Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Um panfleto contra a «cidade museu» a propósito do barulho sobre o Bolhão

 

Num dos agitados jantares que pautaram o parto da Bússola, estava em cima da mesa a escolha do local para o anúncio, «urbi et orbi», da boa nova do nascimento deste blogue.

Três hipóteses foram aventadas:

a)     Durante uma viagem do Metro do Porto até à Póvoa, numa carruagem alugada para o efeito;

 

b)    Num pequeno almoço no «trendy» bar de alterne Calor da Noite;

 

c)     No interior do Mercado do Bolhão.

A maioria escolheu o Bolhão. Assim se fez.

Apresentamo-nos ao Mundo tendo como cenário a fonte central do mercado e como banda sonora o desbocamento das vendedeiras que cravaram beijos ao Juca (acharam-no ainda mais bonito do que na televisão!) e se encostaram, dengosas, aconchegando-se na enorme solidez do Manel Serrão.

Foi um número. Um número já um bocado gasto, mas de sucesso (mediano) garantido. Não é por acaso que os líderes políticos em campanha eleitoral não dispensam a visita ao Bolhão. 

O mercado é colorido e cinematográfico o que, aliado às bocas javardas das vendedeiras (que tratam o vernáculo por tu), garante automaticamente preciosos minutos de televisão nos telejornais. A receita tem-se revelado infalível.

Vem isto a propósito da histeria que se apoderou da cidade a propósito da sábia decisão da Câmara de concessionar o mercado a privados, matando vários coelhos com uma só cajadada – evita que ele venha abaixo e moderniza-o sem ter de nos ir aos bolsos.

A «overdose» de notícias sobre o Bolhão, que infesta as colunas dos jornais e inunda os noticiários televisivos, provocou-me uma alergia ao assunto e impediu-me de me documentar com detalhe sobre o projecto da holandesa TCN.

Mas acompanhei a abertura do dossiê, que já leva alguns anos de existência.

O lançamento concurso público de ideias e projectos para a modernização do Bolhão não mereceu, à época, o mínimo reparo aos «suspeitos do costume»,  uma manada onde se distingue a «dramaturga Regina Guimarães»  - só falta mesmo lá a infatigável Dona Laura da Associação de Comerciantes para o folclore ficar completo.

Dois candidatos (a Amorim Imobiliária e a TCN) apresentaram as suas propostas e ninguém tugiu nem mugiu.

Agora que o processo está concluído e pronto a ir para o terreno, é que os contestatários de aviário despertaram para o assunto e armaram este banzé, um triste «remake» da «rivolização», que os Media, na sua doce incompetência, aceitaram transformar num lamentável Watergate à moda do Porto - num eco regional do massacre mediático proporcionado pelo desaparecimento da pequena Maddie. Um inferno.

Não conheço em pormenor o projecto da TCN para o Bolhão, mas sei que da demolição das velhas Halles, no coração de Paris, só sobreviveu o típico restaurante «Pied de Cochon», aberto 24 horas por dia.

Sei também que o Covent Garden, um velho mercado transformado em galeria comercial, se tornou umas das principais atracções turísticas londrinas, onde se pode beber um Merlot enquanto se ouve um quarteto de cordas a interpretar ao vivo peças clássicas populares – ou presenciar espectáculos de rua de habilidosos malabaristas.

As cidades não são museus. Não podem ser conservadas em formol. Os tempos mudam. Seria uma tolice enorme e um vão esforço tentar transportar intacto até ao século XXI o Porto do passado, dos barcos rabelos, do Aniki Bobó, das casas sem esgotos, das donas de casa a gritarem água vai antes de despejaram os penicos para a rua.

Só os conservadores e reaccionários não compreendem a urgência e inevitabilidade da mudança.

Por norma, as pessoas resistem à mudança. Mário Soares considerou criminosa a decisão de construir o Centro Cultural de Belém, qualificando-a como um atentado ao Mosteiro dos Jerónimos . Está aí alguém que me contesta se eu disser que o CCB valorizou e enquadrou os Jerónimos?

