É muito pouco variada a paleta de preferências alimentares do meu filho João, que vai fazer 11 anos. Por ele, só comia McDonald’s, Pizza Hutt, salsichas com batatas fritas, porco preto com feijão e arroz, ovos estrelados e nachos. Pouco mais. Verduras ou peixe? Começa logo a resmungar só de ouvir falar deles.
Quase todas as crianças são assim. Compete-nos educá-las para terem uma dieta saudável, nunca desistindo de as desafiar a experimentarem novos sabores. Ao fim e ao cabo, antes de meter pela primeira vez à boca nachos com guacamole (e extra queijo), o João nunca poderia saber que ia adorar este clássico da cozinha tex-mex.
É claro que dá muito trabalho estar sempre a tentar convencer a generalidade da pessoas, sejam crianças ou adultos, a darem uma oportunidade ao novo, desobedecerem à rotina e a não fugirem da diferença.
Um crítico musical (cujo nome lamentavelmente não fixei) deu recentemente um exemplo luminoso dos malefícios do conservadorismo ao escrever que as obras de Mahler começaram sempre por ser mal recebidas, o que era um bom sinal porque o público apenas gosta do que já gostou e só quer o que já quis.
Basta andar pela rua e olhar para a cor dos carros (98,9% são cinzentos, brancos ou pretos) para tirar a prova dos nove deste espírito de rebanho, a que alguns chamam de moda e que, só para citar mais um exemplo, levou 78,9% das mulheres (estimativa conservadora) a, de um momento, passarem a usar as calças dentro das botas e a pintarem as unhas.
“Dar palha ao animal” é a expressão que sintetiza esta atitude conservadora, que é a regra número 1 do manual de sobrevivência da multidão de yesmen e yeswomen que povoa as empresas. Se o chefe quer assim, faz-se assim. Se a coisa der para o torto, a culpa é dele. Para quê perder tempo e arranjar chatices a contrariá-lo e explicar-lhe o nosso ponto de vista?
O drama das democracias é que o conceito de “dar palha ao animal”, de dar às pessoas o que elas gostam, mesmo que achemos que elas estão erradas, passou a fazer parte do catecismo político-partidário.
A incompetência dos políticos gerou a vitória da economia e levou os chefes partidários a adoptarem a gramática empresarial e travestirem-se em marketeiros. O eleitor foi transformado em cliente, que tem sempre razão. Ideias e convicções? Isso não interessa para nada. O que importa é dizer-nos o que as sondagens e focus group garantem que nós queremos ouvir. O lucro são os votos. Para ganharem a 5 de Junho, Sócrates e Passos vão a dar-nos fardos da palha de que acham que gostamos.
É triste concluir que Vítor Bento tem razão quando disse que “quem governa bem não ganha eleições”. É triste ser tratado como consumidor – e não como cidadão.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada o Diário de Notícias
Tenho uma enorme simpatia pelos burros. Não exactamente pelos meus concidadãos desprovidos de inteligência, mas pelos animais propriamente ditos. Gosto de os ouvir zurrar e do seu aspecto pachorrento.
Persistente, trabalhador e capaz de se adaptar a meios adversos, o burro está pouco conceituado em Portugal, mas nos Estados Unidos é o símbolo dos Democratas, sendo corrente, nos estados por eles governados, ver nos vidros dos carros um autocolante com a imagem de um burro montado num elefante, o animal que representa os Republicanos.
Sei de alguns algarvios que não têm nada de burros e vivem às custas do burro, que entre nós é um animal subsidiado. O que o Estado português paga anualmente ao dono, chega para o alimentar, sobrando ainda um pequeno lucro que é engordado no Verão, através da venda a turistas alemães de passeios de burro na Costa Vicentina.
Vem esta algaraviada a propósito de uma folha A4 policopiada, que nos anos 70 estava afixada um pouco por toda a parte, de mercearias a repartições públicas, em que a frase tese “Cooperação? Até os burros compreendem” era demonstrada com auxílio de uma banda desenhada em que dois burros, atados um ao outro, percebiam que, se cada um puxasse para o seu lado, não iriam a lado nenhum.
Em Paredes, algures no coração da região mais jovem do país (Vale do Sousa) onde está 80% da indústria de mobiliário, um empresário chamado António Augusto Rocha em boa hora descobriu uma alternativa à luta inglória para ter preços para fornecer a Ikea e especializou a sua Móveis Viriato num nicho de mercado: a indústria hoteleira. Vende primeiro e depois fabrica soluções personalizadas aos cerca de 50 hotéis cinco estrelas de cadeias como a Meridien, Hilton, Radisson, Pestana, Renaissance ou Club Med que, em média, equipa todos os anos.
Logo a abrir este 2010, António Rocha deu-nos a boa notícia da constituição da hi.Global, empresa em que estão associadas oito fabricantes portugueses. A ideia é que os hotéis a quem a Moveis Viriato fornece camas, cadeiras, armários, candeeiros, cortinados e candeeiros passem a adquirir uma solução local portuguesa, incluindo alcatifas da Lusotufo, revestimentos cerâmicos da Recer, torneiras e fechaduras da Cifial, revestimentos de cortiça da Amorim, louça de porcelana da Costa Verde, têxteis lar da Lasa e colchões da Molaflex.
Nenhuma destas empresas é visita frequente das páginas da imprensa económica, que se deixa encandear pelas EDP, GALP, PT e bancos, convencida de que a economia portuguesa é o PSI 20 e o resto é paisagem. Já agora, e por falar em burros, cooperação e grandes empresas, alguém é capaz de me explicar direitinho por que é que a Zon e a Soanecom ainda não fundiram?
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
As coisas nunca correm normalmente a Scolari no Estádio do Dragão. Por mim até acho que, estrategicamente, o Sargentão esteve bem durante o jogo. No fim fez um número que já conhecemos, daqui e do Brasil, que não o engrandece nada. Pelo contrário, o homem, como lhe chama o Cristiano Ronaldo, já não tem idade para fazer certas figurinhas e dizer: "E o burro sou eu né?".
Bom, o empate com a Finlãndia não foi brilhante, mas apesar de tudo a coisa foi-se compondo.
O que não se compreende é a RTP. Segundo informação de um dos bloguistas bem relacionados com a RTP; a estação pública de televisão tinha menos meios neste último e decisivo jogo no Dragão, do que no sábado passado em leiria. Os profissionais tiveram que improvisar algumas vezes. Mas lá que é estranho, é.