão.
Num lance polémico de um set renhido, o árbitro, que começou por julgar a favor do Académico, fez marcha atrás na decisão depois do meu tio, por sua iniciativa, lhe ter garantido que os adversários tinham razão – a bola batera dentro, o ponto devia ser contabilizado à outra equipa.
Vem a lembrança deste caso luminoso a propósito do início de mais um ano lectivo e do papel decisivo da escola na construção do futuro, pois na sociedade de conhecimento em que vivemos a riqueza das nações não assenta em reservas de ouro, divisas, petróleo ou gás, mas sim na formação dos seus cidadãos.
Não posso deixar de estar preocupado com o facto de, apesar de investirmos em educação 5,3% do PIB (mais do que a média dos países da OCDE) termos a mais elevada taxa de abandono escolar da EU (40 mil deixam todos os anos os estudos) e uma elevadíssima percentagem de chumbos (que custa 700 milhões euros/ano) – e sermos o país europeu onde menos pessoas dizem ter aprendido uma língua estrangeira na escola.
Mas sei que o papel da escola não se esgota na transmissão de conteúdos e que tão importante quanto a acumulação de conhecimentos é a aquisição de outras aptidões, como a de saber pensar e ser melhor cidadão. Neste particular as melhorias notam-se à vista desarmada. Basta olhar para os passeios. Cuspir ou deitar papéis para o chão são actos cada vez mais raros. Reciclar está a tornar-se um hábito.
Ganha a batalha da higiene pública, é urgente triunfar também no culto da meritocracia, da produtividade e da coragem de assumirmos as nossas responsabilidades, exterminando a velha e cobarde mania de estar sempre a tentar atirar para as costas de terceiros a culpa dos nossos fracassos.
Bento, um guarda redes recordado com saudade pelos benfiquistas, deu um exemplo acabado desta atitude deplorável quando, em 1983, atribuiu a severa derrota (5-0) sofrida por Portugal frente à URSS ao facto de não haver fruta no hotel moscovita onde os jogadores estiveram hospedados.
27 anos depois, na semana de abertura das aulas, Luís Filipe Vieira volta a dar um péssimo exemplo de carácter aos jovens benfiquistas ao atirar para cima de uma legião de terceiros (árbitros, Liga, Vítor Pereira, Joaquim Oliveira, adversários, secretário de estado, etc) a culpa pelo facto do seu clube estar a jogar mal – e a perder.
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias
Como não sou lampião nem papista, estou neutral como a Suíça na teima sobre se o Bento XVI reuniu mais gente no Terreiro do Paço do que Jesus no Marquês do Pombal. Tratando-se de dois acontecimentos raros e extraordinários, estou-me nas tintas para os excessos em que têm tropeçado alguns jornalistas, levados pelo arrebatador entusiasmo e cega fé benfiquista e/ou católica. Para atravessar esta semana, não precisei de gastar alguma da paciência que tenho em armazém, pois sei perfeitamente que o enfado derivado da vitória do Benfica e da visita papal não é nada comparado com o sofrimento aguentado por Jó, por causa de uma teima entre Deus e o Diabo.
Até me tenho divertido! A manchete do Record “O Mundo é do Benfica” desopilou-me a figadeira e, sem tomar qualquer substância ilícita!, fez-me imaginar estar rodeado por seres iguaizinhos ao ET do Spielberg. Ao apostar com o meu filho sobre qual a palavra (histórico/a ou juventude) de que os comentadores televisivos iriam abusar mais, senti-me transportado aos tempos em que nas idas a pé para o liceu cada um escolhia as duas primeiras letras de matrículas que lhe achávamos iam aparecer mais frequentemente no percurso.
Mas aqui e ali há coisas que me maçam, como o elogio do celibato feito pelo cardeal Saraiva Martins: “O padre não é uma pessoa frustrada. Não há nada mais belo que o celibato”. Lembrei-me logo da enxurrada de membros do clero envolvidos em comportamentos pedófilos e que por isso não partilham desta opinião. E não me parece bem que um homem que nunca molhou o pincel se ponha opinar sobre o assunto. É como as crianças que dizem que a carne é melhor que o peixe - que não comem porque dizem que não gostam, apesar de nunca terem provado.
Irritam-me solenemente as excepcionais medidas de segurança que têm efeitos tão perniciosos como os idosos da freguesia da Sé, no Porto, irem ficar amanhã privados de almoço, por estar proibida a circulação no bairro da carrinha que distribui as refeições ao domicilio.
Mas tenho-me entretido a descobrir o lado positivo dalgumas idiotices. As restrições ao estacionamento e circulação podem entusiasmar lisboetas e portuenses a usar mais vezes os transportes públicos. Os ecopontos e os sítios à sua volta vão deixar de estar nojentos. O prejuízo (37 milhões de euros/dia) provocado pela tolerância de ponto é amortecido pelo incremento do turismo interno. E ficou cientificamente demonstrado que Bento XVI vende pior que João Paulo II. Para conseguir alugar amanhã os quartos com vista para os Aliados, onde o papa vai dar missa, o dono da Pensão Universal teve de baixar o preço para 80 euros. A 300 euros ninguém lhes pegava!
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias
Assim de repente, vejo que aqui pelo Porto já não me restam muitos amigos benfiquistas. O Rogério Gomes fez muito bem em concentrar no Gil Vicente a sua paixão clubística. O Vítor Pinto Basto é um caso à parte, pois simpatiza ao mesmo tempo com águias os dragões – ninguém me tira da cabeça que ela anda a treinar-se para Kofi Annan. O Mário Dorminsky deixou de ligar a futebol. E, com a sabedoria que só pode ter quem passou mais de metade da vida rodeado por milhares de livros, o António Catarino prefere falar de automóveis e rugby.
Há, claro, o Aníbal Campos, que é daqueles benfiquistas irredutíveis e com pedigree, ao ponto de também sofrer pelo Real Madrid, mas a esse já não o vejo há uma data de tempo – com grande pena minha.
Um jogo entre Porto e Benfica é mais ou menos como as férias, em que o divertimento tem três andamentos: a excitação da preparação, o saborear das férias propriamente ditas e o prazer de as relatar.
Como não tenho benfiquistas por perto, o meu divertimento no antes do derby resume-se a sentir à distância, via Media, o cheiro a medo e a nervosa ansiedade que transpira dos benfiquistas, já convencidos que, uma vez mais, a sua equipa se vai esgotar no papel de segunda lebre da Liga (a principal é, este ano, o Braga), que parte entusiasmada no Verão, ganha velocidade no Outono, desacelera no Inverno e desiste na Primavera.
Está cada vez mais curto o prazo de validade dos factos políticos e desportivos. Três meses depois de se ter enfiado num buraco, por causa das alegadas escutas de que estava a ser alvo (afinal, vai-se a ver, e o escutado era o outro…), Cavaco já se sente com a cabeça fora de água e promoveu o amigo Lima.
Os meus amigos portistas, que há coisa de um mês receavam que hoje nos pudesse acontecer uma coisinha má, andam felizes da vida a recordar a proeza do Lemos – que numa época marcou seis golos (quatro nas Antas e dois na Luz) ao Benfica de Eusébio – e os saudosos cinco secos aplicados na Supertaça, em casa do adversário. Nestes tempos difíceis é enorme a volatilidade dos estados de alma.
Hoje à noite, no durante, o que me dará mais gozo, para além da convincente vitória azul e branca, será ver como as equipas, que desembarcam em campo (será mesmo relvado?) com um plano de batalha definido ao pormenor com régua e esquadro, vão reagir às contrariedades, com um golo madrugador de Hulk, a expulsão anunciada do David Luiz ou a confirmação da lesão de Aimar.
Depois - os meus amigos benfiquistas conhecem-me – a minha vaidade será demonstrar, uma vez mais, quão competente sou a fazer o mais difícil, que é saber ganhar.
O champanhe será bebido em privado, com os meus amigos portistas. Como sempre, irei abster-me do mau gosto de perturbar o luto dos meus amigos benfiquistas com SMS gozonas, telefonemas achincalhantes, tuítes ácidos ou bocas foleiras no FB.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
O Benfica é um clube quase perfeito. Tudo corre às mil maravilhas até que, após o arrepiante voo da águia Vitória ao som do hino de Luís Piçarra, o árbitro apita para iniciar o jogo. Se não fossem esses malditos 90 minutos, o Benfica seria um clube perfeito.
Nunca me há-de deixar de surpreender a imensa generosidade dos adeptos que, entusiasmados, lotaram a Luz na última jornada da Liga 2007-08, agarrando-se ao pretexto da despedida de Rui Costa para fazerem uma grande festa – apesar de terem ficado em 4º lugar a 20 pontos do FC Porto.
Não posso deixar de admirar a fé e o espírito “para o ano é que vai ser” com que metade dos meus compatriotas vibra com a precoce pré-época 2009/10, iniciada em Abril nas capas da Bola e do Record, onde desfilam nomes e fotos de eventuais reforços – apesar do Porto ir conquistar o quarto título consecutivo e o Benfica ir voltar a ficar de fora da Champions.
O Benfica ganha poucos títulos no relvado mas é o campeão nacional das receitas neste negócio do futebol onde a emoção goleia sempre a razão.
A TMN fez um acordo com Porto (Plano Dragão) e Benfica (Benfica Telecom) oferecendo condições vantajosas aos sócios destes dois clubes.
A Benfica Telecom vende dez vezes mais minutos que o Plano Dragão, apesar de a desproporção entre os adeptos dos dois clubes estar muito longe de ser de um para dez.
A Repsol fez um acordo simétrico com Porto e Benfica, oferecendo um desconto aos sócios dos dois clubes. Em 2008, vendeu 18 milhões de litros a benfiquistas e quatro milhões de litros a portistas.
Desde que os italianos da Parmalat se deram mal a Norte por patrocinarem as camisolas do Benfica, todas as marcas que se associaram ostensivamente ao futebol (BES e PT) optaram, prudentemente, por investir nos três grandes.
O abandono do BES, fez com que o campo de batalha entre as cervejeiras se estendesse das Queimas das Fitas, restaurantes e prateleiras de supermercados até às camisolas de Porto, Benfica e Sporting.
A Central de Cervejas arriscou associar a Sagres ao Benfica, convencida que obterá um efeito idêntico à Siemens Mobile, que desde que está nas camisolas do Real Madrid quadruplicou as vendas em Castela, sem sofrer estragos de maior na Catalunha. A Unicer contra-atacou ficando com Porto e Sporting.
Esta movimentação faz com que o principal motivo de suspense para a próxima época seja o de apurar se os benfiquistas vão deixar de beber Super Bock, já que tudo indica que os dragões façam o seu segundo penta – e que o grande momento de emoção nos jogos na Luz continue a ser quando o Mantorras se levanta do banco, despe o fato de treino e começa a aquecer.
Isto não é um cachimbo!É uma provocação aos seis milhões de compatriotas que andam pelas raus tristes e ensimesmados e que deixaram de falar de futebol, apesar de no último fim-de-sema a coisa ter ganho um tudo nada de animação.
É uma provocação clara, sem espinhas, mas uma provocação com a atenuantedas evidentes preocupações ambientais que encerra, atendendo ao apelo subjacente na graçola à separação dos lixos com o objectivo de potenciar a reciclagem.
Esta imagem de um Ecoponto foi-me enviada por mail pelo bussolista Mário Rui Cruz, velha (estou a exagerar, ao fim e ao cabo ele está muito bem conservado para idade)glória do FC Porto – foi tantas vezes campeão nacional de voleibol pelo nosso clube que ganhou direito a entrada gratuita vitalícia no Dragão.
Não resisti a partilhar com a piada anti-benfiquista do Ecoponto com todos os bussolistas, por duas ordens de razões:
1.Potenciar a troca de palavras insultuosas entreportistas e lampiões, o que ao mesmo tempo que aumenta a audiência do blogue lhe possibilite manter a fama de ter uma caixa de comentários pedir meças aos escritos nas paredes das casas de banho públicas;
2.Aligeirar as minhas participações na Bússola que têm assumido a forma de editoriais longos e um tudo nada maçadores, apesar de bem escritas e com opiniões desempoeiradas e justas.
Estão a ver este simpático casal da foto? São dona Cecy e seu Benjamim, brasileiros de Passo Fundo, uma pequena localidade que dista 287 quilómetros de Porto Alegre, a capital de Rio Grande do Sul.
A vida tem destas coisas. Um casal tão amoroso que, sem querer, acabou por trazer ao Mundo uma personagem tão irritante e abrasivo como Luiz Felipe Scolari.
Tivessem dona Cecy e seu Benjamim um televisor em casa e com os serões gaúchos animados pelas divertidas telenovelas da Globo muito provavelmente não teriam filhos e nós seríamos poupados à enorme maçada de aturar Scolari.
Mas o que está feito, está feito. Como dizem os nossos irmãos brasileiros, não vale a pena chorar sobre leite derramado. Temos de olhar em frente.
E olhar em frente significa neste particular preocuparmo-nos com o que é que o seleccionador nacional de futebol de onze vai fazer depois do Euro 2008 (dando de barato que se aguenta ao balanço até lá).
Numa prova inequívoca de que não guardo rancor ao filho de dona Cecy e seu Benjamim, passo a equacionar as cinco mais prováveis e melhores saídas profissionais que ele terá ao seu dispor, apondo-lhe uma notação pessoal (quantos mais sinais de +, maior o entusiasmo com que encaro cada opção).
1.Treinar a Inglaterra + + +
Good. Seria a nossa vingança por um cortejo de humilhações iniciado com o Ultimatum que frustrou o nosso sonho do Mapa Cor de Rosa, continuou com o despedimento de Mourinho e se mantém com as bocas foleiras que os tablóides teimam em dizer da PJ a propósito do desaparecimento da Maddie.
Exportar o Big Phil teria a vantagem de alargar à velha e loira Albion o culto da Nossa Senhora do Caravaggio e permitiria à selecção portuguesa prescindir dos serviços de Ricardo.
Com Felipão no comando, a Inglaterra falharia com toda a certeza o apuramento para o Mundial 2010 e assim nós poderíamos dispensar um guarda redes que a única coisa que sabe fazer de jeito é defender penaltis dos bifes;
2.Treinar o Benfica + + + + +
É a minha saída preferida. De longe. Para o próprio apresenta a não negligenciável vantagem de não precisar de continuar a disfarçar o ódio visceral que nutre pelo FC Porto. Para nós, portistas, teria a enorme vantagem de acelerar e tornar irreversível o processo de belenensização do Benfica.
Reconheço que poderia ser mau para o culto, em Portugal, da Nossa Senhora do Caravaggio, e para o orçamento do Ministério da Saúde, pois obrigaria os seis milhões de benfiquistas a despesas suplementares na farmácia, para aviar as receitas de Prozac.
3.Treinar a selecção nacional de futsal+ +
Esta opção encerra inúmeras vantagens e apenas um ou dois inconvenientes, facilmente ultrapassáveis.
O FCP não tem equipa de futsal, o que obrigaria Scolari a eleger outra «bête noir» para estigmatizar – o Freixieiro, por exemplo.
Quanto ao salário, estou em crer que a Caixa Geral de Depósitos não se importará de se chegar a frente, para garantir os 250 mil euros/mês que o filho da dona Cecy e seu Benjamim está habituado a receber.
Estou certo que o Ricardinho e companhia estão doidões para colocarem no balneário uma imagem da Nossa Senhora do Caravaggio. Como agravante, a fraseologia de Scolari já é familiar aos craques de futsal, uma vez que o lema de Orlando Duarte, o actual seleccionador, é: «Não podemos ser burros».
4.Substituir Mário Lino no MOP + + + +
Magnifica solução, apesar de obrigar Sócrates a adiar por um par de meses uma remodelação que estava agendada para a Primavera.
Scolari no Ministério das Obras Públicas era remédio santo. A confusão seria tal que nem sequer a Nossa Senhora do Caravaggio seria capaz de salvar o projecto do novo aeroporto internacional de Lisboa. Nem Ota, nem Alcochete. Nada. Niente. Nicles. Raspas!
5.Dirigir uma fábrica chinesa de Arroiolos falsos + +
Como é excelente a motivar pessoas com reduzida escolaridade e baixo nível cultural, Scolari podia estender à República Popular da China o culto à Nossa Senhora do Caravaggio (que, não sei se sabem, tem como epicentro Farroupilha, localidade que fica da 200 km de Passo Fundo) ao mesmo tempo que convencia as tapeceiras a manterem a cara alegre, em troca de duas tijelas diárias de arroz, enquanto tricotam os 40 mil pontos que são necessários para conseguir um metro quadrado de tapete com a textura típica dos de Arraiolos.
Claro que as enormes capacidades do filho de dona Cecy e seu Benjamim fazem dele um alvo apreciado por qualquer empresa de «head hunting» como, por exemplo a Heidrick & Struggles.
O seleccionador nacional seria de certeza um trunfo valioso se aceitasse ajudar a Associação de Vendedores Ambulantes de Gelados e Castanhas na campanha higiénica que tem em curso e que visa impor aos seus sócios o uso de carrinhos feitos em aço inoxidável e cartuchos próprios para as castanhas (uma dúzia, dois euros, quentes e boas!) em vez dos confeccionados com papel de jornal ou de listas telefónicas.
Estou também certo que com a sua voz de ovelha, Felipão brilharia a grande altura como pastor da IURD ou se abrisse um blogue aqui no Sapo – ou, ainda, se resolvesse tornar-se empresário e fizesse, em sociedade com o reputado criminologista Barra da Costa, uma agência de detectives privados que, com a ajuda da Nossa Senhora do Caravaggio, resolveria o mistério do desaparecimento da Maddie em menos tempo que o Diabo demora a esfregar um olho.
Ao derrotar o Marselha, no Dragão, por 2-1, o FC Porto assumiu a liderança isolada do grupo A da Champions e tem praticamente garantida a passagem à fase seguinte da prova.
Ao perder com o Celtic, em Glasgow, por 1-0, o Benfica isolou-se no último lugar do grupo B e depende de um milagre para poder continuar nas competições europeias.
Ao empatar com o Roma, no Alvalade XXI, por 2-2 o Sporting consolidou o terceiro lugar do grupo F e não deve deixar escapar a qualificção para a Taça UEFA.
Este conjunto de resultados vem provar o que espíritos mais perspicazes já alertavam desde o Prater de Viena, em 1987, o Olímpico de Sevilha, em 2003, e a Arena de Gelsenkirchen, em 2004.
Está à vista de todos. O monstruoso processo Apito Dourado tem ramificações internacionais.
A procuradora geral ajunta Maria José Morgado não pode esperar nem mais um segundo. Tem de avisar a Interpol e denunciar esta medonha conspiração internacional que tem epicentro na mafiosa cidade do Porto!
Metam já (ou pelo menos quanto antes) as palavras chave «fruta» e «café com leite», declinadas em todas as línguas dos países filiados na UEFA, no sistema pan-europeu de escutas telefónicas a árbitros.