Os pregadores do imobilismo armaram um enorme pé de vento contra o Cubo que José Rodrigues instalou na Praça da Ribeira, recolheram assinatura contra os molhes que protegem a barra do Douro, maldisseram a arquitectura inovadora e arrojada de Koolhas na Casa da Música e agora protestam contra a largura projectada para a Via Nun’Álvares que ligará a praça do Império à avenida da Boavista.

Os conservadores contestatários não se incomodaram enquanto o belíssimo Palácio do Freixo fenecia.  Só despertaram para o destino desta jóia de Nicolau Nasoni quando a Câmara negociou com o grupo Pestana a instalação de uma Pousada de Portugal neste palácio, o que não só permite a sua recuperação e alindamento como dota a cidade de mais um importante trunfo para a atracção de turistas.  

Quer-me parecer que se as cassandras catastrofistas mandassem,  haveria uma feira de gado na praça D. João I, um mercado de cavalos nos Poveiros,  a feira do pão na Praça de Lisboa – e a árvore da forca na Cordoaria.

Acordem! Os centros comerciais e os hipermercados são as novas feiras. Aceitem a mudança. Não sejam ridículos a tentar fazer frente aos ventos dos novos tempos que sopram.

Rui Rio está certo ao recorrer aos privados para tentar recuperar espaços e equipamentos importantes para a cidade e que estão degradados, como o Bolhão, a praça de Lisboa, o Ferreira Borges, o Rosa Mota ou o Bom Sucesso.

Compete aos cidadãos do Porto participar activamente na discussão pública dos projectos apresentados pelos privados, uma atitude de vigilância para garantir a qualidade destas intervenções e a transparência dos contratos de concessão.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

PS. Foi minha a proposta vencida que sugeria que a Bússola fosse anunciada durante uma vigem do Metro. Gosto de olhar para a frente. Adoro a História - mas o passado só me interessa para me ajudar a  perceber o presente e melhor me preparar para o futuro.

 

Bolhão de ar fresco

                                        

 

   Leio nos jornais de hoje a preocupação crescente com o futuro do mercado do Bolhão. Uma petição já está em andamento e algumas figuras desdobram-se em depoimentos contra o futuro daquela referência da cidade. Uma delas é Siza Vieira que, cito  "teme que seja um desastre o futuro do mercado do Bolhão".

 

   Não sou ninguém para criticar Siza Vieira, não percebo nada de arquitectura e as obras que s ão feitas aprecio-as da mesma maneira que o faço com o vinho:   se me sabe bem, gosto, mesmo que custe cinco euros a garrafa, se me sabe mal, não gosto mesmo que o custo da garrafa ande pelos 40 euros.

 

   Com as obras arquitectónicas passa-se o mesmo: se visualmente gostar acho óptimas, caso contrário, por muitas justificações que me ofereçam , não vale a pena porque não gosto.

 

   Sinceramente não sou um apreciador das obras de Siza Vieira. Respeito o prestigio que tem mas não temos todos que gostar da mesma coisa.

 

    Na arquitectura parece haver uma corrente concentrado em três ou quatro arquitectos a quem são atribuídas quase todas as grandes obras, deixando pouco espaço para muitos arquitectos , na maioria jovens carregados de criatividade e bom senso. Então da parte de Câmaras Municipais nem se fala na tentação que existe para dizerem que os arquitectos de determinadas obras são dois ou três mais referenciados.

 

   Sinceramente sou a favor da requalificação que está prevista para o mercado do Bolhão. Em, primeiro lugar porque oferece um futuro a um edifício que está a cair aos bocados, velho e degradante . Depois porque prevê o regresso das tradicionais vendedoras agora em condições que nunca tiveram. Depois porque vai ter espaços comerciais e, a par disso parque de estacionamento e habitações, mantendo a fachada original.

 

   Quem percorrer as grandes cidades percebe que os "shoppings" e os espaços comerciais fazem parte da vida dos centros históricos.

 

    Com o devido respeito pelo arquitecto Siza Viera, desastre foi mesmo a transformação da Avenida dos Aliados num imenso deserto, mais parecido com um aeroporto do que com um jardim com carácter como era o que existia. Um projecto pensado e assinado pelo próprio e Souto Moura.

 

    Eu não assino a petição contra a qualificação pensada para o mercado do Bolhão

 

 

 Um abraço a todos

 

Saudações

 

 

 

 

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub